FÉ INSANA - O "SANTO DAIME"
Estou publicando abaixo matéria publicada na revista ISTO É que aborda em detalhes a liberação do uso do chá alucinógeno (droga) em rituais religiosos conhecidos no Brasil como o "santo daime". Essa é uma questão muito controversa pois o citado chá nada mais é que uma droga, como maconha ou ácido. A liberação por parte das autoridades se dá com base na liberdade de religião? E a questão social da das drogas, como fica diante disso? Por que os governantes autorizaram o uso de uma planta alucinógena tão rapidamente? Em nome da fé? As consequências já estão sendo conhecidas: mudança de comportamento, mortes, suicídios, etc., os mesmos sinais observados por usuários de outros tipos de alucinógenos. Seria mera coincidência? Será que Deus "aceita" esse tipo de "adoração", de devotos drogados? Leiamos a matéria e entendamos um pouco mais a respeito dessa seita que cresce no Brasil, inclusive com a participação de muitas pessoas da alta sociedade e do meio artístico (!!!), conta atualmente com mais de 20.000 seguidores, e com essa liberação poderá expandir-se ainda mais. Infelizmente essa posição omissa, inconsequente e unilateral de nossos governantes quanto à problemática das drogas, inclusive na droga aqui em questão, propicia o aumento do tráfico, consumo e agora, oficializa-se, ou permite-se o uso dessa. Significa que qualquer usuário de outros tipos de drogas, poderão usar o chá alucinógeno livremente, bastando associar-se à seita. Que decadência... É ou não é o fim dos tempos? Brasil, Deus tenha misericórdia de ti...
O governo brasileiro oficializou ontem as regras para o uso religioso do ayahuasca, chá também conhecido como santo-daime, entre outras denominações, e utilizado principalmente em cerimônias religiosas no Norte do País. A resolução, publicada no Diário Oficial da União, veta o comércio e propagandas do composto, que só poderá ser cultivado e transportado para fins religiosos e não lucrativos.
Além disso, a norma coíbe o uso do chá com outras drogas e em eventos turísticos. Também oficializa um cadastramento facultativo das entidades que o utilizam.
O texto recomenda ainda que as entidades façam uma entrevista com aqueles que forem ingerir o chá pela primeira vez e evitem seu uso por pessoas com transtornos mentais e por usuários de outras drogas.
O texto referenda as conclusões de um grupo de trabalho multidisciplinar instituído em 2004 pelo governo para estudar o uso religioso do chá. Não havia impedimento para a aplicação do composto em cerimônias religiosas, mas faltavam orientações para evitar o uso indevido, o que o grupo publicou em 2006.
Em 1985, a bebida chegou a ser proibida no País, mas liberada dois anos depois, quando estudos demonstraram a importância de seu uso religioso. No início dos anos 90 houve nova tentativa de proibir o chá, também refutada. Em 2002, mais uma vez houve denúncias de mau uso do chá, o que gerou os estudos mais recentes.
As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
A encruzilhada do Daime - Parte 1
O governo legaliza o uso religioso do chá alucinógeno, mas peca ao deixar que mortes ocorram e ao abrir uma brecha jurídica que pode estimular o tráfico
Hélio GomesGoverno legaliza o uso religioso do chá do Santo Daime, assunto de capa da IstoÉ desta semana. Assista à versão em vídeo da reportagem
Alucinógeno
O chá ayahuasca é parte dos rituais de várias religiões nativas brasileiras
Tudo começou no início do século passado, no coração da Amazônia. Caboclos nordestinos atraídos pela extração da borracha mergulharam na cultura secular dos povos da floresta, inevitavelmente absorvendo muito de sua essência. Logo nasceram as chamadas religiões ayahuasqueiras, grupos em sua maioria cristãos que incorporaram o consumo de um chá alucinógeno utilizado pelos indígenas em seus rituais. Hoje, essas mesmas seitas estão no centro de uma polêmica que envolve questões delicadas e perigosas, como o respeito à liberdade de crença, tráfico de drogas e morte.
No dia 25 de janeiro, em resolução publicada no “Diário Oficial da União”, o governo brasileiro oficializou o uso religioso do chá ayahuasca – também conhecido como daime, hoasca e vegetal. Sem força de lei, o texto, formulado depois de décadas de negociações e estudos realizados pelos órgãos de combate às drogas, define as responsabilidades das religiões institucionalizadas e garante o direito de consumo do alucinógeno a adultos, mulheres grávidas, jovens e até crianças durante os rituais. Por outro lado, ele veta a comercialização e a propaganda do composto feito a partir do cipó mariri e das folhas da erva chacrona, além de sugerir que qualquer tentativa de turismo motivado pelo chá seja coibida.
Personagens
Flávio Mesquita da Silva, presidente da União do Vegetal. Acima, a oferta do daime na web para fins recreativos.
