Aspectos Políticos da Reforma Protestante
“Disse
Daniel: Seja bendito o nome de Deus, de eternidade a eternidade, porque dEle é
a sabedoria e o poder; é Ele Quem muda o tempo e as estações, remove reis e
estabelece reis; Ele dá sabedoria aos sábios e entendimento aos inteligentes.
Ele revela o profundo e o escondido; conhece o que está em trevas, e com Ele
mora a luz.” Daniel 2:21.
“Calvinismo”,
por: Abraham Kuyper
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O Calvinismo se Estende Além do Aspecto
Religioso
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A Visão Abrangente da Soberania de Deus
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O Pecado e a Ordem Política
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A Fonte de Autoridade
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Democracia – Uma Graça de Deus
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Os Três Deveres das Autoridades nas Coisas Espirituais
Sobre o
autor - Dr. Abraham Kuyper (1837-1920)
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Nascido na Holanda em 1837
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Teólogo e filósofo calvinista
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Líder de um dos principais partidos da Holanda
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Membro do Parlamento por mais de 30 anos
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Primeiro Ministro da Holanda de 1901 a 1905
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Editor de dois jornais cristãos por mais de 45
anos
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Fundador da Universidade Livre de Amsterdã,1880
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Administrador e professor dessa universidade
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Autor de mais de 200 volumes de substância
intelectual
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Destaques: “Enciclopédia de Teologia Sagrada”, “A
Obra do Espírito Santo”, “Estar Próximo a Deus”, “Calvinismo” – série de
palestras na Universidade e Seminário de Princeton (New Jersey, EUA), 1898.
Magistrado -
Indivíduo investido de importante autoridade, que se exerce nos limites de uma
jurisdição, com poder para julgar e mandar, que participa da administração
política ou que integra o governo político de um Estado, como, por exemplo, os
membros dos tribunais e das cortes, prefeito, presidente, governador,
vereadores, senadores, deputados, etc.
O Calvinismo
se Estende Além do Aspecto Religioso
O Calvinismo
Abrange o Conceito de Estado
Minha
terceira palestra deixa o santuário da religião e entra no campo do Estado – a
primeira transição do círculo sagrado para o campo secular da vida humana.
Agora, entretanto, passaremos sumariamente e em princípio a combater a sugestão
não histórica de que o Calvinismo representa um movimento exclusivamente
eclesiástico e dogmático. O impulso religioso do Calvinismo também tem colocado
debaixo da Sociedade política uma concepção fundamental toda própria dele,
precisamente porque ele não apenas podou os ramos e limpou o tronco, mas
alcançou a própria raiz de nossa vida humana. Que isto deveria ser assim
torna-se imediatamente evidente a todos que são capazes de apreciar o fato de que
nenhum esquema político jamais se tornou dominante a menos que tenha sido
fundado numa concepção religiosa específica ou numa concepção anti-religiosa. E
que este tem sido o fato com relação ao Calvinismo, pode evidenciar-se pelas
mudanças políticas que produziu naquelas três terras de liberdade política
histórica, a Holanda, a Inglaterra e a América.
Calvinismo e
Liberdade
Todo
historiador competente, sem exceção, confirmará as palavras de Bancroft: “O
fanático pelo Calvinismo era um fanático por liberdade, pois na guerra moral
pela liberdade, seu credo era uma parte de seu exército, e seu mais fiel aliado
na batalha.” E Groen van Prinsterer o expressou da seguinte forma: “No
Calvinismo encontra-se a origem e a garantia de nossas liberdades constitucionais.”
Que o Calvinismo tem levado a lei pública a novos caminhos, primeiro na Europa
Ocidental, então nos dois Continentes, e hoje mais e mais entre todas as nações
civilizadas, é admitido por todos os estudantes científicos, se não ainda plenamente
pela opinião pública.
A Visão
Abrangente da Soberania de Deus
Mas, para o
propósito que tenho em vista, a simples afirmação deste importante fato é
insuficiente. A fim de que a influência do Calvinismo em nosso desenvolvimento
político possa ser sentida, deve ser demonstrado por quais concepções políticas
fundamentais ele tem aberto a porta, e como estas concepções políticas nascem
de seu princípio radical. Este princípio dominante não era, soteriologicamente,
a justificação pela fé, mas, no sentido cosmologicamente mais rude, a Soberania
do Deus Triuno sobre todo o Cosmos, em todas as suas esferas e reinos, visíveis
e invisíveis. Uma soberania primordial que irradia-se na humanidade numa
tríplice supremacia derivada, a saber, 1. A Soberania no Estado; 2. A Soberania
na Sociedade; e 3. A Soberania na Igreja.
