A IGREJA E MISSÕES - EVANGELIZAÇÃO NO ESTILO DE JESUS

Por: Rev. Paulo Serafin
 

"E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades. Vendo Ele as multidões, compadeceu-Se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. E, então, Se dirigiu a seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a Sua seara." Mateus 9:35-38.

Nos dias atuais, discute-se muito sobre qual é o melhor método ou estratégia para uma evangelização eficiente. Considero a reflexão saudável, porém, geralmente ela incorre em erro, porque tenta sair do básico, do essencial em busca de novas metodologias. Nada contra elas, mas quando pensamos que o nosso método é uma espécie de panacéia missionária, enganamos e somos enganados. Obs.: panacéia: pretenso remédio universal para todos os males físicos e morais (Dicionário Priberam).

Eu penso que nós não devemos abrir mão dos princípios e exemplos bíblicos no tocante a evangelização, principalmente, não podemos deixar de olhar para Jesus e para Sua forma de alcançar os pecadores com o Evangelho. No texto em questão, escrito pelo evangelista Mateus, percebemos detalhes importantes do estilo de evangelização de Jesus.


COMPAIXÃO. Primeiro, Ele estava baseado na compaixão. Ao ver uma pessoa ou milhares delas, Jesus tinha grande compaixão. Compaixão não significa somente ter pena, dor, mas principalmente misericórdia e amor pelo sofrimento alheio, ao ponto de agir em seu favor. Jesus via as pessoas como ovelhas que não tem pastor. Uma ovelha sem pastor está em grande perigo: cair num buraco, ser comida de lobos vorazes ou furtado de sua família e de seu dono. Uma pessoa sem pastor, sem alguém para lhe mostrar o caminho de Deus, corre risco de morte, morte eterna.

Temos que olhar para cada pessoa que temos contato como alguém que precisa de orientação espiritual. Você é o pastor do seu amigo, do seu vizinho, do seu colega de trabalho, daquele que Deus colocou no seu caminho. Sem essa compaixão, sem esse amor de Deus, não teremos iniciativas abençoadoras em direção as pessoas. O Pastor Marcos Alexandre, da Igreja Presbiteriana Nacional de Brasília contou uma história interessante que aconteceu na África do Sul com seu professor.

Houve um grande congresso de evangelização e esse professor estava presente. Os participantes do congresso, de várias partes do mundo, todo dia tomavam o táxi do hotel, onde estavam hospedados para o lugar das palestras. Um dia esse professor entrou no táxi e ao perceber que o motorista não era evangélico, mas sim um muçulmano, ele fez uma pergunta àquele homem:


- Você tem levado todo dia muita gente para o congresso de evangelização?
- Sim, foi sua resposta.
- Quantos desses congressistas falaram para você acerca de Jesus, o Filho de Deus?
- Você é primeiro, respondeu o homem mais uma vez.

Podemos ter o último método, participar de inúmeros congressos, porém, se não tivermos compaixão, amor pelas pessoas, fruto do amor de Deus em nós, não seremos o próximo daquele que está ao nosso lado e que precisa de nós para o instruirmos no caminho da salvação em Cristo. Lembremos da parábola do bom samaritano, contada por Jesus: quem mais conhecia a teologia e a religião? O sacerdote e o levita. Mas, quem se compadeceu do homem caído no chão? O samaritano.


É bom ter conhecimento da teologia e da religião, mas só isso não nos fará bons evangelistas. Precisamos também de um coração compassivo, misericordioso e cheio de amor por aqueles que ainda não conhecem Jesus. Se nós presbiterianos, aliarmos a nossa boa teologia com compaixão, ninguém nos segura em missões.

Buscar e salvar o perdido, a pessoa sem Cristo era prioridade para Jesus. Será que é para você também? Será que olhamos para as pessoas como mais um na multidão ou como ovelhas que não tem pastor? Como uma pessoa que precisa que alguém lhe mostremos o caminho para Deus assim como você já encontrou? Quantas pessoas já ouviram do plano salvador de Deus em Cristo Jesus através da sua vida este ano? Se Jesus voltasse hoje, quantas pessoas estariam no Céu, fruto do trabalho evangelístico movido por sua compaixão e amor pelos perdidos? Reflita sobre isso. Ore, pedindo compaixão a Deus. 


