INTRODUÇÃO GERAL AO NOVO TESTAMENTO (2)

Por: Rev. Ivan Pereira Guedes

Nossa Bíblia é dividida em duas seções que chamamos de Velho e Novo Testamentos, mas qual a razão desta divisão? A Palavra Grega “testamento”, (Latim, testamentum), significa “vontade, convênio, pacto ou aliança”. Mas em conexão com o contexto das Escrituras “Pacto ou aliança” seria uma melhor tradução. O termo Novo Testamento, aponta para aquele novo relacionamento dentro do qual os homens podem ser recebidos por Deus. O Antigo Testamento ou Pacto é primeiramente um registro da maneira como Deus se relacionou com os Israelitas, regido pelo Pacto estabelecido com Moisés no Monte Sinai. O NT ou Pacto (antecipado no Jeremias 31:31 e instituído pelo Senhor Jesus, 1 Cor. 11:25), descreve a nova base que Deus estabeleceu para se relacionar, não mais com Israel somente, mas com todos os homens, de toda tribo, língua e nação, que foi ratificada em Cristo no Calvário. [1]

Os nomes Pacto Novo e Velho foram assim aplicados primeiro às duas formas com que Deus estabeleceu se relacionar com os homens, e então, aos livros que continham o registro destes dois relacionamentos. “O Novo Testamento é o registro divino dos termos pêlos quais Deus tem recebido nós rebeldes e inimigos dentro da sua paz”. [2]

Preparação Divina do Novo Testamento
No Tempo do Novo Testamento, Roma foi a força dominante do mundo do mundo e controlava praticamente todo o mundo antigo. Mas em uma pequena cidade na Palestina, na pequena e quase imperceptível cidade de Belém da Judéia, nasceu um que haveria de mudar o mundo e destronar o César romano. E concernente a esta Pessoa o apostolo Paulo escreveu. “Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, (ou Velho Pacto)” (Gal. 4:4). De forma extraordinariamente maravilhosa e especial, Deus tinha preparado o mundo para a vinda do Messias. Vários fatores contribuíram para esta preparação: [3]
 

Preparando através da Nação Judaica
A preparação para a vinda de Cristo é a linha histórica que estabelece a unidade de todos os acontecimentos e da mensagem registrada no VT. Os Judeus foram escolhidos por Deus de entre todas as nações para ser um povo de exclusividade de Deus, um reino de sacerdotes, e uma nação santa (Ex. 1:5-6). A revelação deste propósito divino inicia-se com as promessas de Deus dado aos patriarcas, Abraão, Isaque e Jacó (Gen. 12:1-3; Rom. 9:4). Deste modo, o povo israelita tornou-se os curadores da Palavra de Deus (Velho Testamento [Rom. 3:2]), e o canal pelo qual haveria de vir o Redentor (Gen. 12:3; Rom. 9:5). O tema central do Velho Testamento, portanto, é Cristo, e aponta para Sua vinda como aquele que através de seu sofrimento e glorificação, se constituiria no Salvador, e Senhor de seu povo. Além Disso, as profecias, ainda que não em grande quantidade, mas extremamente qualificativas, precisa com detalhes perfeitos: a linhagem Messiânica; o local de seu nascimento; as condições e particularidades da sua vida, morte, e até mesmo da sua ressurreição. [4]

Embora Israel esteve desobediente e foi levada para o Cativeiro, como julgamento de Deus, por causa da dureza de seus corações, Ele, contudo preservou e trouxe de volta, após setenta anos, os remanescentes para sua terra natal, como Ele tinha prometido. Tudo isso Deus fez para que se cumprisse o Seu propósito original de preparação para a vinda do Messias. Embora quatrocentos anos tinham se passado depois do registro do ultimo livro de Velho Testamento, e embora o clima religioso fosse de um Farisaísmo externo e hipócrita, havia um espirito de antecipação messiânica no ar e os remanescentes fiéis aguardavam com ardente expectativa o Messias. [5]
 
Preparação Através da Língua Grega
Reveste-se de grande importância e significado que quando Cristo, que seria o Salvador do mundo e que haveria de enviar Seus discípulos até aos fins da terra para proclamar o Seu evangelho (Mat. 28:19-20, nasceu exatamente no tempo em que havia um idioma dominante no mundo. Isto foi o resultado das conquistas e aspirações de Alexandre o Grande, o filho de Filipe o Rei da Macedônia, que mais de 300 anos do nascimento de Cristo, havia varrido o mundo antigo conquistando uma nação depois da outra. Seu desejo era um mundo e uma língua. No rastro de suas vitórias, ele estabeleceu a língua Grega como a língua comum, e a cultura Grega como o modelo de pensamento de vida. Embora seu império foi breve, o resultado de espalhar a língua Grega foi amplamente satisfatório. [6]

O ponto aqui é que Deus providencialmente foi preparando o mundo para uma língua comum e que se constituiu em um veículo incomparável de comunicação para proclamar com clareza e precisão a mensagem do Salvador. Como resultado direto, os livros do Novo Testamento foram escritos na lingua comum do povo, o Grego Koinê. Ele não foi escrito no Hebraico ou Aramaico, ainda que todos os escritores do Novo Testamento fossem Judeus, exceto Lucas que era um Gentio. O Grego Koinê tinha tornado-se a segunda língua de quase todos. [7]

