PÁSCOA - BETÂNIA, UM LUGAR DE REFRIGÉRIO E VIDA
"Disse-lhe Jesus: Eu Sou a ressurreição e a vida. Quem crê em Mim, ainda que morra, viverá" João 11:25.
Jesus havia preparado seus discípulos para esta última caminhada que faria à cidade de Jerusalém. Ele sabia que havia chegado a hora, quando cumpriria em todos os detalhes a vontade do Pai, incluindo a Cruz.
Ele vinha caminhando desde Jericó, pela estrada pedregosa construída pelos romanos, com sua poeira fina, que somado ao ar muito quente que vem do Deserto da Judéia, tornava a jornada ainda mais penosa e cansativa. Mas ao levantar os olhos, Jesus e seus discípulos conseguem avistar, ainda longe, a pequena Vila de Betânia, o que lhes proporciona antecipadamente um alívio e uma motivação a mais para acelerarem os passos.
Betânia era uma pequena vila, porém muito tranquila e aconchegante, um verdadeiro Oásis para viajantes cansados. Suas poucas moradias estavam escondidas nas escarpas do Monte das Oliveiras, o que proporcionava um ambiente de quietude reparadora. Ali do alto, olhando para o leste e para o sul Jesus podia contemplar o Deserto da Judéia com sua vastidão seca e despovoada, a não ser as poucas tendas dos nômades. Ao amanhecer era possível ver o sol nascendo sobre as montanhas da Transjordânia, na parte ocidental do Mar Morto, e acompanhar a iluminação paulatina do Vale do Jordão, 900 metros abaixo, bem como o reflexo da luz solar nas águas do Mar Morto a 20 km do lado leste. A pouco mais de 20 km Herodes o Grande, havia construído sua fortaleza, chamada de Herodium, não muito distante de Belém, no qual ele se refugiara apenas trinta anos antes.
A brisa refrescante advinda na maioria das vezes do Mediterrâneo combatia eficazmente o calor seco do deserto. A cidade de Jerusalém estava apenas 3 km adiante, mas em Betânia o barulho e a agitação da capital não chegavam. Assim, este pequeno e tranquilo vilarejo era o lugar perfeito para quem precisasse refazer as forças, o lugar perfeito para Jesus se preparar para a Sua última semana.
Desde a segunda-feira Jesus fez este percurso de 45 minutos a pé, de Betânia para Jerusalém, com Seus discípulos. À tarde, depois de embates duríssimos com seus adversários, que tramavam continuamente Sua morte, Jesus retornou para descansar em Betânia.
Na somatória dos relatos evangélicos é possível concluir sem erro que esta vila era o lugar preferido de Jesus, todas as vezes que subia a Jerusalém. Aqui Ele estabelecera uma amizade profunda com Lázaro e suas duas irmãs Marta e Maria, e com eles Jesus sentia-Se em casa.
Portanto, não é por acaso, que no momento da Sua ascensão Jesus Se despediu de Seus discípulos nas proximidades desta pequena, mas acolhedora Vila de Betânia, antes de subir novamente aos Céus e retomar Seu lugar de glória.
É provável que fosse na casa de Lazaro que os discípulos, assustados com a prisão de Jesus, foram se refugiar. Ali ficariam agrupados aguardando o desenrolar dos acontecimentos fatídicos. Ficaria mais fácil e lógico imaginar as mulheres saindo de Betânia para acompanhar toda a Paixão de Jesus, e após Sua crucificação e morte elas acompanham a retirada do corpo dEle para ser levado ao tumulo, ao qual elas pretendiam retornar logo nas primeiras horas do domingo, para O embalsamarem. Então, elas retornaram consolando o coração multifacetado de Maria.
Foi na tranquila Betânia que outros dois acontecimentos extraordinários, que antecederam a Paixão de Jesus, mas que estão vinculados diretamente a este último momento dEle.
O primeiro é a ressurreição de Lazaro, que mesmo depois de morto e sepultado e estando já no terceiro dia foi trazido à vida pelo poder vivificador de Jesus. Este acontecimento está carregado de sentimentos humanos – dor e emoção. Aqui Jesus desnudou toda Sua humanidade, quando chorou a morte de Seu amigo e também a incredulidade daqueles que mesmo vendo o que Ele fez, permaneceram na incredulidade.
Muitos anos depois, João em sua narrativa evangélica não teve dúvida de que a mensagem de Betânia não é de morte, mas de vida: Jesus é aquEle que detém o poder único sobre a morte; Ele É “a ressurreição e a vida” (Jo 11:25).
O segundo aconteceu na casa de um homem chamado Simão, o leproso, onde uma mulher, que Marcos não identificou pelo nome, mas que João vai posteriormente nominá-la de Maria, derrama um vidro inteiro de nardo puro e caríssimo sobre os pés de Jesus (Jo 12:3). Este ato deixou os discípulos horrorizados, principalmente Judas Iscariotes, mas Jesus interpretou este como um gesto simbólico e intuitivo, pois aquela mulher sentiu o que nenhum dos seus discípulos, nem o trio mais achegado, sentiram (Jo 12:7-8). E de fato as mulheres pensaram em fazer o mesmo ato como homenagem ao Jesus morto, no domingo de manhã, mas não o fizeram porque Jesus havia ressuscitado; aquela mulher, no entanto, pode fazer enquanto Jesus ainda esta vivo, e ela foi honrada pelo Mestre, pois Ele declarou que esta atitude amorosa e silenciosa dela, na pequena e singela Vila de Betânia, seria propagada: “Em verdade vos digo: onde for pregado em todo o mundo o Evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua.” (Mc 14:9). E aqui estamos nós atestando esta verdade.
Por tudo isso, Betânia tornou-se uma caixa de ressonância para Jerusalém. Ela não se constitui apenas de um lugar de refúgio e refrigério de Jesus e Seus discípulos, mas um lugar da manifestação plena da humanidade e da divindade de Jesus. Aqui Ele foi visto em todo o Seu envolvimento com a raça humana. Betânia não foi apenas o local de preparação para os inomináveis acontecimentos do Domingo de Ramos ou do Domingo da Ressurreição, mas esta minúscula Vila de Betânia é o testemunho incontestável do poder de Jesus em dar a Sua própria Vida.
O Rev. Ivan é pastor da IPB de Vicente de Carvalho, Guarujá / SP.
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SOLI DEO GLORIA!!!
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