Tríplice
Entendimento da Soberania Abrangente
Permitam-me
demonstrar este assunto em detalhes mostrando a vocês como esta tríplice
Soberania derivada foi entendida pelo Calvinismo.
A Soberania
no Estado (pólis) - “Pólis” (πόλις) = cidade, estado, sociedade
Então, uma
primeira Soberania derivada nesta esfera política, a qual defini como o Estado.
E portanto, nós admitimos que o impulso para formar estados nasce da natureza
social do homem, a qual já foi expressa por Aristóteles quando ele chamou o
homem de um “zvou politixo¢n" - (ser político). Deus poderia ter criado os
homens como indivíduos separados, estando lado a lado e sem conexão
genealógica. Assim como Adão foi criado separadamente, o segundo e terceiro e
assim por diante, cada homem poderia ter sido chamado a existência
individualmente; mas este não foi o caso.
A Unidade da
Raça Humana
O homem é
criado do homem, e em virtude de seu nascimento ele está organicamente unido a
toda raça. Nós formamos juntos uma humanidade, não somente com aqueles que
estão vivos atualmente, mas também com todas as gerações antes de nós e com
todas aquelas que virão depois de nós, embora possamos estar pulverizados em
milhões. Toda a raça humana é de um mesmo sangue. A concepção de Estados,
contudo, que subdivide a terra em continentes, e cada continente em nacos, não
se harmoniza com esta idéia. Então a unidade orgânica de nossa raça somente
seria realizada politicamente se um Estado pudesse abraçar todo o mundo, e se toda
a humanidade estivesse associada em um império. Se o pecado não tivesse
ocorrido, sem dúvida este mundo realmente teria sido assim. Se o pecado, como
uma força desintegradora, não tivesse dividido a humanidade em diferentes
seções, nada teria estragado ou quebrado a unidade orgânica de nossa raça. E o
erro dos Alexandres, dos Augustos e dos Napoleões, não foi que eles foram
seduzidos com o pensamento do Império Mundial Único, mas sim que eles se
esforçaram para concretizar esta idéia embora a força do pecado tivesse
dissolvido nossa unidade.
O Pecado e a
Ordem Política
Pois, de
fato, sem pecado não teria havido magistrado, nem ordem do estado; mas a vida
política em sua inteireza teria se desenvolvido segundo um modelo patriarcal da
vida de família. Nem tribunal de justiça, nem polícia, nem exército, nem
marinha, é concebível num mundo sem pecado; e se fosse para a vida desenvolver
a si mesma, normalmente e sem obstáculo de seu próprio impulso orgânico,
conseqüentemente toda regra, ordenança e lei caducaria, bem como todo controle
e afirmação do poder do magistrado desapareceria. Quem une onde nada está
quebrado? Quem usa muletas quando as pernas estão sadias?
Autoridade x
Liberdade
Toda
estrutura do Estado, toda afirmação do poder do magistrado, todo meio mecânico
de obter pela força a ordem e garantir um curso seguro de vida é, portanto,
sempre algo artificial; algo contra o que as aspirações mais profundas de nossa
natureza se rebelam; e que, exatamente por causa disto, pode tornar-se a fonte
tanto de um terrível abuso de poder por parte daqueles que o exercem, quanto de
uma revolta contínua por parte da multidão. Assim, originou-se a batalha dos
séculos entre Autoridade e Liberdade, e nesta batalha estava a própria sede
inata pela liberdade, a qual revelou-se o meio ordenado por Deus para refrear a
autoridade onde quer que ela tenha se degenerado em despotismo. E deste modo
toda verdadeira concepção sobre a natureza do Estado e sobre a adoção da
autoridade pelo magistrado, e por outro lado, toda verdadeira concepção sobre o
direito e o dever do povo de defender a liberdade, depende do que o Calvinismo
tem colocado aqui no primeiro plano como a verdade primordial – que Deus tem
instituído os magistrados por causa do pecado.
Os Dois
Lados do Estado
Neste único
pensamento está escondido tanto o lado-claro quanto o lado sombrio58 da vida do
Estado. O lado-sombrio desta grande quantidade de estados não deveria existir;
deveria haver apenas um império mundial. Estes magistrados governam
mecanicamente e não estão em harmonia com nossa natureza. E esta autoridade de
governo é exercida por homens pecadores, e por isso está sujeita a todo tipo de
ambições despóticas. Mas o lado-claro também, por uma humanidade pecaminosa,
sem divisão de estados, sem lei e governo e sem autoridade governante, seria um
verdadeiro inferno sobre a terra; ou ao menos uma repetição daquilo que existiu
sobre a terra quando Deus afogou a primeira raça degenerada no dilúvio.