Abaixo, Fernando Tavares, morto depois de tomar o chá
A decisão do governo repercutiu com força. Políticos como Eduardo Suplicy e Fernando Gabeira, por exemplo, defendem a medida. “A resolução é o reconhecimento de uma religião autenticamente brasileira”, diz Suplicy. Por outro lado, outras vozes levantaram a hipótese de que a liberação do daime poderia abrir o perigosíssimo precedente para a criação de religiões que incorporem drogas como a cocaína e a maconha em seus rituais. E ainda há quem considere o trabalho desenvolvido pela comissão multidisciplinar – composta por médicos, juristas, psicólogos e membros de religiões como Santo Daime, Barquinha e União do Vegetal, entre outros especialistas – do Conad (Conselho Nacional Antidrogas) um exemplo de respeito aos direitos individuais a ser exportado para o mundo. Porém, o noticiário indica outra direção.
No penúltimo final de semana, Alexandre Viana da Silva, 18 anos, morreu afogado em um lago em Ananindeua (PA), depois de tomar o chá em um culto independente. Claro que não é possível afirmar que o alucinógeno levou o rapaz, que não sabia nadar, a enfrentar uma situação de risco sem medir as consequências. Mas a hipótese não pode ser ignorada.
Outra história contundente é a de Fernando Henrique Queiroz Tavares. Aos 15 anos, ele era usuário regular de haxixe, LSD e ecstasy. Depois de muito sofrimento, encontrou ajuda na chácara Céu de Krishna, sede da seita Encantamento dos Sonhos, localizada na região metropolitana de Goiânia (GO). Lá, participou de rituais que envolviam o consumo de ayahuasca durante três anos. “Ele deixou o vício, voltou à escola e até parou de sair à noite”, diz sua mãe, Neila Maria Queiroz. Ela foi duas vezes até a chácara. Na primeira, para assistir a uma das cerimônias. Depois, para alertar a todos que Fernando Henrique sofria da síndrome de Marfan, enfermidade degenerativa do coração.
Por volta das 4h30 da manhã do dia 15 de novembro do ano passado, depois de consumir 150 ml do chá em um intervalo de quatro horas e meia, o rapaz de 18 anos sentiu-se fraco, apresentou dificuldade para respirar e caiu no chão. Segundo seu atestado de óbito, a morte foi causada por um ataque fulminante do coração, com rompimento da artéria aorta. Apesar de o laudo oficial com a causa do ataque só ter previsão de publicação daqui a dois meses, o que a ciência já sabe sobre os efeitos da ayahuasca no organismo indica forte possibilidade de relação entre o consumo do chá e o ocorrido. “Estamos realizando análises sofisticadas e fora do padrão. Precisamos de mais tempo”, afirma Rejane Sena Barcelos, diretora do Instituto de Criminalística Leonardo Rodrigues. Segundo o delegado que cuida do caso, Maurício Massanobu Kai, “se o chá facilitou ou potencializou a morte, o responsável pelo ritual responderá por homicídio doloso”. O delegado fala de Marcelo Henrique Ribeiro, líder do ritual Encantamento dos Sonhos. “Foi como perder um filho”, diz Ribeiro.
Ritos e normas
Acima, culto da igreja Céu da Lua Cheia, em São Paulo.
Abaixo, o presidente do Cefluris, Alex Polari, participa do feitio do daime
Segundo a nova normatização das regras do uso religioso da ayahuasca, as seitas cadastradas pelos órgãos passam a ser totalmente responsáveis pelo que acontece com seus adeptos durante os rituais. Cabe a elas decidir quem está apto ou não, tanto do ponto de vista médico quanto do psicológico, a tomar o chá. Também não há regras de dosagem: quem serve a bebida decide quanto o usuário deverá ingerir. Por fim, a determinação recomenda que todos os participantes permaneçam nas igrejas até o final dos rituais – e dos efeitos alucinógenos do chá.
Não é preciso dizer que o risco de algo dar errado é alto, o que pode transformar o caso em uma questão de saúde pública. Se alguém que começa a frequentar uma academia de ginástica é obrigado a passar por avaliação médica, o mesmo não deveria ser feito por quem consome um alucinógeno? “Assim como em se tratando de qualquer instituição desportiva, de ensino ou recreativa, quem quer que dê causa, por negligência, imprudência ou imperícia, ao prejuízo alheio responderá civil e criminalmente pelos atos que praticar”, diz Paulo Roberto Yog de Miranda Uchôa, secretário nacional de Políticas sobre Drogas e secretário executivo do Conad.
Simbolismo
Acima, despacho do daime na igreja Céu da Lua Cheia. Abaixo, detalhe da produção do chá
O texto publicado no “Diário Oficial” recomenda que as entidades façam uma entrevista com aqueles que forem ingerir o chá pela primeira vez e evitem seu uso por pessoas com transtornos mentais e por usuários de outras drogas. Segundo Enio Staub, secretário do Cefluris – Culto Eclético da Fluente Luz Universal Patrono Sebastião Mota de Melo, que reúne as igrejas conhecidas como Santo Daime –, esse primeiro contato é fundamental. “As pessoas que buscam a ayahuasca devem obter informações da origem dos grupos para verificar sua confiabilidade. Temos essa responsabilidade”, diz.
