As quatro regras de oração de João Calvino

Por Joel R. Beeke 


Para João Calvino, a oração não pode ser realizada sem disciplina. Ele escreveu: “A menos que separemos certas horas do dia para a oração, isto escapa facilmente de nossa memória.” Então recomenda várias regras para guiar os crentes a oferecerem orações produtivas e fervorosas. 


1. A primeira regra é um sentimento sincero de reverência. 


Hebreus 12 28-29


Na oração, devemos “ter a disposição de mente e coração que convém a quem inicia uma conversa com Deus.” Nossas orações devem surgir “do fundo de nossos corações.” Calvino nos conclama a termos uma mente e coração disciplinados, afirmando que “os únicos que se cingem devida e corretamente para orar, são aqueles que são tão comovidos pela majestade de Deus, que chegam a ela livres de preocupações e afeições terrenas” 


2. A segunda regra é um sentimento sincero de carência e de arrependimento. 


2 Crônicas 7 14


Devemos “orar a partir de um sentimento sincero de carência e com penitência,” mantendo “a disposição de um mendigo.” Calvino não quis dizer que os crentes devem orar por todos os caprichos que surgem em seus corações, mas que devem orar penitentemente, de acordo com a vontade de Deus, mantendo a Sua glória em foco, ansiando por cada pedido “com afeto sincero de coração, e ao mesmo tempo desejando obter isto dele. “ 


3. A terceira regra é um sentimento sincero de humildade e confiança em Deus. 


Humildade - Colossenses 3 12

Confiança - Salmos 40 4


A verdadeira oração requer que “abramos mão de toda auto-confiança e humildemente imploremos por perdão,” confiando somente na misericórdia de Deus para as bênçãos espirituais e temporais, lembrando-nos sempre de que a menor gota de fé é mais poderosa do que a incredulidade. Qualquer outra abordagem a Deus só irá promover o orgulho, o que será letal: “Se reivindicarmos para nós qualquer coisa, mesmo a menor delas,” estaremos em grave perigo de nos destruirmos na presença de Deus. 


4. A regra final é ter um sentimento sincero de esperança confiante. 


Romanos 4 18

Tito 2 13 e 3 7


A confiança de que nossas orações serão respondidas não advém de nós mesmos, mas por meio do Espírito Santo que opera em nós. Na vida dos crentes, a fé e esperança vencem o medo, para que possamos “pedir com fé, em nada duvidando” (Tiago 1:6). Isto significa que a verdadeira oração tem confiança de sucesso, devido a Cristo e à aliança, “porque o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo sela o pacto que Deus concluiu conosco.” Os crentes, então, aproximam-se de Deus com ousadia e alegria porque tal “confiança é necessária na verdadeira oração… que se torna a chave que nos abre a porta do reino dos céus.” 


Esmagador? Inatingível? 


Estas regras podem parecer esmagadoras, até mesmo inatingíveis, frente a um Deus santo e onisciente. Calvino reconhece que nossas orações estão repletas de fraquezas e fracassos. “Ninguém jamais realizou isto com a devida santidade”, escreveu ele. Mas Deus tolera “até mesmo a nossa gagueira e perdoa a nossa ignorância”, permitindo que nos familiarizemos com Ele na oração, ainda que seja “de uma forma balbuciante”. Em suma, nunca nos sentiremos como suplicantes dignos. Nossa vida de oração inconsistente é muitas vezes atacada por dúvidas, mas tais lutas nos mostram a nossa necessidade contínua de oração per se como um “levantar do espírito” e continuamente nos levam a Jesus Cristo, o único que irá “mudar o trono de glória terrível para o trono da graça “. Calvino conclui que “Cristo é o único caminho, e o único acesso, pelo qual nos é concedido vir a Deus.” 


Nota dos editores: Extraído da contribuição de Joel Beeke em John Calvin: A Heart for Devotion, Doctrine and Doxology [Joāo Calvino: Um Coração Dedicado à Devoção, à Doutrina e à Doxologia]. 


Originalmente publicado em ligonier.org. 


Traduzido por Carlos Dourado.


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