INTRODUÇÃO AO NT - PODEMOS CONFIAR NO NOVO TESTAMENTO?
Por: Rev. Ivan Pereira Guedes
Nestes dias cibernéticos onde o conhecimento se expande de forma incalculável, será ainda possível crer que os escritos do Novo Testamento e da Bíblia de forma geral são plenamente aceitáveis?
Sabemos que os registros do Novo Testamento foram escritos muito tempo depois dos seus acontecimentos, assim, como podemos considerar que historicamente sejam confiáveis? Não são poucos os que levantam esta questão e precisamos dar uma resposta honesta, sem utilizarmos de qualquer artifício.
Uma questão importante é: como se determina a autenticidade de um livro antigo? A crítica literária se utiliza de três provas básicas: a prova interna, a prova externa e a prova bibliográfica. Examinemos de forma breve como o Novo Testamento enfrenta estas três provas.
Prova Interna
A questão aqui é verificarmos a confiabilidade dos escritores segundo o que o próprio texto revela. É preciso verificar se temos ou não testemunho ocular ou presencial. Os relatos da vida de Cristo no Novo Testamento foram registrados por pessoas que estiveram com Ele ou estas pessoas receberam estas informações de outras pessoas que os presenciaram. João escreve: “o que temos visto e ouvido (com relação a Cristo), isso vos anunciamos” (1 João 1:3). Pedro afirma que ele e seus companheiros testemunharam “com (seus) próprios olhos sua majestade” (2 Pedro 1:16). Lucas escreve que seu Evangelho foi fundamentado em relatos compilados de testemunhas oculares (Lucas 1:1-3). Em um tribunal de justiça, a declaração de um testemunho presencial é o testemunho mais confiável.
Ainda em relação à prova interna outra questão é a da consistência das informações. Se os escritores apresentassem informações que são contraditórias, abriria-se espaço para dúvidas quanto à integridade de um ou mais destes relatos.
Muitos críticos têm dito que o Novo Testamento está cheio de contradições. Mas antes de qualquer argumentação é preciso entender o que o termo “contrário” significa no dicionário “relação de incompatibilidade entre duas proposições que não podem ser simultaneamente verdadeiras nem simultaneamente falsas, por apresentarem o mesmo sujeito e o mesmo predicado, mas diferirem ao mesmo tempo em quantidade e qualidade” (dicionário Houaiss). Portanto, a afirmação “João e José estão na sala” contradiz a afirmação “somente João está na sala”. Entretanto, não contradiz a afirmação “João está na sala”. A omissão não se constitui necessariamente numa contradição.
Tendo isto em mente, consideremos várias supostas contradições do Novo Testamento. Muitos citam que Lucas menciona que “dois anjos” estavam no túmulo de Jesus depois da ressurreição (Lucas 24:1-4), enquanto que Mateus menciona “um anjo” (Mateus 28:1-8). A observação destas afirmações é correta, porém a interpretação delas não. Se Mateus afirmasse explicitamente que só havia um anjo presente nesse momento, os relatos seriam dissonantes. Porém, como está, são harmoniosos.
Outros destacam a aparente discrepância nos relatos da natividade de Jesus.A simples observação revela de que de fato há diferenças nos relatos. Lucas fala de José e Maria partindo de Nazaré em viagem a Belém, por causa do senso romano. Logo registra o retorno da família a Nazaré (Lucas 1:26,2:40). O registro de Mateus começa com a chegada em Belém, e o nascimento de Jesus, e registra sua ida para o Egito para escapar da ira do rei Herodes, e o retorno da família para Nazaré após a morte de Herodes (Mateus 2:1-23). Contradição ou complemento? Os Evangelhos nunca evocaram serem um registro exaustivo da vida de Jesus. Todo escritor é seletivo. Acaso, Mateus não pode ter escolhido omitir a viagem do senso e Lucas a viagem ao Egito? Desta forma, os relatos são complementares e não contraditórios.
Muitos críticos são incapazes de discernir cuidadosamente o conteúdo dos textos bíblicos devido às suas pressuposições e especulações escusas. A respeito destes C. S. Lewis escreve: “Estes homens me pedem que creia que podem ler entre as linhas dos vários textos; a evidência (de que não o podem fazer) está em sua óbvia incapacidade de lerem (em algum sentido que valha a pena discutir) as próprias linhas.”
