INTRODUÇÃO AO NT - A CANONICIDADE DOS LIVROS DO NT

Por: Rev. Ivan Pereira Guedes

Originalmente os livros do Novo Testamento estiveram circulando separados e individualmente. Gradualmente estes livros foram sendo colecionados para formar o que nós agora conhecemos como o Novo Testamento, que vem a se constituir o cânonda Sagrada Escritura. Pela providência de Deus, os vinte e sete livros do Novo Testamento foram colocados à parte de muitos outros escritos durante os primórdios da igreja. Eles foram preservados para comporem o cânon do Novo Testamento por causa de sua inspiração e autoridade apostólica. Ryrie tem um resumo excelente deste processo:

“Depois que eles foram escrito, os livros individuais não estiveram imediatamente juntados dentro do cânon, ou coleção dos vinte e sete que compreende o Novo Testamento. As cartas de Paulo e os Evangelhos foram preservadas a principio pelas igrejas ou pessoas para quem eles foram enviados, e gradualmente todos os vinte e sete livros foram colecionados e formalmente reconhecidos pela igreja como um inteiro. Este processo durou cerca de 350 anos. ... Alguns critérios foram desenvolvidos para se determinar que livros deveriam ser incluídos. (1) Foi o livro escrito ou aprovado por um apóstolo? (2) Seu conteúdo tem uma natureza espiritual? (3) Há evidencias da inspiração Divina? (4) Foi amplamente aceito pelas igrejas? Não menos do que os vinte e sete livros foram reconhecidos como canônicos e aceitos por todo as igrejas nos séculos posteriores, mas neste processo alguns não foram aceitos imediatamente ou universalmente. ...mas finalmente esses foram incluídos, e o cânon foi concluído no Conselho de Cartago em 397 d.C. Embora nenhuma cópia original de qualquer dos escritos que compreende o Novo Testamento tenha sobrevivido, existe mais de 4.500 manuscritos Gregos de todo ou extratos de texto, mais 8.000 manuscritos Latinos e ao menos 1.000 outras versões dos livros originais que foram traduzidos. Cuidadoso estudo e comparação destas muitas cópias têm nos fornecido um preciso e confiável Novo Testamento.”


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“Canonicidade é o estudo que trata do reconhecimento e da compilação dos livros que nos foram dados por inspiração de Deus.” Geisler, Normam e Nix, William, Introdução Bíblica – Como a Bíblia Chegou Até Nós. Ed. Vida. São Paulo, 1997, p. 61. A definição de Tenney é instrutiva. “A palavra ‘cânon’ deriva do grego ‘Jamom’ , que significa ‘cana’, portanto uma vara ou barra, que, por serem utilizadas em medições, passaram a significar metaforicamente um padrão. Em gramática, significava uma regra; em cronologia, uma tabela de datas; e em literatura uma lista de obras que podiam ser corretamente atribuídas a determinado autor” MERRILL C. TENNEY, op. cit. p.427.

“Na época em que foram compostos os 27 escritos, eles ainda não eram ‘Escritura Sagrada’. ...a Escritura Sagrada, para os autores do Novo Testamento, era o Antigo Testamento. Quando introduzem citações pela formula: para que se cumprisse o que está escrito, não se referem senão ao Antigo Testamento.” Oscar Cullmann. A Formação do Novo Testamento. Ed. Sinodal, São Leopoldo, 1979. p.113. Geisler faz ainda uma breve diferenciação entre o processo de canonicidade do VT e do NT, conforme segue. “A história do cânon do Novo Testamento difere da do Antigo em vários aspectos. Em primeiro lugar, visto que o cristianismo foi desde o começo religião internacional, não havia comunidade profética fechada que recebesse os livros inspirados e os coligasse em determinado lugar. Faziam-se coleções aqui e ali, que se iam completando, logo no inicio da igreja; não há notícia , todavia, da existência oficial de uma entidade que controlasse os escritos inspirados.. Por isso, o processo mediante o qual todos os escritos apostólicos se tornassem universalmente aceitos levou muitos séculos. Felizmente, dada a disponibilidade de textos, há mais manuscritos do cânon do Novo Testamento que do Antigo. Outra diferença entre a história do cânon do Antigo Testamento, em comparação com o a do Novo, é que a partir desse momento em que as discussões resultaram no reconhecimento dos 27 livros canônicos do Novo Testamento, não mais houve movimentos dentro do cristianismo no sentido de acrescentar ou eliminar livros.