O Santo Daime ganhou notoriedade nos anos 80, quando chegou aos centros urbanos do Sudeste e do Sul do País. Celebridades como Lucélia Santos e Ney Matogrosso entraram para a seita e o perfil de seus seguidores mudou. Era a vez das classes mais abastadas, universitários e todo tipo de profissional entrarem na história. Paralelamente, a União do Vegetal também cresceu rapidamente. Hoje, segundo dados fornecidos pelas duas instituições, o Santo Daime conta com cinco mil associados e visitantes, enquanto a UDV contabiliza cerca de 15.000 sócios. Ambas estão presentes em países como Estados Unidos, Espanha, Reino Unido e Canadá, nos quais, segundo os religiosos, o chá entra de forma totalmente regular. “Não corremos atrás das pessoas. Elas vêm até nós”, diz Flávio Mesquita da Silva, presidente da União do Vegetal.
A encruzilhada do Daime - Parte 2
O governo legaliza o uso religioso do chá alucinógeno, mas peca ao deixar que mortes ocorram e ao abrir uma brecha jurídica que pode estimular o tráfico
Hélio GomesMesquita, 54 anos, narra uma história muito parecida com a de inúmeros adeptos do daime. “Consumia todo tipo de droga e bebia muito na adolescência. Conheci a UDV e tudo mudou”, diz. De fato, a promessa da resolução de males como a dependência química e a depressão é um dos maiores chamarizes das seitas. Apesar de a normatização governamental sugerir que o chá não seja usado em conjunto com outras drogas, muitos seguidores fazem isso. A substituição de um vício por outro é altamente condenada pela medicina porque, no fundo, não resolve o problema. Fica a pergunta: o daime é uma droga?
Polêmica
Acima, crianças participam do feitio do chá em Visconde de Mauá (RJ). Elas
e mulheres grávidas também consomem o alucinógeno durante os rituais
Um dos pilares da argumentação do Conad para a regulamentação do uso religioso da ayahuasca é uma decisão da ONU. “São consideradas drogas ilícitas todas aquelas nas listas de substâncias proibidas das Convenções das Nações Unidas, das quais o Brasil é signatário”, diz Miranda Uchôa, do Conad. De acordo com o texto publicado no “Diário Oficial”, “a decisão da ONU relativa à ayahuasca afirma não ser esta bebida nem as espécies vegetais que a compõem objeto de controle internacional”. Sandro Torres Avelar, presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, vê a questão de forma diferente: “O efeito do daime preocupa porque é semelhante ao de drogas proibidas no ordenamento jurídico”, afirma. Infelizmente, uma distorção preocupante do processo já ocorre na internet.
Basta digitar “comprar ayahuasca” no Google para encontrar ofertas de todo tipo. Há quem tente maquiar o comércio usando o modelo das seitas organizadas e peça uma carta do possível comprador na qual ele divida suas angústias e diga por que quer tomar o chá. Depois da análise dos vendedores, sobre a qual não há nenhum controle, o alucinógeno é vendido. Pior: sob os dizeres “Pronto para o consumo e bem concentrado – enviamos para o Brasil e para o mundo”, outra página oferece o litro do chá por R$ 45, mais o Sedex, a quem estiver disposto a pagar por ele. Tráfico puro e simples, portanto, e espiritualidade zero.
A falta de controle do governo preocupa e não para por aí. Além das três religiões institucionalizadas, inúmeros cultos independentes como o frequentado pelo jovem Fernando Henrique, em Goiânia, espalham-se pelo País. Segundo o Conad, cerca de 100 organizações já estão cadastradas. Trata-se de centros espíritas, cultos universalistas e terreiros de umbanda, entre outros, surgidos de dissidências das seitas originais ou que simplesmente incorporaram o uso de ayahuasca em seus ritos.
“Achei que aquela religião não era para mim quando fui tomar o chá. Agora, vivo feliz”
Carlos Maltz, ex-baterista dos Engenheiros do Hawaii e sócio da UDV
Diante do quadro de desorganização e alto risco, não espanta que o Cefluris e a União do Vegetal apoiem a normatização do governo e cobrem atitudes que garantam seu direito adquirido. “Acredito que a publicação no “Diário Oficial” servirá principalmente para orientar os órgãos de repressão e fiscalização”, diz o presidente da UDV. “É mais ou menos como se tivéssemos passado 30 anos lutando para dirigir do lado direito da estrada. Agora, alguns que querem partir para a pista da esquerda nos atrapalham”, resume Mesquita da Silva.