Portanto, o Calvinismo tem, através de sua profunda concepção do pecado,
exposto a verdadeira raiz da vida do estado, e nos tem ensinado duas coisas:
primeira – que devemos agradecidamente receber da mão de Deus a instituição do
Estado com seus magistrados como meio de preservação agora, de fato,
indispensável. E por outro lado também que, em virtude de nosso impulso
natural, devemos sempre vigiar contra o perigo que está escondido no poder do
Estado para nossa liberdade pessoal.
O Estado, o
Povo e Deus (Is 40:15)
Mas o
Calvinismo tem feito mais. Ele também nos ensina que na política o elemento
humano – aqui o povo – não pode ser considerado como a coisa principal, de modo
que Deus seja forçado a ajudar este povo somente na hora de sua necessidade;
mas pelo contrário que Deus, em sua Majestade, deve brilhar diante dos olhos de
cada nação, e que todas as nações juntas devem ser consideradas diante dele
como uma gota num balde e como o pó fino das balanças. Desde os confins da
terra Deus intima todas as nações e povos diante de seu trono de julgamento,
pois ele criou as nações. Elas existem por ele e são sua propriedade. E por
isso todas estas nações, e nelas a humanidade, devem existir para sua glória e
consequentemente segundo suas ordenanças, a fim de que sua sabedoria divina
possa brilhar publicamente em seu bem-estar, quando elas andam segundo suas
ordenanças.
O Pecado e a
Necessidade de Ordem
Portanto,
quando a humanidade desintegra-se por causa do pecado numa multiplicidade de
povos separados; quando o pecado, no seio destas nações, separa os homens e os
arrasa, e quando o pecado revela-se em todo tipo de vergonha e iniquidade – a
glória de Deus exige que estes horrores sejam refreados, que a ordem retorne a
este caos, e que uma força compulsória, de fora, faça-se valer para tornar a
sociedade humana uma possibilidade. Este direito é possuído por Deus, e somente
por ele. Nenhum homem tem o direito de governar sobre outro homem, do contrário
um direito como este necessária e imediatamente torna-se o direito do mais
forte. Como um tigre na selva governa sobre o indefeso antílope, assim nas
margens do Nilo um Faraó governou sobre os progenitores dos camponeses do
Egito. Tampouco um grupo de homens pode, por contrato, de seu próprio direito
constranger você a obedecer um semelhante. Que força obrigatória há para mim
numa alegação de que épocas antes um de meus progenitores fez um “Contrato
Social” com outros homens daquele tempo? Como homem eu continuo livre e
corajoso, em oposição ao mais poderoso de meus semelhantes. Não falo da
família, pois aqui governam laços orgânicos, naturais; mas na esfera do Estado
não cedo ou me curvo a qualquer um que é homem como eu sou.
A Fonte da
Autoridade
Romanos
13:1-7; Provérbios 8:15-16
A autoridade
sobre os homens não pode originar-se de homens. Nem mesmo de uma maioria em
oposição a uma minoria, pois a História mostra, quase em todas as páginas, que
muitas vezes a minoria estava certa. E assim, a primeira tese calvinista de que
somente o pecado tornou indispensável a instituição de governos, esta segunda e
não menos momentosa tese é adicionada que: toda autoridade de governo sobre a
terra origina-se somente da Soberania de Deus. Quando Deus diz a mim,
“obedeça,” então humildemente curvo minha cabeça, sem comprometer nem um pouco
minha dignidade pessoal como homem. Pois na mesma proporção em que vocês se
rebaixam, curvando-se a um filho de homem, cujo fôlego está em suas narinas;
assim, por outro lado vocês se levantam, se vocês se submetem à autoridade do
Senhor do céu e da terra. Assim sustenta a palavra da Escritura: “Por mim reis
reinam,” ou como o apóstolo noutra parte tem declarado: “E as autoridades que
existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste
à ordenação de Deus.” O magistrado é um instrumento da “graça comum”, para
frustrar toda desordem e violência e para proteger o bem contra o mal. Mas ele
é mais. Além de tudo isso, ele é instituído por Deus como seu servo, a fim de
que ele possa preservar a gloriosa obra de Deus, na criação da humanidade, da
destruição total. O pecado ataca o trabalho manual de Deus, o plano de Deus, a
justiça de Deus, a honra de Deus como o supremo Artífice e Construtor. Assim,
Deus ordena os poderes que existem, a fim de que através de sua
instrumentalidade possa manter sua justiça contra os esforços do pecado, tem
dado ao magistrado o terrível direito da vida e da morte. Portanto, todos os
poderes que existem, quer em impérios ou em repúblicas, em cidades ou em estados,
governam “pela graça de Deus”. Pela mesma razão a justiça mantém um caráter
santo. E pelo mesmo motivo cada cidadão é obrigado a obedecer, não somente por
medo da punição, mas por causa da consciência.
