A CLASSIFICAÇÃO DOS PERSONAGENS NAS NARRATIVAS BÍBLICAS
Por: Rev. Ivan Pereira Guedes
A Bíblia é um livro de narrativas históricas de maneira que nela encontraremos inúmeros personagens, que surgem e desaparecem, mas que se entrelaçam como uma rede no conjunto dos acontecimentos registrados. Se há momentos em que os fatos narrados sejam mais importantes do que os personagens que deles participam, em outros os personagens acabam sobrepujando os próprios fatos, de maneira que, tanto a trama quanto os personagens são igualmente importantes (CHATMAN, Story and Discurse, 110; RYKEN, Words of Delight, 71).
Para compreendermos corretamente um texto bíblico é necessário, portanto, que analisemos não apenas os fatos, principalmente quando eles se sobressaem, como também não podemos centralizar somente nos personagens desprezando a narrativa em que estão inseridos. É fundamental para uma boa hermenêutica e/ou exegese, que sempre levemos em conta tanto um quanto o outro.
E relação aos personagens eles também desempenham papéis diferentes na narrativa histórica. O personagem pode ser uma pessoa ou um grupo de pessoas, um país, uma cidade, uma vila e/ou povoado, uma tribo; e no caso bíblico muitas vezes o mundo, referindo-se à humanidade de forma geral, torna-se um personagem, que compõe a narrativa histórica. Alguns personagens se sobressaem fazendo sombra sobre outros personagens; alguns aparecem em diversos momentos da narrativa bíblica e outros aparecem uma única vez. Sobre alguns personagens temos informações mais detalhadas, enquanto que de outros nem mesmo do nome somos informados.
Em relação à narrativa os personagens podem ser classificados em ao menos três grupos e/ou categorias.
Protagonistas. Inclui um ou mais personagens centrais, bem como aqueles que desempenham um papel coadjuvante, podendo ser bom ou mau, herói ou bandido. O fato é que ele desempenha um papel central na história relatada. Ao redor deste personagem, tempos coadjuvantes, podendo ser muitos ou poucos ou apenas um, mas que servirá de apoio ao protagonista.
Antagonistas. É o principal personagem que se coloca em oposição ao protagonista. Não necessariamente será do mal, ainda que na maioria das vezes o seja. O que importa aqui é o fato de que ele se coloca em oposição, gerando a tensão dramática da narrativa. O antagonista pode não ser uma pessoa, mas uma circunstância. O antagonista também pode ter seus coadjuvantes, que servem de apoio e desempenham papéis secundários.
Ambivalentes. São aqueles personagens que não apoiam nem o protagonista e nem o antagonista, ou que inicialmente apoiam um e no transcorrer da narrativa apoio o outro.
Além desta classificação os personagens se caracterizam também pela forma com que são inseridos na narrativa. Alguns são apresentados através de diversas perspectivas e com muitas informações, outros são apresentados de forma superficial e com poucas informações sobre eles; e por fim tem aqueles personagens dos quais nada ficamos sabendo sobre eles.
Seguindo uma vez mais a classificação proposta por Pratt Jr temos.
Personagens tridimensionais. São aqueles que a narrativa nos revelam diversas informações sobre eles, de maneira que podemos conhecê-los em suas formas de pensar, sentir, e as motivações de suas ações e/ou atitudes, dando-nos a dimensão de que são pessoas reais em situações reais. Isto ocorre quando tais personagens aparecem em várias narrativas longas, ou quando, ainda que em pequenos textos, ele é apresentado de diversas formas, permitindo que se construa seu mosaico pessoal.
Personagens bidimensionais. São aqueles que mesmo tendo uma participação efetiva na narrativa, são apresentados de forma superficiais “estruturados em torno de uma única qualidade ou característica”. (Berlin, Poetics and Interpretation, pg.23). É necessário observar que um personagem pode ser tridimensional em um relato longo e bidimensional em outros momentos da narrativa bíblica. Aqui não estamos falando sobre a ênfase teológica do personagem, como explica Pratt Jr: “A profundidade da exposição em um determinado episódio não é uma indicação da importância teológica de um personagem” (pg.171).