Não há dúvida de que as religiões ayahuasqueiras têm os seus méritos. Na apuração desta reportagem, ISTOÉ ouviu histórias comoventes de transformação, que traduzem intenções semelhantes às de crenças seculares como o catolicismo, o islamismo e o judaísmo, para citarmos apenas algumas.
Baterista da formação original dos Engenheiros do Hawaii, Carlos Maltz viveu todos os excessos que a vida de um pop star é capaz de reunir – “do sexo inseguro ao uso de todo tipo de droga. Eu queria morrer jovem”, diz. Hoje, aos 47 anos, ele atua como psicólogo junguiano e é sócio da União do Vegetal em Brasília, onde vive com sua mulher e suas três filhas. Eis a sua história.
“Em 1995, tive uma briga muito feia com o Humberto (Gessinger) e saí da banda. Acabou a fama, acabou a grana e tudo ficou escuro. Fui convidado para ir até a UDV e tomar o chá. Quando vi aquela gente fardada, pensei que não era para mim. Depois de tomar o vegetal, vi várias letras de música passando na minha frente e reconheci o meu estilo no texto. Uma voz me disse: ‘Gostou? É tudo seu.’ Respondi que sim e disse que queria anotar as letras. A voz explicou que eu só conseguiria fazer isso depois que tirasse a mágoa do meu coração e perdoasse o meu parceiro. Explodi e vi que realmente ainda estava magoado. Então a voz me disse que eu deveria compor uma música de amor para o Humberto e que, só depois disso, estaria preparado para evoluir. Hoje somos amigos como nunca, vivo feliz e tenho orgulho do meu trabalho, mas ainda não escrevi a canção.”
Para garantir que histórias como a de Maltz continuem a ser escritas, é preciso muito mais do que normatizar as regras para o uso da ayahuasca em rituais. Se a intenção do governo é legitimar o patrimônio religioso brasileiro, é preciso evitar mortes absurdas e garantir que algo sagrado para alguns não entre para o rol das substâncias que corroem nossa sociedade.
Festa na floresta
Gente do mundo inteiro viaja à Amazônia neste fim de ano e mostra a força do Santo Daime
Pelos labirintos de um sinuoso igarapé afluente do rio Purus, no sul do Estado do Amazonas, quase fronteira com o Acre, chega-se ao centro do mundo. Ou quase isso. A vila Céu do Mapiá, maior comunidade da doutrina religiosa do Santo Dai-me do Brasil, está se transformando neste fim de ano numa espécie de torre de Babel tropical. A previsão é de que, até o dia 31 deste mês, mais de 500 turistas, entre brasileiros de Norte a Sul do País e estrangeiros de todos os cantos do planeta, cheguem ao lugarejo para a passagem de ano. Vão duplicar a população local. Não são, contudo, turistas acidentais. No Céu do Mapiá, ao contrário da bíblica torre de Babel, todos falam a mesma língua: a da doutrina do Santo Daime.
O japonês Takeshi Yoshimura, 35 anos, é hoje mais um desempregado em Tóquio. Isso não o impediu, porém, de pegar um avião até São Paulo e outro até Rio Branco, nem de viajar seis horas de táxi e de lá até o município de Boca do Acre, já no Amazonas, nem de fretar uma voadeira, pequeno barco com motor de popa, para navegar por mais seis horas até chegar finalmente ao Céu do Mapiá. Detalhe: ele fez tudo isso sem saber falar inglês ou português. “Mas eu entendo e canto tudo o que está escrito nos hinários”, diz ele. Como os demais daimistas, depois de beber o chá, ele canta e baila por hipnotizantes 12 horas. Durante esse ritual, chamado de “trabalho”, Takeshi realmente canta em português. É uma das cenas mais bizarras decorrentes da globalização do Daime. “Tomei no Japão no ano passado e senti que precisava conhecer a floresta”, lembra. Igualmente impressionante é que o cansaço de sua peregrinação, somado ao calor equatorial, não impediu que, no dia seguinte a sua chegada, o japonês já estivesse de enxada e serrote na mão, abrindo valas e cortando tábuas. Está construindo um banheiro para o grupo de 20 japoneses que estão para chegar. O Extremo Oriente parece ter sido a última fronteira cruzada pela bebida produzida na floresta amazônica.
Ritual milenar – Criada na década de 30 pelo seringueiro Irineu Serra, a doutrina se baseia no uso religioso da ayahuasca, bebida psicoativa feita a partir da fervura de um cipó e de uma folha nativos da floresta. Mestre Irineu, como é conhecido, tomou o chá pela primeira vez em 1913 quando esteve em contato com caboclos em Brasiléia, cidade do extremo oeste acreano. Esses caboclos herdaram de seus ancestrais indígenas o conhecimento da ayahuasca. Seu consumo é uma tradição milenar no continente. Há indícios de que os incas já utilizavam a mistura em seus ritos. Sob seu efeito, Irineu vislumbrou a Virgem Maria e escreveu os hinários que sintetizam os ensinamentos da doutrina. Os hippies de São Paulo e do Rio de Janeiro que chegaram à Amazônia, no final dos anos 70, levaram a poção ao resto do Brasil. Na década de 80, o País inteiro descobriu o Santo Dai-me e seu ritual foi divulgado por estrelas da televisão que se doutrinaram.
