A FUNÇÃO PROFÉTICA DA IGREJA (1) PREGAR A PALAVRA DE DEUS
“Mas tu lhes dirás as Minhas palavras, quer ouçam quer deixem de ouvir, pois são rebeldes.” Ezequiel 2:7.
Quando se fala de “função profética” precisamos focar nossa mente na obra de evangelização que o Senhor nos delegou. Ser profeta às nações é pregar a Palavra, é anunciar a salvação em Cristo Jesus. Pensando assim, cada crente é um profeta incumbido de semear as Boas Novas de salvação. Porém, mais que nunca hoje lidamos com uma visão distorcida desse tema, quando nos damos conta da COMPARTIMENTALIZAÇÃO DA IGREJA, ou seja, a subdivisão de tarefas ao extremo, e a VISÃO MERCANTILISTA DO MINISTÉRIO PASTORAL como mera profissão, a influência da revolução industrial e do mercado que trata da substituição de pessoas como peças, e a PRODUÇÃO, com resultados rápidos como sinal de eficiência.
QUEM FOI EZEQUIEL
Ezequiel foi um sacerdote (1:3) que testemunhou grande parte do declínio e queda do império assírio e a dominação do império babilônico. Foi um período muito difícil para aquele povo que era o povo escolhido de Deus, mas que se afastara tanto de Deus e de Sua Palavra. Este povo havia se rebelado contra Deus, eles esperavam que o período de exílio fosse breve e que os deportados fossem trazidos de volta rapidamente. Eles eram encorajados por falsos profetas que lhes alimentavam essas expectativas. Ezequiel surge com a verdadeira mensagem de Deus nesse período histórico, e sofreu em seu próprio corpo as consequências de representar Deus diante da nação, e representar a nação sob o julgamento de Deus. (BEG).
Ao lermos o Livro de Ezequiel notamos que ele era muito íntimo de Deus. Tão achegado ao Pai que Este lhe falava e usava continuamente, revelando para ele a Sua glória e o Seu poder. Ezequiel conhecia de perto o poder de Deus e a Sua glória, ele foi um homem cheio do poder e da unção de Deus. Mas isso não o levou a um lugar de acomodação, tranquilidade e sossego, mas a um compromisso e obediência irrestritos a Deus. É nesse momento que surgem desafios e provas, que fazem-nos destacar quais são as prioridades para o cumprimento dessa missão que Deus nos ordenou. É o que aprendemos com Ezequiel, e é do que tratará essa mensagem.
1 – A FUNÇÃO PROFÉTICA DO POVO DE DEUS: PREGAR, FALAR (vs.3-4)
“Ele me disse: Filho do homem, Eu te envio aos filhos de Israel, às nações rebeldes que se insurgiram contra Mim; eles e seus pais prevaricaram contra Mim, até precisamente ao dia de hoje. Os filhos são de duro semblante e obstinados de coração; Eu te envio a eles, e lhes dirás: Assim diz o SENHOR Deus.” Ezequiel 2:3-4.
Ser profeta de Deus não é ser adivinho, mas significa ser mensageiro de Deus. Nos identificamos com Ezequiel quando tomamos consciência de quem somos diante de Deus, vivendo em um mundo que se rebelou contra Deus (“casa rebelde”), e da missão que temos de profetizar, isto é, anunciar a vontade de Deus revelada em Sua Palavra. Esse PROCESSO se dá a partir do momento que DEUS FALA CONOSCO A SUA PALAVRA, e NOS MANDA FALAR A SUA PALAVRA às pessoas. Assim como o Senhor falou com Ezequiel, Ele também fala conosco, porém através da Bíblia Sagrada, que é o Seu legado, a Sua herança para nós, a Sua Palavra escrita. Aqui (na Bíblia) está contida a revelação de Deus ao homem perdido, nem mais, nem menos (Ap 22:18-19). E assim como Ezequiel falou, nós também temos o dever de falar e testemunhar ao mundo a Palavra de Deus.