Ainda um último exemplo de aparente contradição (ainda mais difícil). Muitos têm observado uma diferença entre os relatos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) e o relato de João em relação a data da morte de Jesus. Especificamente, a questão tem a ver com a relação cronológica da cruxificação com a última ceia da Páscoa. Marcos menciona que alguns judeus celebravam a Páscoa na noite anterior à crucificação (Marcos 14:12ss.) João parece indicar uma celebração da Páscoa depois da crucificação (João 18:28). Em um artigo recente e conclusivo, o Dr. Harold Hoehner, do SeminárioTeológico de Dallas, resolve este enigma. Ele cita evidência da Mishna e dos eruditos Strock-Billerbock para demonstrar que os fariseus e saduceus não estavam em acordo, para variar, com o dia da semana em que se devia realizar a ceia pascal. O resultado é que os fariseus celebravam um dia antes dos saduceus. Isto esta perfeitamente plausível com as narrativas sinóticas que se utilizam dos cálculos dos fariseus, e do registro de João que opta pelo cálculo dos saduceus, explicando assim a diferença.
Bibliografia
Sanders, C. Introduction to Research in English Literary History (New York: MacMillan, 1952), pp. 143ff; citado en Montgomery, John. "History and Christianity," reimpresión de His Magazine, Chicago, December 1964-March 1965, PP. 6-9
Hans Conzelmann, un teólogo alemão, ao escrever acerca dos relatos de Mateus e Lucas sobre a natividade, diz que “em cada detalhe, discrepância”. Ele se concentra nas aparentes inconsistências geográficas. Conzelmann, Hans. Jesus. O artículo clássico expandido y atualizado (Philadelphia: Fortress Press), pp. 26-27.
Hooper, Walter (ed.). Christian Reflections (William B. Eerdmans) citado por McDowell, Josh. More Evidence That Demands a Verdict (San Bernardino, CA: Campus Crusade for Christ, Inc., 1975), p. 342.
Hoehner, Harold W. "Chronological Aspects of the Life of Christ, Part IV" Bibliotheca Sacra (Dallas: Dallas Theological Seminary, July, 1974), pp. 241-264.
Fonte: Reflexão Bíblica
Leia aqui a publicação anterior.
Nestes dias cibernéticos onde o conhecimento se expande de forma incalculável, será ainda possível crer que os escritos do Novo Testamento e da Bíblia de forma geral são plenamente aceitáveis?
Sabemos que os registros do Novo Testamento foram escritos muito tempo depois dos seus acontecimentos, assim, como podemos considerar que historicamente sejam confiáveis? Não são poucos os que levantam esta questão e precisamos dar uma resposta honesta, sem utilizarmos de qualquer artifício.
Uma questão importante é: como se determina a autenticidade de um livro antigo? A crítica literária se utiliza de três provas básicas: a prova interna, a prova externa e a prova bibliográfica. Examinemos de forma breve como o Novo Testamento enfrenta estas três provas.
Prova Interna
A questão aqui é verificarmos a confiabilidade dos escritores segundo o que o próprio texto revela. É preciso verificar se temos ou não testemunho ocular ou presencial. Os relatos da vida de Cristo no Novo Testamento foram registrados por pessoas que estiveram com Ele ou estas pessoas receberam estas informações de outras pessoas que os presenciaram. João escreve: “o que temos visto e ouvido (com relação a Cristo), isso vos anunciamos” (1 João 1:3). Pedro afirma que ele e seus companheiros testemunharam “com (seus) próprios olhos sua majestade” (2 Pedro 1:16). Lucas escreve que seu Evangelho foi fundamentado em relatos compilados de testemunhas oculares (Lucas 1:1-3). Em um tribunal de justiça, a declaração de um testemunho presencial é o testemunho mais confiável.
Ainda em relação à prova interna outra questão é a da consistência das informações. Se os escritores apresentassem informações que são contraditórias, abriria-se espaço para dúvidas quanto à integridade de um ou mais destes relatos.