A vila Céu do Mapiá foi fundada pelo seringueiro Sebastião Mota Melo, discípulo de Mestre Irineu, em 1983. “Éramos um grupo de 30 pessoas. Chegamos para formar uma comunidade espiritual e trabalhar com a borracha”, lembra o paulista Wilson Manzoni, 43 anos, que aportou no lugar junto com Sebas-tião. “Com o tempo, o Daime foi ganhando importância e se tornou a principal atividade da comunidade”, diz Wilson. Neste fim de ano, a comunidade já é internacional e está promovendo uma celebração incomparável. Povos das mais diferentes origens peregrinam até o berço do Daime para sentir o poder da floresta contido na bebida. Em 17 anos, o Céu do Mapiá se tornou o seringal mais cosmopolita do mundo.
Califórnia-Mapiá – O cipó de nome jagube e a planta chamada rainha são misturados num processo de fabricação de várias horas, chamado feitio. O cozimento da mistura também demora dias. Depois da extração dos vegetais da mata, os homens maceram o cipó e as mulheres limpam e selecionam as folhas. A ingestão do chá lhes dá forças para a exaustiva tarefa de desfiar o cipó. Eles passam horas martelando sob o ritmo dos hinários. “Minha força vinha de além do corpo. Me senti em comunhão com meus ancestrais”, explica o americano Gian Carlo Petri, 21 anos, um dos cinco jovens californianos daimistas que chegaram ao Mapiá para passar dezembro e janeiro. “Nos Estados Unidos pensam que é coisa de fanático, não sabem desse poder”, diz Brock Roller, 22 anos, estudante de Biologia. “Eu sempre estudei plantas e quando tomei Daime tudo se juntou. Foi uma revelação. Não é uma simples alteração de consciência, é um ensinamento. Toda vez que eu tomo, aprendo algo novo”, garante Brock. O intercâmbio étnico-cultural entre as Américas vai contar também com uma visita especial: 25 índios americanos irão realizar no Mapiá, no dia 31, um ritual com tambores e com sua planta mágica: o peyote.
No Brasil existem aproximadamente 20 igrejas do Daime, nos EUA elas são dez. Brock e Gian Carlo frequentam uma delas, conduzida por madrinha Luzia. Uma simpática americana quarentona, ela fala com desembaraço português. “Eu falo mapiense, que é uma língua livre”, brinca ela, que tomou o Daime em 1987 e hospeda seus conterrâneos em sua casa no Céu do Mapiá. “Não tem lugar melhor para passar o Ano-Novo. Meu sonho é viver aqui, mas agora tenho de cuidar da igreja na Califórnia”, afirma. Para os estrangeiros como Luzia, ir para a floresta é também conseguir exercer seu culto livremente. “Estamos vivendo um momento de repressão ao Daime no mundo inteiro. Vir aqui é um modo de se fortalecer”, explica Luzia. Ela tem razão. No Brasil, ao contrário de outros países, o chá do Santo Daime é considerado enteógeno, ou seja, o uso é permitido como parte de um ritual religioso. Na Europa, em outubro, duas igrejas foram fechadas, uma na Holanda e outra na Alemanha.
Preconceito – Mas, no interior da selva, a tradição da ayauhasca parece estar a salvo. Menos da imprensa. A comunidade cabocla se ressente de reportagens sensacionalistas e anda desconfiada de forasteiros armados de máquinas fotográficas e gravadores. “Tem revista que vem aqui, pede nossa ajuda para trabalhar, e no final faz reportagens preconceituosas”, critica Fernando Ribeiro, um dos dirigentes da comunidade. Numa das reportagens, o principal alvo foi o ex-guerrilheiro e escritor Alex Polari, hoje “padrinho” e um dos principais líderes no Mapiá. “Nosso desafio ao abrir o Daime para o mundo é administrar esse choque cultural e essa afluência de pessoas sem fazer proselitismo”, afirma Polari.
A arquiteta italiana Tiziana Vigani, 49 anos, está pela terceira vez na vila. Ela toma Daime em Assis, na Itália. “Vir para a floresta, tomar banho no igarapé e passar um tempo com o povo com o qual nos identificamos é o projeto do ano”, diz ela. Com o uniforme da doutrina, chamado farda, ela está realizada. “O Daime me abre para relações baseadas no amor, na fraternidade.” É vero. O cotidiano no Céu do Mapiá é mesmo peculiar. Lá não se vende cerveja nem cachaça. A tevê só chegou no ano passado, por insistência dos mais jovens, durante a Copa do Mundo. Há uma cozinha geral, onde todos podem comer e cozinhar, e muitos mutirões para a construção de casas. “Está uma correria danada para a gente atender todos os irmãos que estão chegando”, diz o morador Airton Oliveira da Silva, 24 anos. Airton representa um povo virtuoso. Como muitos ali, é educado, trabalhador e bem-humorado. “A doutrina é um contato direto com as forças de Deus, de aperfeiçoamento. Isso torna a vida aqui diferente”, afirma.