Essa é a maior prioridade da missão da Igreja: falar, comunicar, transmitir a Palavra de Deus. Onde quer que você esteja, onde você for, você deve encontrar meios para fala a Palavra de Deus. “Assim diz o Senhor” (2:4b). O que diz o Senhor? O que se encontra revelado em Sua Palavra, a Bíblia Sagrada, e que é adequado para aquele momento específico. Salvação é a mensagem que se aplica em toda e qualquer situação, ou que deve ser comunicada da melhor maneira em todos os momentos.
“De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”
Fica evidente a seriedade da missão profética da Igreja, quando em Ez 3:18 o Senhor faz o seguinte aviso a Ezequiel, e que também se aplica a nós:
“Quando Eu disser ao perverso: Certamente, morrerás, e tu não o avisares e nada disseres para o advertir do seu mau caminho, para lhe salvar a vida, esse perverso morrerá na sua iniquidade, mas o seu sangue da tua mão o requererei.” Ezequiel 3:18.
2 – NÃO SE PREOCUPAR EXCESSIVAMENTE COM RESULTADOS (vs.5,8a)
“Eles, quer ouçam quer deixem de ouvir, porque são casa rebelde, hão de saber que esteve no meio deles um profeta.” “Tu, ó filho do homem, ouve o que Eu te digo, não te insurjas como a casa rebelde” Ezequiel 2:5,8a.
Contrariando todas as expectativas da modernidade industrial ou do comércio, e a influência do pensamento social na Igreja, Deus diz aqui para não cairmos no erro de medir a bênção de Deus através do resultado da pregação. O profeta é convocado para ir e falar o que Deus está falando e não ser o agente de transformação das pessoas, mas o agente de transmissão da mensagem de Deus às pessoas. É o que vemos em Ezequiel, e é o que acontece na vida da Igreja: Deus é Quem faz a Sua obra, nós somos meros vasos em Suas mãos. Não é o homem que vai converter seus amigos, não é o homem que vai transformar vidas, não é o homem que vai avivar a Igreja, É DEUS e somente Ele pode realizar essas coisas. Se não for assim é falsa conversão, é falso sinal, é falso avivamento.
Obviamente nos preocupamos com resultados, e isso tem um lado positivo até certo ponto: até o limite de sermos zelosos e piedosos no cumprimento de nossos deveres para com Deus. Passou daí é perigoso, porque já não é nosso departamento, incumbência ou jurisdição; aí é o departamento do Espírito Santo de Deus. E um dos maiores perigos na nossa vida espiritual é querermos fazer a obra do Espírito Santo, porque começamos a atrapalhar o Seu agir, e nos tornamos cúmplices das trevas. Quando o nosso “eu”, nossa ansiedade (ansiedade / orgulho / carne / “eu”), quer prevalecer sobre a Palavra de Deus, sobre o comando de Deus, é o nosso orgulho em ação, e satanás se aproveita disso para enfraquecer e confundir a obra de Deus. Deus É soberano, e alerta para não entristecermos o Espírito Santo (Ef 4:30), e o Salmista Davi pede a Deus que não retirasse dele o Espírito Santo (Sl 51:11).
Ezequiel (e nós também) deveria se preocupar com duas coisas nessa missão.
2.1 - A primeira preocupação de Ezequiel deveria ser (e deve ser a nossa também) descansar em Deus, que faria com que as pessoas soubessem que ele era um PROFETA DE DEUS. Sua vida, seus procedimentos, seu agir e falar deveriam refletir isso: ele não era um farsante, mas um legítimo servo de Deus. Ainda que as pessoas naquele momento não se dessem conta disso, um dia iriam se lembrar dele como servo de Deus (vs.5).
2.2 - A segunda preocupação de Ezequiel deveria ser (e deve ser a nossa também) em não se tornar semelhante à casa rebelde. Ele deveria obedecer à ordem de Deus e pregar, independentemente dos resultados, porque do contrário, se ele se deixasse dominar pelo medo, iria deixar de pregar, desobedecendo a ordem divina, e ele mesmo se tornaria “casa rebelde” (2:8a; 3:18).