“A palavra cânon deriva do grego “Kanõn” (Cana, régua) que, por sua vez, se origina do hebraico “kaneh”, palavra do antigo Testamento que significa “vara ou cana de medir” (Ez.40:3). Mesmo em época anterior ao cristianismo, essa palavra era usada de modo mais amplo, com o sentido de padrão ou norma, além de cana ou unidade de medida. O Novo Testamento emprega o termo em sentido figurado, referindo-se a padrão ou regra de conduta (Gl.6:16). ... Nos primórdios do cristianismo, a palavra cânon significava “regra” de fé, ou escritos normativos (ou as Escrituras autorizadas). Por volta da época de Atanásio (c. 350), o conceito de cânon bíblico ou de Escrituras normativas já estava em desenvolvimento. A palavra cânon aplicava-se à Bíblia tanto no sentido ativo como no passivo. No sentido ativo, a Bíblia é o cânon pelo qual tudo o mais deve ser julgado. No sentido passivo, cânon significava a regra ou padrão pelo qual um escrito deveria ser julgado inspirado ou dotado de autoridade.” Geisler, Normam e Nix, William, op. cit., pp. 61-62 [grifo meu]. O próprio Geisler expõe muito bem os cinco critérios básicos, presentes neste processo como um todo: 1) o livro é autorizado – afirma vir da parte de Deus? 2) É profético – foi escrito por um servo de Deus? 3) É digno de confiança – fala a verdade acerca de Deus, do homem, etc...? 4) É dinâmico – possui o poder de Deus que transforma vidas? 5) É aceito pelo pode de Deus para o qual foi originalmente escrito – é reconhecido como proveniente de Deus? Ver o comentário de cada um destes critérios em sua obra.  Geisler , Normam e Nix, William, ibid., pp.66-71.

RYRIE, Charles Caldwell, ibid., p.1499. Ainda segundo Cullmann: “A elaboração do cânone do Novo Testamento foi, portanto, o fruto de um processo que, até a ficação final, estendeu-se sobre vários séculos. Mas o fato decisivo é a aparição da idéia do cânone. Este momento importante situa-se nas proximidades dos anos 140-150. Então a Igreja reconheceu que ela sozinha não podia mais controlar as tradições que pululavam, e então submeteu toda a tradição a uma norma superior, a tradição apostólica, fixada em escritos determinados que, somente esses, teriam valor canônico. Eis porque o caráter apostólico atribuído, com ou sem razão, a um escrito não deixou de influir sobre a escolha que foi feita. ... O apóstolo tem, na igreja, uma função única que não se repete mais: ele é testemunha ocular. Por conseguinte, somente os escritos tendo por autor um apóstolo ou discípulo de apóstolo, são reputados como garantia da pureza do testemunho cristão. ... Essas discussões, sem dar-se por encerradas definitivamente, foram concluídas, a grosso modo, no Oriente (com exceção da Síria) e no Ocidente, pelo fim do século IV. As datas decisivas são, para o Oriente, a 39ª carta Pascal de Atanásio, em 367, e para o Ocidente, o Sínodo de Roma de 382 e os Concílios africanos de Hipo (393) e de Cartago (397).” CULLMANN, Oscar, op. cit., 115, 117. Para uma abordagem histórica ver também: GOODSPEED, Edgard J. Como nos Veio a Bíblia, Imprensa Metodista, São Paulo, 1981. Tenney destaca que o “... verdadeiro critério da canonicidade é a inspiração...” e ele demonstra em três principio como esta inspiração pode ser demonstrada: primeiro – a inspiração destes documentos pode ser apoiada pelo seu conteúdo intrínseco; segundo – essa inspiração pode ser corroborada pelo seu efeito moral, e terceiro – o testemunho histórico da Igreja Cristã mostrará o valor que era dado a esses livros. TENNEY, Merrill C., ibid., pp.428-430.


Clique aqui e veja a publicação anterior. 

Reflexão Bíblica.

Comentários

  1. O senhor poderia explicar-me mais sobre "Cânon no sentido ativo e passivo", pois que eu não consegui compreender ainda.

    Desde já, agradeço.

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  2. Graça e paz Leitor! Desconheço o termo "Cânon no sentido ativo e passivo", mas vou verificar. Encontrando algo te informo. Grande abraço, apareça sempre. God bless you!

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