Personagens funcionais. A grande maioria dos personagens que compõe as narrativas bíblicas é funcional, ou seja, praticamente nada sabemos a respeito deles durante a leitura, são semelhantes aos figurantes dos filmes. São incluídos porque proporcionam a sensação de realismo e coerência à narrativa. Uma vez mais é preciso observar que um mesmo personagem pode se destacar em alguns textos e aparecer em outros como funcionais.
Tendo esta compreensão em relação aos personagens é interessante nos exercitarmos em visualizar a maneira como o escritor organiza seus personagens: quem é o protagonista e o antagonista, bem como seus respectivos coadjuvantes e finalmente quem são os personagens ambivalentes, bem como são apresentados se de forma tridimensional, bidimensional, ou funcional. A prática contínua da leitura bíblica utilizando tais ferramentas textuais nos capacitara a identificarmos com mais clareza qual realmente a mensagem mais importante do texto, e a evitarmos conclusões precipitadas e/ou equivocadas.
Na medida em que formos elaborando aqui o nosso singelo dicionário de personagens e tipologias nos esforçaremos para classificar os personagens dentro destas categorias propostas acima.
Referências bibliográficas:
BERLIN, Adele. Poetics and interpretation of biblical narrative. Indiana: Eisenbrauns, Winona Lake, reprinted 1994, 1995, 1999, 2005.
CHATMAN, Seymour Benjamin. Story and discourse - narrative structure in fiction and film. New York: Cornell University Press, 1978 (paperbacks, 1980).
PRATT JR, Richard L. Ele nos deu histórias – um guia completo para a interpretação de histórias do Antigo Testamento. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, capto 6.
RYKEN, Leland. Words of delight - a literary introduction to the bible. Baker Publishing Group: 1993.
O Rev. Ivan é Pastor da Congregação Presbiterial em Bertioga / SP, e Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Mackenzie.
Reflexão Bíblica.
SDG – A DEUS TODA GLÓRIA!!!
A Bíblia é um livro de narrativas históricas de maneira que nela encontraremos inúmeros personagens, que surgem e desaparecem, mas que se entrelaçam como uma rede no conjunto dos acontecimentos registrados. Se há momentos em que os fatos narrados sejam mais importantes do que os personagens que deles participam, em outros os personagens acabam sobrepujando os próprios fatos, de maneira que, tanto a trama quanto os personagens são igualmente importantes (CHATMAN, Story and Discurse, 110; RYKEN, Words of Delight, 71).
Para compreendermos corretamente um texto bíblico é necessário, portanto, que analisemos não apenas os fatos, principalmente quando eles se sobressaem, como também não podemos centralizar somente nos personagens desprezando a narrativa em que estão inseridos. É fundamental para uma boa hermenêutica e/ou exegese, que sempre levemos em conta tanto um quanto o outro.
E relação aos personagens eles também desempenham papéis diferentes na narrativa histórica. O personagem pode ser uma pessoa ou um grupo de pessoas, um país, uma cidade, uma vila e/ou povoado, uma tribo; e no caso bíblico muitas vezes o mundo, referindo-se à humanidade de forma geral, torna-se um personagem, que compõe a narrativa histórica. Alguns personagens se sobressaem fazendo sombra sobre outros personagens; alguns aparecem em diversos momentos da narrativa bíblica e outros aparecem uma única vez. Sobre alguns personagens temos informações mais detalhadas, enquanto que de outros nem mesmo do nome somos informados.
Em relação à narrativa os personagens podem ser classificados em ao menos três grupos e/ou categorias.
Protagonistas. Inclui um ou mais personagens centrais, bem como aqueles que desempenham um papel coadjuvante, podendo ser bom ou mau, herói ou bandido. O fato é que ele desempenha um papel central na história relatada. Ao redor deste personagem, tempos coadjuvantes, podendo ser muitos ou poucos ou apenas um, mas que servirá de apoio ao protagonista.