Autoridade
Independe da Forma
Além disso,
Calvino declarou expressamente que a autoridade, como tal, de modo algum é
afetada pela questão como um governo é instituído e de que forma ele se revela.
É bem conhecido que pessoalmente ele preferia uma república, e que não nutria
predileção pela monarquia, como se esta fosse a forma divina e ideal de
governo. Este, de fato, teria sido o caso num estado inocente. Se o pecado não
tivesse entrado, Deus continuaria sendo o único rei de todos os homens, e esta
condição retornará na glória por vir, quando Deus uma vez mais será tudo em
todos. Nenhum monoteísta negará que o governo direto do próprio Deus é
absolutamente monárquico. Mas Calvino considerava uma cooperação de muitas
pessoas sob controle mútuo, i.e., uma república, desejável, agora que é
necessária uma instituição mecânica de governo por causa do pecado. Em seu
sistema, contudo, isto somente poderia significar uma diferença gradual na
excelência prática, mas nunca uma diferença fundamental quanto a essência da
autoridade. Ele considera uma monarquia e uma aristocracia, bem como uma
democracia, todas formas possíveis e praticáveis de governo; contanto que seja
imutavelmente mantido que ninguém sobre a terra pode reivindicar autoridade
sobre seus semelhantes, exceto aquela
colocada sobre ele “pela graça de Deus”; e portanto, o dever último de
obediência é imposto sobre nós não pelo homem, mas pelo próprio Deus.
Democracia –
Uma Graça de Deus
A questão
sobre como aquelas pessoas, que pela autoridade divina devem ser revestidas com
poder, são indicadas, segundo Calvino não pode ser assegurado semelhantemente
para todas as pessoas e para todos os tempos. E, contudo, ele não hesita em
afirmar, num sentido ideal, que as condições mais desejáveis existem onde o próprio
povo escolhe seus próprios magistrados. Onde existe uma condição como esta, ele
conclui, o povo deveria agradecidamente reconhecer nisto um favor de Deus,
precisamente como tem sido expresso no preâmbulo de mais de uma de suas
constituições; - “Graças ao Deus Todo-Poderoso que deu a nós o poder de escolher
nossos próprios magistrados.” Em seu Comentário sobre Samuel, Calvino
entretanto admoesta tais povos: “E vós, Ó povos, a quem Deus deu a liberdade de
escolher seus próprios magistrados, cuidem-se de não se privarem deste favor,
elegendo para a posição de mais alta honra, patifes e inimigos de Deus.” Posso
adicionar que a escolha popular é bem sucedida, naturalmente, onde nenhum outro
governo existe, ou onde o governo existente se enfraquece. Onde quer que novos
Estados tem sido instituídos, exceto pela conquista ou pela força, o primeiro
governo sempre tem sido instituído pela escolha popular; e assim também onde a
mais alta autoridade tem caído em desordem, quer pelo desejo de uma fixação do
direito de sucessão, quer através de revolução violenta, sempre tem sido o povo
que, através de seus representantes, reivindicou o direito de restaurá-lo. Mas
com igual resolução, Calvino afirma que Deus tem o poder soberano no modo de
administração de sua providência, para tirar de um povo esta condição mais desejável,
ou nunca concedê-la absolutamente quando uma nação é inapta para ele, ou, por
seu pecado tem sido completamente privada da bênção.
“Quando Deus
quer punir uma nação, Ele lhes dá lideres corruptos e iníquos.” João Calvino.
“Como
ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR; Este, segundo o
seu querer, o inclina.” Provérbios 21:1.
Os Três
Deveres das Autoridades nas Coisas Espirituais
Esses fatos
são suficientes. Vamos agora submeter a própria teoria ao teste e olhar
sucessivamente para o dever do magistrado nas coisas espirituais: 1. Para com
Deus, 2. Para com a Igreja, e 3. Para com os indivíduos.
