O Que é Teocracia Bíblica
“O SENHOR tem estabelecido o Seu trono nos Céus, e o Seu Reino domina sobre tudo.”
(Salmos 103:19).
Deus É o soberano governante de todas as coisas: “O SENHOR tem estabelecido o Seu trono nos Céus, e o Seu Reino domina sobre tudo.” (Sl 103:19). A reivindicação de um governo universal por Deus deve-se ao fato Dele existir antes de todas as coisas (Jo 1:1-2), ser o Criador (Jo 1:3), Ordenador (Is 46:10) e Sustentador de tudo (Cl 1:17), e ser a única fonte de justiça (Sl 89:14) e bondade (Lc 18:19). Todas as coisas, portanto são em todos os aspectos propriedade de Deus (Sl 24:1-2; cf. Rm 9:20-23; Is 10:15). O governo soberano de Deus sobre todas as coisas é o ponto de partida para a teocracia bíblica.
O significado básico de teocracia é “governo de Deus”. O termo é derivado das palavras gregas “theos”, significando Deus, e “kratos”, significando poder, força ou governo. No primeiro século, Josefo, o famoso historiador judeu, cunhou a palavra “teocracia” e definiu-a como “colocar toda soberania e autoridade nas mãos de Deus” (Against Apion, 2.164-165) [1]. Embora a palavra teocracia não esteja na Bíblia, de capa a capa o seu significado é ensinado de maneira clara: Deus governa sobre tudo.
“Teocracia” pode ser entendida em contextos diferentes. Ela pode descrever a realidade do governo de Deus sobre todas as coisas (Dn 4:17; Mt 28:18). Pode também descrever o reconhecimento por parte do homem desse governo divino sobre todas as coisas (Pv 3:6; Sl 2:11-12).
Com respeito ao último sentido, que teocracia requer o reconhecimento do governo total de Deus, a teocracia bíblica começa com o indivíduo, isto é, a conversão do coração a Cristo (Ez 36:27). A teocracia de um cristão então começa na esfera do autogoverno. Visto que do coração “procedem as fontes da vida” (Pv 4:23), a partir do autogoverno, a teocracia de um cristão naturalmente flui para outras esferas de governo sob o governo de Cristo, incluindo a família, a Igreja e o Estado.
Visto que Cristo é o Cabeça de todas as esferas de governo, nenhuma esfera pode exercer monopólio de poder sobre outra, elas são restringidas pelo poder e autoridade de Cristo. Dessa forma, embora os poderes delas se sobrepõe em alguns aspectos, nem a família nem a Igreja têm a permissão de ter um controle autoritário sobre a outra. Deus É soberano sobre ambas. O mesmo conceito se aplica à Igreja e ao Estado: cada um responde a Deus como sua autoridade suprema, e não um ao outro.
É nesses dois pontos - a natureza ascendente (de baixo para cima) da teocracia e a separação da Igreja e Estado - que muitos se confundem. Com respeito ao primeiro, uma razão pela qual os humanistas temem a teocracia é por causa da mentalidade totalitária deles: eles pensam que a visão deles, de que a sociedade muda somente via condicionamentos que partem do Estado, de cima para baixo, é partilhada pelos cristãos, os quais são vistos como competidores que apresentam uma forma rival de “imposicionalismo”.
Para o secularista, a ameaça vinda da teocracia é simbolizada pela entronização dos Dez Mandamentos num tribunal, escola ou lugar público. É por isso que eles veem a remoção do monumento do Juiz Roy Moore como uma vitória para o movimento de resistência à teocracia. Contudo, a teocracia é antes de tudo a entronização da Lei de Deus no coração do crente, visto que todos os mediadores humanos, quer na Igreja ou no Estado, são removidos e o governo direto de Deus é colocado sobre o homem que se governa. A teocracia não é vindoura. Ela já está aqui! Em minha casa, relacionamentos e trabalho, eu não funciono em termos de democracia, oligarquia, monarquia, socialismo ou comunismo. Em todas as áreas da vida devo ser governado pelo governo direto de Deus (theos-kratos), através de Sua Lei escrita em meu coração e mente [2].
O humanismo, sendo uma cosmovisão que começa com o homem caído e pecador, não entende a transformação de baixo para cima, pois não entende o autogoverno (Rm 8:7; Gn 6:5). Embora a Lei de Deus prescreva de cima para baixo, a sociedade deve abraçar esta Lei de baixo para cima via regeneração pelo Espírito Santo. Quando isso acontece, uma teocracia nacional naturalmente se desenvolve onde a “Lei revelada de Deus é suprema sobre todas as leis humanas, e é a fonte de todas as leis” [3].
Ao rejeitar o controle soberano de Deus sobre a sociedade - incluindo o Seu controle sobre o coração dos homens regenerados - o humanismo tenta preencher o vazio da soberania, tentando o controle soberano do coração e ação dos membros da sociedade por meio da espada do Estado. Assim, de maneira não surpreendente, quando alguém menciona o governo na sociedade humanista de hoje, já se pensa instintivamente no Estado. Tal pensamento, por desconsiderar outras formas de governo, é “implicitamente totalitário” [4].
Não devemos pensar no Estado como a única forma de governo, mas é isso o que a nossa sociedade faz; ela espera que o Estado governe as outras esferas de governo (família, Igreja e indivíduo) [5].
Por contraste, uma teocracia bíblica irá naturalmente promulgar leis a partir da Bíblia, mas contrário aos temores humanísticos, tal sociedade é a única que não seria tirânica, visto que é a única sociedade possível que prioriza a regeneração, não a coerção [6].
E assim, enquanto o humanismo impõe os seus ideias de cima para baixo, com espada e por meio de um Estado totalitário, a teocracia bíblica impõe os seus ideais primariamente de baixo para cima, isto é, por meio de corações em submissão direta a Cristo.
[1] Gary Demar, America’s Christian History: The Untold Story (Powder Springs, GA: American Vision Inc., 2007), 207, 208.
[2] Christopher J. Ortiz, “Theocracy Now!” Faith for all of Life, May/June 2007, 9.
[3] Joe Morecraft III, With Liberty & Justice For All: Christian Politics Made Simple (Sevierville, TN: O. Press, 1991), 68.
[4] R.J. Rushdoony, God’s Law and Society: Foundations in Christian Reconstruction, Jay Rogers, ed. (Melbourne, FL: J.C. Rogers Production, 2006), 35. Acessado em 5 de maio de 2008, from http://forerunner.com/law/glsbook.pdf.
[5] Rushdoony descreve as alternativas humanista/cristã como “revolução ou regeneração”, respectivamente. Rousas John Rushdoony, The Roots of Reconstruction (Vallecito, CA: Ross House Books, 1991), 426.
[6] Os humanistas liberais são mais consistentes em ver o Estado como “o governo”, já que defendem que tudo é um produto do meio, e, portanto, é o trabalho do Estado produzir o meio ideal, coagindo com a espada (i.e., governando o comportamento de) a família, igreja e o indivíduo (i.e., as outras esferas de governo). O governo de baixo para cima é impossível nessa visão, visto que o meio é externo ao indivíduo.
Extraído de: God is Just: A Defense of the Old Testament Civil Laws, p. 13-16.
Fonte: Internautas Cristãos (adaptado).
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