Medicina para a alma – A jornalista tcheca Vera Krincrajova, 30 anos, veio de Praga à procura desse aperfeiçoamento. “As pessoas aqui são muito fortes e a floresta tem uma energia incrível. Pensei que vindo aqui e estando ao lado deles eu poderia ficar igual”, elogia a moça, que chegou no começo de dezembro para passar seis semanas. “Vejo o Daime como uma medicina para a alma.” Quem acompanhou Vera e seus amigos tchecos foi a mapiense Aline Nunes, 23 anos. Ela já viajou três vezes para Praga, na República Tcheca, para coordenar rituais. Para muitos, ir ao centro do Daime é uma alternativa de vida. Não por acaso, alguns acabam construindo casa e ficando de vez. “A questão da espiritualidade está forte na sociedade consumista”, aponta o antropólogo Walter Dias, que acompanhou desde o início a popularização da doutrina. Foi o primeiro a trazê-la para São Paulo, em 1980. “E muita gente está buscando outros valores”, completa o antropólogo.
Cura natural
A floresta amazônica é o jardim de Maria Alice Freire, 46 anos. E ela faz muito bom proveito disso. Nascida no Rio de Janeiro, ela mora há 12 anos perto do Céu do Mapiá e hoje é a responsável pelo Centro Medicina da Floresta, onde pesquisa o poder curativo de plantas. Com uma equipe de 12 funcionários, produz dezenas de medicamentos, entre tinturas, extratos, pomadas e florais. O arsenal combate doenças de pele, respiratórias, digestivas e infecto-contagiosas e moléstias como hanseníase, hepatite, malária, verminose, disenteria, anemia, febre e gripe. “A floresta é um manancial de cura inesgotável”, afirma ela. Quando chegou, Maria Alice achou um absurdo que o povo da mata não aproveitasse essa riqueza. “Eles se tratavam numa cidade que fica a dois dias de viagem e ainda com remédios com data vencida, refugos...”, recorda.
Em dois anos de trabalho, diz ela, seu esforço trouxe a comunidade de volta à farmácia amazônica. Os medicamentos são passados de graça para a população local, “só cobramos de visitantes, que é quem tem dinheiro”. Ela afirma estar devolvendo ao povo da mata o que é dele. “A sabedoria é da floresta. Eu procuro preservar o conhecimento dos nativos”, diz ela, que ao longo dos anos foi discípula de anciões da floresta e de pajés indígenas. “Tudo tem uma boa dose de intuição. Não sou médica, por isso todo o procedimento é na prática. Provo tudo que faço, sou minha própria cobaia.”
Santo Daime contra depressão
Originário da Amazônia, o chá de ayahuasca, ou Santo Daime, é utilizado há milhares de anos em rituais religiosos. No século passado a seita se popularizou - deixou a floresta e foi para as grandes cidades. Agora a ciência começa a prestar atenção nos efeitos dessa bebida alucinógena. Pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP, na cidade de Ribeirão Preto, afirmam que testaram com sucesso o emprego do Santo Daime no tratamento de duas mulheres com depressão crônica - ele atuou sobre o neurotransmissor serotonina, inibindo a sua recaptação que quando acelerada causa a depressão. A pesquisa será estendida a outros 60 pacientes. "Eu acredito que é possível formular um medicamento com o chá. Se não diretamente com a molécula presente no Santo Daime, pelo menos com algo muito próximo", diz o pesquisador Jaime Eduardo Hallack.
Fonte Isto É.
O japonês Takeshi Yoshimura, 35 anos, é hoje mais um desempregado em Tóquio. Isso não o impediu, porém, de pegar um avião até São Paulo e outro até Rio Branco, nem de viajar seis horas de táxi e de lá até o município de Boca do Acre, já no Amazonas, nem de fretar uma voadeira, pequeno barco com motor de popa, para navegar por mais seis horas até chegar finalmente ao Céu do Mapiá. Detalhe: ele fez tudo isso sem saber falar inglês ou português. “Mas eu entendo e canto tudo o que está escrito nos hinários”, diz ele. Como os demais daimistas, depois de beber o chá, ele canta e baila por hipnotizantes 12 horas. Durante esse ritual, chamado de “trabalho”, Takeshi realmente canta em português. É uma das cenas mais bizarras decorrentes da globalização do Daime. “Tomei no Japão no ano passado e senti que precisava conhecer a floresta”, lembra. Igualmente impressionante é que o cansaço de sua peregrinação, somado ao calor equatorial, não impediu que, no dia seguinte a sua chegada, o japonês já estivesse de enxada e serrote na mão, abrindo valas e cortando tábuas. Está construindo um banheiro para o grupo de 20 japoneses que estão para chegar. O Extremo Oriente parece ter sido a última fronteira cruzada pela bebida produzida na floresta amazônica.