Para com
Deus – Magistrados São Servos de Deus
Com relação
ao primeiro ponto, os magistrados são e continuam sendo – “servos de Deus”.
Eles devem reconhecer Deus como o Supremo Governador, de quem eles derivam seu
poder. Eles devem servir a Deus governando o povo segundo suas ordenanças.
Devem reprimir a blasfêmia onde ela diretamente assume o caráter de uma afronta
à Majestade Divina. E a supremacia de Deus deve ser reconhecida pela confissão
de seu nome na Constituição como a Fonte de todo poder político, mantendo o
sábado, proclamando dias de oração e ações de graça, e invocando sua divina
bênção. Portanto, a fim de que eles possam governar segundo suas santas
ordenanças, cada magistrado está no dever de limitar-se a investigar os
direitos de Deus tanto na vida natural como em sua Palavra. Não para
sujeitar-se à decisão de alguma Igreja, mas a fim de que ele mesmo possa
alcançar a luz que necessita para o conhecimento da vontade Divina. E com
relação a blasfêmia, o direito do magistrado de reprimi-la repousa na
consciência de Deus inata em cada homem; e o dever de exercer este direito
nasce do fato que Deus é o Supremo e Soberano Governador sobre cada Estado e
sobre cada nação. Mas por esta mesma razão, o fato da blasfêmia deve ser
considerado estabelecido somente quando a intenção é afrontar esta majestade de
Deus como Supremo Governador sobre o Estado de modo aparentemente contumaz. Então
o que é punido não é a ofensa religiosa, nem o sentimento ímpio, mas o ataque
ao fundamento da lei pública, sobre a qual ambos, o Estado e seu governo, estão
alicerçados.
Para com a Igreja
– Não é Manter a Unidade
A segunda
questão é de uma natureza inteiramente diferente. Qual deve ser a relação entre
o governo e a Igreja visível. Se fosse a vontade de Deus manter a unidade
formal dessa Igreja visível, esta questão deveria ser respondida de forma
completamente diferente do que é agora o caso. É natural que essa unidade fosse
originalmente procurada. A unidade da religião tem grande valor para a vida de
um povo e não pouco encanto. E somente a intolerância pode sentir-se ofendida
pela violência do desprezo com que Roma, no século 16, lutou para a manutenção
dessa unidade. Também pode ser facilmente entendido que essa unidade foi
estabelecida originalmente. Quanto mais baixo um povo está na escala de
desenvolvimento, tanto menos diferença de opinião é revelada. Por isso, vemos que quase todas as nações começaram
com a unidade da religião. Porém, é igualmente natural que essa unidade seja
quebrada onde a vida individual, no processo de desenvolvimento, ganha em
força, e onde a multiformidade afirma-se como a exigência inegável de um
desenvolvimento mais rico da vida. E assim, somos confrontados com o fato de
que a Igreja visível tem sido dividida, e que em nenhum país, seja qual for, a
unidade absoluta da Igreja visível não pode mais ser mantida.
Para com o
Indivíduo – A Soberania da Pessoa Individual
De uma
natureza inteiramente diferente, ao contrário, é a última questão à qual fiz
referência, a saber, o dever do governo com relação a soberania da pessoa
individual.
Cada Pessoa
Rege sua Consciência. Na segunda parte desta palestra, tenho indicado que o
homem desenvolvido também possui uma esfera individual de vida, com soberania
em seu próprio círculo. Aqui, não faço referência à família, pois este é um
laço social entre diversos indivíduos. Faço referência àquilo que é expresso
pelo Prof. Weitbrecht deste modo: “Cada homem
coloca-se como um rei em sua consciência, um soberano em sua própria pessoa,
isenta de toda responsabilidade.” Ou aquilo que Held formulou deste modo: “Em algum aspecto todo homem é um soberano, pois todos devem
ter e tem uma esfera de vida própria dele, na qual não tem ninguém acima dele,
exceto somente Deus.”. Não chamo a atenção para isto para superestimar a
importância da consciência, pois a todo aquele que deseja libertar a
consciência, onde Deus e sua Palavra estão envolvidas, apresento-me como um
oponente, não como um aliado. Isto, contudo não impede minha manutenção da
soberania da consciência como a salvaguarda de toda liberdade pessoal, neste
sentido – esta consciência nunca está sujeita ao homem mas sempre e
continuamente ao Deus Todo-Poderoso.
Fonte:
Calvinismo, de Abraham Kuyper.
Semana da
Federação da Mocidade do Presbitério Piratininga
IPB Jardim
da Glória, 28/07/17.
Soli Deo
Gloria!!!
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