Antagonistas. É o principal personagem que se coloca em oposição ao protagonista. Não necessariamente será do mal, ainda que na maioria das vezes o seja. O que importa aqui é o fato de que ele se coloca em oposição, gerando a tensão dramática da narrativa. O antagonista pode não ser uma pessoa, mas uma circunstância. O antagonista também pode ter seus coadjuvantes, que servem de apoio e desempenham papéis secundários.
Ambivalentes. São aqueles personagens que não apoiam nem o protagonista e nem o antagonista, ou que inicialmente apoiam um e no transcorrer da narrativa apoio o outro.
Além desta classificação os personagens se caracterizam também pela forma com que são inseridos na narrativa. Alguns são apresentados através de diversas perspectivas e com muitas informações, outros são apresentados de forma superficial e com poucas informações sobre eles; e por fim tem aqueles personagens dos quais nada ficamos sabendo sobre eles.
Seguindo uma vez mais a classificação proposta por Pratt Jr temos.
Personagens tridimensionais. São aqueles que a narrativa nos revelam diversas informações sobre eles, de maneira que podemos conhecê-los em suas formas de pensar, sentir, e as motivações de suas ações e/ou atitudes, dando-nos a dimensão de que são pessoas reais em situações reais. Isto ocorre quando tais personagens aparecem em várias narrativas longas, ou quando, ainda que em pequenos textos, ele é apresentado de diversas formas, permitindo que se construa seu mosaico pessoal.
Personagens bidimensionais. São aqueles que mesmo tendo uma participação efetiva na narrativa, são apresentados de forma superficiais “estruturados em torno de uma única qualidade ou característica”. (Berlin, Poetics and Interpretation, pg.23). É necessário observar que um personagem pode ser tridimensional em um relato longo e bidimensional em outros momentos da narrativa bíblica. Aqui não estamos falando sobre a ênfase teológica do personagem, como explica Pratt Jr: “A profundidade da exposição em um determinado episódio não é uma indicação da importância teológica de um personagem” (pg.171).
Personagens funcionais. A grande maioria dos personagens que compõe as narrativas bíblicas é funcional, ou seja, praticamente nada sabemos a respeito deles durante a leitura, são semelhantes aos figurantes dos filmes. São incluídos porque proporcionam a sensação de realismo e coerência à narrativa. Uma vez mais é preciso observar que um mesmo personagem pode se destacar em alguns textos e aparecer em outros como funcionais.
Tendo esta compreensão em relação aos personagens é interessante nos exercitarmos em visualizar a maneira como o escritor organiza seus personagens: quem é o protagonista e o antagonista, bem como seus respectivos coadjuvantes e finalmente quem são os personagens ambivalentes, bem como são apresentados se de forma tridimensional, bidimensional, ou funcional. A prática contínua da leitura bíblica utilizando tais ferramentas textuais nos capacitara a identificarmos com mais clareza qual realmente a mensagem mais importante do texto, e a evitarmos conclusões precipitadas e/ou equivocadas.
Na medida em que formos elaborando aqui o nosso singelo dicionário de personagens e tipologias nos esforçaremos para classificar os personagens dentro destas categorias propostas acima.
Referências bibliográficas:
BERLIN, Adele. Poetics and interpretation of biblical narrative. Indiana: Eisenbrauns, Winona Lake, reprinted 1994, 1995, 1999, 2005.
CHATMAN, Seymour Benjamin. Story and discourse - narrative structure in fiction and film. New York: Cornell University Press, 1978 (paperbacks, 1980).
PRATT JR, Richard L. Ele nos deu histórias – um guia completo para a interpretação de histórias do Antigo Testamento. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2004, capto 6.
RYKEN, Leland. Words of delight - a literary introduction to the bible. Baker Publishing Group: 1993.
O Rev. Ivan é Pastor da Congregação Presbiterial em Bertioga / SP, e Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Mackenzie.
Reflexão Bíblica.
SDG – A DEUS TODA GLÓRIA!!!
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