Aqui temos duas precauções contra a insurgência humana na obra de Deus: descansar na justiça de Deus, e obedecer a Deus, não deixando de falar dEle.
3 – NÃO TEMER AOS HOMENS (vs.4,6)
“Os filhos são de duro semblante e obstinados de coração; eu te envio a eles, e lhes dirás: Assim diz o SENHOR Deus.” “Tu, ó filho do homem, não os temas, nem temas as suas palavras, ainda que haja sarças e espinhos para contigo, e tu habites com escorpiões; não temas as suas palavras, nem te assustes com o rosto deles, porque são casa rebelde.” Ezequiel 2:4,6.
De antemão Deus avisou Ezequiel de que ele estaria entre pessoas de coração obstinado, duro e rebelde. Pessoas venenosas, difíceis, rebeldes, más, difíceis de se lidar. Tanto que o Senhor as compara com “serpentes e escorpiões”. “Semblante duro” = cara feia. Não é fácil enfrentar isso, pois a oposição, ou rejeição, agem diretamente em nosso ser interior, nossos sentimentos, causando-nos medo. Principalmente quando você é tratado assim por causa da Palavra de Deus que você está anunciando. Assim é na Igreja também. Seria muito fácil Ezequiel deixar de pregar e anunciar a Palavra de Deus, naquele contexto de grande oposição. Israel não queria ouvir a voz de Deus, e se cercavam de falsos profetas que só diziam o que lhes agradava. Mas no meio de tantas vozes, Ezequiel era a voz de Deus, e por isso era perseguido.
Talvez você esteja passando por, ou vá passar um dia, por uma situação semelhante, devido ao seu zelo para com a Palavra de Deus. Então está dado o recado: não tenha medo, não cesse de pregar o Evangelho às pessoas.
VENCENDO O MEDO
“Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por Minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos Céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.” Mateus 5:11-12.
O medo é inerente ao ser humano, desde que o pecado entrou na humanidade. Depois que pecou, Adão sentiu medo de Deus e se escondeu dEle. Temos que compreender que o medo é fruto do pecado, e em si pode também ser pecado. Não que TODO tipo de medo seja pecado, o medo pode ser também um modo de autopreservação. Mas pode ser ou se tornar pecado, porque em última análise, se o medo persistir significa que a nossa fé não está prevalecendo. Precisamos vencer o medo, pois o perfeito Amor lança fora todo medo (1 Jo 4:18).
No assunto em questão, que é a pregação da Palavra de Deus, nós podemos vencer o medo e anunciar a Cristo, porque o amor de Deus nos capacita, porque amamos a Deus, e porque amamos também até aquela pessoa que faz oposição ao Evangelho (Mt 5:44). Além disso tudo, devemos temer a Deus e não aos homens (Mt 10:28).
“E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquEle que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” Mateus 10:28.
4 – FOCAR SEU COMPROMISSO COM A PALAVRA (Ez 2:8b-3:3)
“Abre a boca e come o que Eu te dou. Então, vi, e eis que certa mão se estendia para mim, e nela se achava o rolo de um livro. Estendeu-o diante de mim, e estava escrito por dentro e por fora; nele, estavam escritas lamentações, suspiros e ais. Ainda me disse: Filho do homem, come o que achares; come este rolo, vai e fala à casa de Israel. Então, abri a boca, e Ele me deu a comer o rolo. E me disse: Filho do homem, dá de comer ao teu ventre e enche as tuas entranhas deste rolo que Eu te dou. Eu o comi, e na boca me era doce como o mel.” Ezequiel 2:8b-3:3.