Ritual milenar – Criada na década de 30 pelo seringueiro Irineu Serra, a doutrina se baseia no uso religioso da ayahuasca, bebida psicoativa feita a partir da fervura de um cipó e de uma folha nativos da floresta. Mestre Irineu, como é conhecido, tomou o chá pela primeira vez em 1913 quando esteve em contato com caboclos em Brasiléia, cidade do extremo oeste acreano. Esses caboclos herdaram de seus ancestrais indígenas o conhecimento da ayahuasca. Seu consumo é uma tradição milenar no continente. Há indícios de que os incas já utilizavam a mistura em seus ritos. Sob seu efeito, Irineu vislumbrou a Virgem Maria e escreveu os hinários que sintetizam os ensinamentos da doutrina. Os hippies de São Paulo e do Rio de Janeiro que chegaram à Amazônia, no final dos anos 70, levaram a poção ao resto do Brasil. Na década de 80, o País inteiro descobriu o Santo Dai-me e seu ritual foi divulgado por estrelas da televisão que se doutrinaram.
A vila Céu do Mapiá foi fundada pelo seringueiro Sebastião Mota Melo, discípulo de Mestre Irineu, em 1983. “Éramos um grupo de 30 pessoas. Chegamos para formar uma comunidade espiritual e trabalhar com a borracha”, lembra o paulista Wilson Manzoni, 43 anos, que aportou no lugar junto com Sebas-tião. “Com o tempo, o Daime foi ganhando importância e se tornou a principal atividade da comunidade”, diz Wilson. Neste fim de ano, a comunidade já é internacional e está promovendo uma celebração incomparável. Povos das mais diferentes origens peregrinam até o berço do Daime para sentir o poder da floresta contido na bebida. Em 17 anos, o Céu do Mapiá se tornou o seringal mais cosmopolita do mundo.
Califórnia-Mapiá – O cipó de nome jagube e a planta chamada rainha são misturados num processo de fabricação de várias horas, chamado feitio. O cozimento da mistura também demora dias. Depois da extração dos vegetais da mata, os homens maceram o cipó e as mulheres limpam e selecionam as folhas. A ingestão do chá lhes dá forças para a exaustiva tarefa de desfiar o cipó. Eles passam horas martelando sob o ritmo dos hinários. “Minha força vinha de além do corpo. Me senti em comunhão com meus ancestrais”, explica o americano Gian Carlo Petri, 21 anos, um dos cinco jovens californianos daimistas que chegaram ao Mapiá para passar dezembro e janeiro. “Nos Estados Unidos pensam que é coisa de fanático, não sabem desse poder”, diz Brock Roller, 22 anos, estudante de Biologia. “Eu sempre estudei plantas e quando tomei Daime tudo se juntou. Foi uma revelação. Não é uma simples alteração de consciência, é um ensinamento. Toda vez que eu tomo, aprendo algo novo”, garante Brock. O intercâmbio étnico-cultural entre as Américas vai contar também com uma visita especial: 25 índios americanos irão realizar no Mapiá, no dia 31, um ritual com tambores e com sua planta mágica: o peyote.
No Brasil existem aproximadamente 20 igrejas do Daime, nos EUA elas são dez. Brock e Gian Carlo frequentam uma delas, conduzida por madrinha Luzia. Uma simpática americana quarentona, ela fala com desembaraço português. “Eu falo mapiense, que é uma língua livre”, brinca ela, que tomou o Daime em 1987 e hospeda seus conterrâneos em sua casa no Céu do Mapiá. “Não tem lugar melhor para passar o Ano-Novo. Meu sonho é viver aqui, mas agora tenho de cuidar da igreja na Califórnia”, afirma. Para os estrangeiros como Luzia, ir para a floresta é também conseguir exercer seu culto livremente. “Estamos vivendo um momento de repressão ao Daime no mundo inteiro. Vir aqui é um modo de se fortalecer”, explica Luzia. Ela tem razão. No Brasil, ao contrário de outros países, o chá do Santo Daime é considerado enteógeno, ou seja, o uso é permitido como parte de um ritual religioso. Na Europa, em outubro, duas igrejas foram fechadas, uma na Holanda e outra na Alemanha.
Preconceito – Mas, no interior da selva, a tradição da ayauhasca parece estar a salvo. Menos da imprensa. A comunidade cabocla se ressente de reportagens sensacionalistas e anda desconfiada de forasteiros armados de máquinas fotográficas e gravadores. “Tem revista que vem aqui, pede nossa ajuda para trabalhar, e no final faz reportagens preconceituosas”, critica Fernando Ribeiro, um dos dirigentes da comunidade. Numa das reportagens, o principal alvo foi o ex-guerrilheiro e escritor Alex Polari, hoje “padrinho” e um dos principais líderes no Mapiá. “Nosso desafio ao abrir o Daime para o mundo é administrar esse choque cultural e essa afluência de pessoas sem fazer proselitismo”, afirma Polari.