ORAÇÃO. O estilo de evangelização de Jesus estava baseado na compaixão, e em segundo lugar, também na oração. Jesus vendo o grande desafio da obra missionária, muita gente para ser evangelizada e poucas pessoas dispostas a fazê-la, Se dirigiu aos Seus discípulos pedindo para que orassem a Deus, rogando mais trabalhadores para Sua seara. É interessante, que logo a seguir ele chamou os doze Apóstolos e os enviou em missão. Somos a resposta de Deus para a oração por mais obreiros.

"Pastor, o senhor está me dizendo que se eu orar por mais obreiros sou parte importante da resposta de Deus?" Sim! Ore por mais obreiros e seja parceiro de Deus no Seu grande projeto de salvação para a humanidade. Ore por mais obreiros, ore pelos obreiros que já estão nos campos, ore por envolvimento da Igreja com missões, ore pela conversão dos pecadores, ore por mais recursos financeiros para missões, ore para que o poder do Espírito Santo atue na sua vida, na vida dos missionários e na vida das pessoas que ouvirão sua pregação.

Infelizmente, a oração tem sido muito desprezada na vida de muitos crentes, individualmente e na vida de suas Igreja como um todo, mesmo Jesus dando uma grande importância para ela. Jesus vivia em constante oração, ensinou sobre oração, chamou a atenção para a perseverança na oração através de várias parábolas; todavia, não estamos prestando a devida atenção a ela como Jesus gostaria. Temos que nos arrepender imediatamente e pedir graça a Deus para desenvolvermos uma vida de oração, sobretudo, uma vida de oração para que a obra de Deus avance no mundo.

Uma das coisas que o campo missionário nos ensina é valorizarmos a oração. Uma coisa que é simples e se resolve rápido no Brasil, no campo missionário de Guiné-Bissau, por exemplo, leva dias ou meses. Por isso, temos que orar mais para conseguirmos alguns avanços. Após algum tempo no campo, fui levar a termo o desejo da Igreja de abrir uma conta no banco. Orei e fui ao banco com a papelada, na certeza que seria fácil. Todavia, levei dois meses para conseguir a tal façanha. Foram muitas idas e vindas ao banco, levando novos documentos exigidos. Oramos em casa, oramos na Igreja, oramos com os líderes da Igreja, e graças ao bom Deus, Ele permitiu a abertura da conta depois de dois meses.

Qual tem sido o seu investimento em oração? Oração a sós com Deus. Oração com a família, com outros irmãos e com a Igreja? Você tem orado regularmente pelos missionários, por mais obreiros, por crescimento espiritual e numérico da Igreja. Tem orado a Deus com um coração humilde e obediente para que quando Deus quiser usar a sua vida, Ele não fique triste com sua relutância? Um dos tempos que mais orei foi quando minha esposa foi ao Brasil para tratamento médico. Fiquei mais de 50 dias com os filhos e a saudade da amada. Levantava de madrugada, orava por ela, por mim, por Guiné-Bissau, pelos missionários, ou seja, orava e dormia, dormia e orava. Hoje oro a Deus para continuar sempre orando...

PREGAÇÃO. O estilo de evangelização de Jesus estava baseado na compaixão, na oração, e em terceiro lugar na pregação. Jesus não esperava as pessoas virem até Ele, pelo contrário, Ele ia onde elas estavam: nas casas, nas ruas, nas cidades, nos campos, nas sinagogas, etc. Ele ia até as pessoas para pregar e ensinar sobre as realidades do Reino de Deus através de parábolas, ditos e histórias. Jesus pregava e ensinava com tanto amor e autoridade que as multidões ficavam maravilhadas com Seu ensino, pois falavam de realidades que eles entendiam e que tocavam os seus corações angustiados.

Sua pregação e ensino traziam esperança para os pecadores, porque era uma mensagem que os convidava para o arrependimento e a fé nEle como solução para os seus fardos pesados e sobrecarregados, ou seja, seus pecados que atormentavam suas vidas. Jesus anunciava a grande boa nova, de que nEle Deus pedoa o pecador e o reconcilia conSigo mesmo. É claro que mesmo essa boa notícia foi rejeitada por muitos judeus, especialmente pelos fariseus, que se consideravam bons demais para precisarem de perdão e arrependimento.