Ezequiel teve agora uma visão, onde o Senhor lhe mostrou um rolo (Livro da Lei) e mandou que ele comesse (se alimentasse) e enchesse dele as suas entranhas (seu interior). Ele come e era mais doce que o mel (Sl 19:10). Não bastaria que Ezequiel falasse a Palavra, era necessário que ele mesmo a focasse em sua vida interior (entranhas), através de seu compromisso pessoal com a Palavra.
Todo crente é um mensageiro (a) de Deus, e para cumprir essa missão devemos fazer como Ezequiel: focar a Palavra de Deus em nossa própria vida. Paulo manifesta essa preocupação quando diz “Depois de haver pregado a outros não venha eu mesmo a ser desqualificado”. Nosso compromisso primeiramente não é com a obra de Deus, mas com o Deus da obra. Não adianta nada pregar a Palavra e não viver a Palavra, saber e falar o que agrada a Deus e não praticar. E só há um caminho para se obter e permanecer nesse foco: a Palavra de Deus!
- “abre a tua boca” é ser / estar receptivo para receber a Palavra de Deus;
- “come o que Eu te dou” é não rejeitar o alimento que vem de Deus;
- “enche as tuas entranhas” é não ficar na superficialidade, mas ir a fundo no conhecimento da Palavra de Deus. É também quantidade, ler e estudar bastante a Bíblia para conhecer bastante a Bíblia, até ficar impregnado dela.
- “doce como o mel” é sentir prazer, deleitar-se, desfrutar com alegria da Palavra de Deus.
O Breve Catecismo, em sua segunda pergunta, nos apresenta a “BÍBLIA, MANUAL DO CRENTE”, faz a seguinte pergunta:
“Que regra Deus nos deu para nos dirigir na maneira de O glorificar e gozar?”
Resposta: “A Palavra de Deus, que se acha nas Escrituras do Velho e do Novo Testamentos, é a única regra para nos dirigir na maneira de O glorificar e gozar.” (Gl 1:8-9; Lc 16:29,31; 2 Tm 3:15-17).
Note que a Palavra de Deus não é só o Novo Testamento, mas o Antigo Testamento também. O Rev. Onézio Figueiredo, comentando essa questão diz:
“O gozo (prazer e alegria) do servo de Deus está em:
A - Submeter seus impulsos e desejos sensoriais ao imperativo controlador e santificador da Palavra de Deus. O alimento, o lazer, o trabalho e o sexo são bênçãos divinas para o crente e, exercitadas por este conforme as ordenanças bíblicas, convertem-se em atos de glorificação ao Criador e de realizações extremamente prazerosas.”
CONCLUSÃO
Fala-se muito em nossos dias acerca da voz profética, porém na maioria das vezes essa expressão é utilizada de forma equivocada. Somos todos profetas do Senhor, a partir do momento em que fomos salvos por Ele e recebemos essa incumbência: “Ir por todo o mundo e pregar o Evangelho a toda criatura.” (Mc 16:15). Não devemos enfocar o sobrenatural de Deus equivocadamente e confuso, como se somente o Pastor fosse o mensageiro. Ser cristão é viver a vida sobrenatural de Deus. Você não precisa sentir nada para isso, precisa apenas crer. E crendo nEle e em Sua Palavra, seremos a Sua voz nesse mundo que tanto carece ouvir a mensagem do Evangelho.
Como você se vê? Que você se veja como boca de Deus, profeta de Deus.
Que Deus nos ajude nessa gloriosa missão.
Por: Rev. Paulo Sergio da Silva
IPB de Vila Gerti, S.C.Sul / SP.
Culto de Louvor 07/09/14 – item 1 “PREGAR A PALAVRA DE DEUS”.
Culto de Louvor 28/09/14 – item 2 “DESCANSAR EM DEUS E NÃO TEMER AOS HOMENS”.
Culto de Louvor 05/10/14 – item 3 “FOCAR SEU COMPROMISSO COM A PALAVRA DE DEUS”.
Material de apoio: BEG - Bíblia de Estudo de Genebra.
SDG – A DEUS TODA GLÓRIA!!!
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