A arquiteta italiana Tiziana Vigani, 49 anos, está pela terceira vez na vila. Ela toma Daime em Assis, na Itália. “Vir para a floresta, tomar banho no igarapé e passar um tempo com o povo com o qual nos identificamos é o projeto do ano”, diz ela. Com o uniforme da doutrina, chamado farda, ela está realizada. “O Daime me abre para relações baseadas no amor, na fraternidade.” É vero. O cotidiano no Céu do Mapiá é mesmo peculiar. Lá não se vende cerveja nem cachaça. A tevê só chegou no ano passado, por insistência dos mais jovens, durante a Copa do Mundo. Há uma cozinha geral, onde todos podem comer e cozinhar, e muitos mutirões para a construção de casas. “Está uma correria danada para a gente atender todos os irmãos que estão chegando”, diz o morador Airton Oliveira da Silva, 24 anos. Airton representa um povo virtuoso. Como muitos ali, é educado, trabalhador e bem-humorado. “A doutrina é um contato direto com as forças de Deus, de aperfeiçoamento. Isso torna a vida aqui diferente”, afirma.
Medicina para a alma – A jornalista tcheca Vera Krincrajova, 30 anos, veio de Praga à procura desse aperfeiçoamento. “As pessoas aqui são muito fortes e a floresta tem uma energia incrível. Pensei que vindo aqui e estando ao lado deles eu poderia ficar igual”, elogia a moça, que chegou no começo de dezembro para passar seis semanas. “Vejo o Daime como uma medicina para a alma.” Quem acompanhou Vera e seus amigos tchecos foi a mapiense Aline Nunes, 23 anos. Ela já viajou três vezes para Praga, na República Tcheca, para coordenar rituais. Para muitos, ir ao centro do Daime é uma alternativa de vida. Não por acaso, alguns acabam construindo casa e ficando de vez. “A questão da espiritualidade está forte na sociedade consumista”, aponta o antropólogo Walter Dias, que acompanhou desde o início a popularização da doutrina. Foi o primeiro a trazê-la para São Paulo, em 1980. “E muita gente está buscando outros valores”, completa o antropólogo.
Cura natural
A floresta amazônica é o jardim de Maria Alice Freire, 46 anos. E ela faz muito bom proveito disso. Nascida no Rio de Janeiro, ela mora há 12 anos perto do Céu do Mapiá e hoje é a responsável pelo Centro Medicina da Floresta, onde pesquisa o poder curativo de plantas. Com uma equipe de 12 funcionários, produz dezenas de medicamentos, entre tinturas, extratos, pomadas e florais. O arsenal combate doenças de pele, respiratórias, digestivas e infecto-contagiosas e moléstias como hanseníase, hepatite, malária, verminose, disenteria, anemia, febre e gripe. “A floresta é um manancial de cura inesgotável”, afirma ela. Quando chegou, Maria Alice achou um absurdo que o povo da mata não aproveitasse essa riqueza. “Eles se tratavam numa cidade que fica a dois dias de viagem e ainda com remédios com data vencida, refugos...”, recorda.
Em dois anos de trabalho, diz ela, seu esforço trouxe a comunidade de volta à farmácia amazônica. Os medicamentos são passados de graça para a população local, “só cobramos de visitantes, que é quem tem dinheiro”. Ela afirma estar devolvendo ao povo da mata o que é dele. “A sabedoria é da floresta. Eu procuro preservar o conhecimento dos nativos”, diz ela, que ao longo dos anos foi discípula de anciões da floresta e de pajés indígenas. “Tudo tem uma boa dose de intuição. Não sou médica, por isso todo o procedimento é na prática. Provo tudo que faço, sou minha própria cobaia.”
Santo Daime contra depressão
Originário da Amazônia, o chá de ayahuasca, ou Santo Daime, é utilizado há milhares de anos em rituais religiosos. No século passado a seita se popularizou - deixou a floresta e foi para as grandes cidades. Agora a ciência começa a prestar atenção nos efeitos dessa bebida alucinógena. Pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP, na cidade de Ribeirão Preto, afirmam que testaram com sucesso o emprego do Santo Daime no tratamento de duas mulheres com depressão crônica - ele atuou sobre o neurotransmissor serotonina, inibindo a sua recaptação que quando acelerada causa a depressão. A pesquisa será estendida a outros 60 pacientes. "Eu acredito que é possível formular um medicamento com o chá. Se não diretamente com a molécula presente no Santo Daime, pelo menos com algo muito próximo", diz o pesquisador Jaime Eduardo Hallack.
Fonte Isto É.
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