Enquanto desenvolveu Seu ministério terreno, Jesus não "inventou moda", apenas pregou e ensinou a Palavra de Deus com todo empenho e dedicação. Inclusive, um dos Seus conjuntos de ensinos mais famaso é o chamado "Sermão do Monte", onde gastou tempo ensinando sobre as características dos cidadãos do Reino dos Céus. Após pregar e ensinar às multidões, perto de partir para o Céu, dedicou tempo e atenção para ensinar aos Seus discípulos para que esses continuassem Seus ensinos depois que Ele partisse. Se Jesus gastou a maioria do Seu tempo pregando e ensinando, porque não fazemos o mesmo? 


AÇÃO. O estilo de evangelização de Jesus estava baseado na compaixão, na oração, na pregação e, por fim, em quarto lugar, na ação. Uso a palavra ação para enfatizar a prática da misericórdia, do amor, do socorro e de atos de bondades para com as pessoas, independente de serem cristãs ou não. É aquilo que chamamos de boas obras, feitas não para ganhar algo de Deus ou para fisgar as pessoas, mas como fruto do amor de Deus em nós e em obediência ao nosso chamado. Como o apóstolo Paulo destaca: "Pois somos feitura dEle, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus preparou de antemão para que andássemos nelas." Efésios 2:10.

O amor verdadeiro sempre leva à ação, porque ele não é só sentimento, mas principalmente atitude, escolha em fazer o bem para o nosso próximo, até mesmo se ele for nosso inimigo, como Jesus ensinou e praticou. Jesus alimentou multidões famintas, curou enfermos, libertou pessoas que tinham demônios, pois Sua visão do ser humano era integral. Ele pensava na pessoa toda e não somente na salvação da sua alma. A Igreja deve manisfetar o amor de Deus de forma prática, agindo para amenizar o sofrimento e a miséria humana através de projetos sociais sustentáveis, como por exemplo: fundações de escolas, hospitais, centro de nutrição, cursos técnicos, práticas esportivas, etc. 


Em Guiné-Bissau, encontramos boa abertura para a pregação do Evangelho por causa do grande trabalho da missões evangélicas, reconhecido até pelas autoridades guineenses, principalmente nas áreas de educação, saúde e nutrição. Por causa da sequência de golpes militares no país, a maioria dos investimentos estrangeiros foram-se, porém, as missões evangélicas, principalmente, as brasileiras continuam investindo no país, mostrando efetivamente o amor de Deus através de ações concretas e não só com palavras. O centro de nutrição "Vida Abundante", da Igreja Presbiteriana de Gabu, atende cerca de 70 crianças e mães desnutridas, oferendo-lhes alimento, remédios e dicas de higiene e saúde, além da Palavra de Deus que é pregada diariamente durante o atendimento.

Gostaria de concluir essa mensagem, dizendo o seguinte: hoje no Brasil tem congresso para tudo. Não sou contra congressos, alías já participei de alguns deles, todavia, fico me perguntando: será que vale a pena gastar tanto tempo e dinheiro em alguns congressos de evangelização para ficarmos ouvindo sobre novos métodos, estratégias, na maioria da vezes, ouvimos promessas de crescimento rápido se seguimos aqueles três, quatro, cinco ou intermináveis passos para a evangelização eficiente, quando poderíamos estar fazendo o básico, o essencial, aquilo que Jesus fez, movido por compaixão pelos pecadores; movido por uma vida de oração pelo avanço da obra de Deus no mundo; movido por uma vida de pregação incansável da Palavra de Deus; e movido por atitudes de amor para com as pessoas que sofriam os males e as injustiças deste mundo pecaminoso?


A fim de me lembrar do estilo de evangelização de Jesus, criei a palavra "COPA", já que em 2014 teremos a copa do mundo de futebol no Brasil. COPA: COMPAIXÃO, ORAÇÃO, PREGAÇÃO, AÇÃO.

O Rev. Paulo Serafin, é Missionário Presbiteriano da
APMT em Guiné Bissau / África. 
Leia também: NOVA IGREJA É PLANTADA NA ETNIA FULA EM GUINÉ-BISSAU.

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