Muitos críticos têm dito que o Novo Testamento está cheio de contradições. Mas antes de qualquer argumentação é preciso entender o que o termo “contrário” significa no dicionário “relação de incompatibilidade entre duas proposições que não podem ser simultaneamente verdadeiras nem simultaneamente falsas, por apresentarem o mesmo sujeito e o mesmo predicado, mas diferirem ao mesmo tempo em quantidade e qualidade” (dicionário Houaiss). Portanto, a afirmação “João e José estão na sala” contradiz a afirmação “somente João está na sala”. Entretanto, não contradiz a afirmação “João está na sala”. A omissão não se constitui necessariamente numa contradição.
Tendo isto em mente, consideremos várias supostas contradições do Novo Testamento. Muitos citam que Lucas menciona que “dois anjos” estavam no túmulo de Jesus depois da ressurreição (Lucas 24:1-4), enquanto que Mateus menciona “um anjo” (Mateus 28:1-8). A observação destas afirmações é correta, porém a interpretação delas não. Se Mateus afirmasse explicitamente que só havia um anjo presente nesse momento, os relatos seriam dissonantes. Porém, como está, são harmoniosos.
Outros destacam a aparente discrepância nos relatos da natividade de Jesus.A simples observação revela de que de fato há diferenças nos relatos. Lucas fala de José e Maria partindo de Nazaré em viagem a Belém, por causa do senso romano. Logo registra o retorno da família a Nazaré (Lucas 1:26,2:40). O registro de Mateus começa com a chegada em Belém, e o nascimento de Jesus, e registra sua ida para o Egito para escapar da ira do rei Herodes, e o retorno da família para Nazaré após a morte de Herodes (Mateus 2:1-23). Contradição ou complemento? Os Evangelhos nunca evocaram serem um registro exaustivo da vida de Jesus. Todo escritor é seletivo. Acaso, Mateus não pode ter escolhido omitir a viagem do senso e Lucas a viagem ao Egito? Desta forma, os relatos são complementares e não contraditórios.
Muitos críticos são incapazes de discernir cuidadosamente o conteúdo dos textos bíblicos devido às suas pressuposições e especulações escusas. A respeito destes C. S. Lewis escreve: “Estes homens me pedem que creia que podem ler entre as linhas dos vários textos; a evidência (de que não o podem fazer) está em sua óbvia incapacidade de lerem (em algum sentido que valha a pena discutir) as próprias linhas.”
Ainda um último exemplo de aparente contradição (ainda mais difícil). Muitos têm observado uma diferença entre os relatos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) e o relato de João em relação a data da morte de Jesus. Especificamente, a questão tem a ver com a relação cronológica da cruxificação com a última ceia da Páscoa. Marcos menciona que alguns judeus celebravam a Páscoa na noite anterior à crucificação (Marcos 14:12ss.) João parece indicar uma celebração da Páscoa depois da crucificação (João 18:28). Em um artigo recente e conclusivo, o Dr. Harold Hoehner, do SeminárioTeológico de Dallas, resolve este enigma. Ele cita evidência da Mishna e dos eruditos Strock-Billerbock para demonstrar que os fariseus e saduceus não estavam em acordo, para variar, com o dia da semana em que se devia realizar a ceia pascal. O resultado é que os fariseus celebravam um dia antes dos saduceus. Isto esta perfeitamente plausível com as narrativas sinóticas que se utilizam dos cálculos dos fariseus, e do registro de João que opta pelo cálculo dos saduceus, explicando assim a diferença.
Bibliografia
Sanders, C. Introduction to Research in English Literary History (New York: MacMillan, 1952), pp. 143ff; citado en Montgomery, John. "History and Christianity," reimpresión de His Magazine, Chicago, December 1964-March 1965, PP. 6-9
Hans Conzelmann, un teólogo alemão, ao escrever acerca dos relatos de Mateus e Lucas sobre a natividade, diz que “em cada detalhe, discrepância”. Ele se concentra nas aparentes inconsistências geográficas. Conzelmann, Hans. Jesus. O artículo clássico expandido y atualizado (Philadelphia: Fortress Press), pp. 26-27.
Hooper, Walter (ed.). Christian Reflections (William B. Eerdmans) citado por McDowell, Josh. More Evidence That Demands a Verdict (San Bernardino, CA: Campus Crusade for Christ, Inc., 1975), p. 342.
Hoehner, Harold W. "Chronological Aspects of the Life of Christ, Part IV" Bibliotheca Sacra (Dallas: Dallas Theological Seminary, July, 1974), pp. 241-264.
Fonte: Reflexão Bíblica
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