Preparação Através dos Romanos
Deus continua preparando o mundo para a vinda do Salvador do mundo. Quando Cristo nasceu na Palestina, Roma dominava o mundo. A Palestina estava debaixo do domínio romano e sujeita às suas leis. A guerra civil mais longa e ensangüentada de Romana tinha finalmente terminada com o reinado de Augustus César. Como resultado, Roma tinha ampliado vastamente seus limites. Além disso, os romanos construíram um sistema de estradas que, com a proteção fornecida por seu exercito, freqüentemente patrulhando as estradas, contribuiu para a intensificação do fluxo de viajantes que cruzavam todo o império Romano. Augustus foi o primeiro Romano a usar o cetro imperial como o único governante do Império. Ele foi um moderado sábio e tinha consideração pêlos seus semelhantes, e ele trouxe um grande período de paz e prosperidade, fazendo de Roma um lugar seguro para se viver e viajar. Isto introduziu um período chamado “Paz Romana”, a Paz Roma (27 a.C. – d.C. 180). [8] E por causa de tudo que Augustus realizou, dizia-se que quando ele nasceu, um deus nasceu. Foi neste contexto histórico que nasceu aquele que se constitui na duradoura e verdadeira fonte de paz pessoal e do mundo, em contraste com a paz falsa temporária que os homens podem produzir. Cristo é verdadeiramente Deus, o Deus-homem, ao invés de um homem chamado deus. A presença da ordem e lei Romana preparava o mundo para Sua vinda e para a propagação de seu evangelho.

Marcos 1:14-15. “Ora, depois que João foi entregue, veio Jesus para a Galiléia pregando o Evangelho de Deus, e dizendo: O tempo está cumprido, e é chegando o reino de Deus. Arrependei-vos, e crede no evangelho”.

Rev. Ivan Pereira Guedes
IPB de Vicente de Carvalho
PRST - Presbitério de Santos
Guarujá / SP
 



NOTAS

Este material foi utilizado em aulas ministradas nos centros acadêmicos: Seminário Bíblico Brasileiro (SP); Faculdade de Teologia Integral (Arujá); Instituto Bíblico Presbiteriano - Rev. João Silva (SP).

[1] “O velho Pacto revela a santidade de Deus no padrão da justiça da lei e apontava para um Redentor próximo; o novo Pacto revela a santidade de Deus na justiça do Filho. O NT então, registra e manifesta o conteúdo deste novo Pacto...A mensagem do NT centraliza-se (1) naquele que deu-se a Si Mesmo para remissão dos pecados (Mat. 26:28 e (2) as pessoas (a igreja) que tem recebida Sua salvação. Assim o tema central do NT é salvação” RYRIE, Charles Caldwell, Estudo da Bíblia  Expandida, Edições Moody. P, 1498.

[2] “MACHEN, J. Greshem, O Novo Testamento-Uma Introdução de Sua Literatura e História, editado por W. C. John, A Bandeira da Confiança da Verdade, Edinburgh, 1976, p. 16.

[3] Ver também o excelente comentário feito por Champlin, onde ele divide estes quatrocentos anos em quatro períodos bem definidos da história: (1) o período persa, 430-322 a.C.; (2) o período grego, 321-167 a.C.; (3) o período da independência (judaica), 167-63 a.C.; (4) o período romano, 63 a.C. até Jesus Cristo. CHAMPLIM, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado, Ed. Milenium, São Paulo, 1985, pp. 131-132.

[4] Vale a pena consultar o material organizado por McDowell sobre as profecias messiânicas do VT cumpridas integralmente no NT. MCDOWELL, Josh, Evidência que Exige um Veredicto, Ed. Candeia, São Paulo, 1989, pp. 181-224.

[5] “A esperança escatológica era a outra nota comum da fé de Israel. Todos, desde os saduceus até os zelotes, guardavam a esperança messiânica e criam fortemente que o dia chegaria em que Deus interferia na história para reestruturar a Israel e cumprir suas promessas de um Reino de paz e justiça. Alguns criam que seu dever estava em acelerar a chegada desse dia recorrendo às armas. Outros diziam que tais coisas deviam deixar-se exclusivamente nas mãos de Deus. Mas todos concordavam em sua visão dirigida em direção ao futuro, quando se cumpriram as promessas de Deus” [grifo meu]. GONZALES, Justo L. A Era dos Mártires, v.1, Ed. Vida Nova, São Paulo, 1984, p.19. Além desta esperança messiânica, os judeus contribuíram também: com sua fé monoteísta, seu sistema ético, sua literatura canônica do VT, sua filosofia da história e o surgimento da sinagoga. Cains faz um breve comentário de cada um destes pomos. CAINS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos, Ed. Vida Nova, São Paulo, 1984, pp. 34-36.

[6] “É significativo que a língua Grega torna-se um, ao invés de muitos dialetos, no tempo que o domínio Romano predominou sobre o mundo. A língua espalhada por Alexandre, permaneceu mesmo depois da divisão do reino e penetrou em todas as esferas do mundo Romano. ...Paulo escreveu a igreja em Roma em não apenas da literatura, mas do comércio e do dia-a-dia cotidiano de todas as pessoas.” ROBERTSON, A. T. Uma Gramática do Novo Testamento à Luz da Pesquisa Histórica, Ed. Broadman, Nashville, 1934, p. 54. Cains também destaca esse ponto: “Assim como o inglês no mundo moderno e o latim no mundo medieval erudito, o grupo tornou-se no mundo antigo, ao tempo em que o Império Romano apareceu, a língua universal.” CAINS, Earle E. Op. Cit. p. 32.

[7] Foi através deste dialeto do homem comum, conhecido como Koinê  e diferente do grego clássico, que os cristãos foram capazes de se comunicar com os povos do mundo antigo, usando-o inclusive para escrever o seu Novo Testamento, o mesmo  fazendo os judeus de Alexandria para escrever o seu Velho Testamento, a Septuaginta. Só recentemente se soube que o grego do Novo Testamento era o vernáculo do homem comum dos dias de Jesus Cristo, que dá a diferença entre ele e o grego dos clássicos. ...Esta descoberta deu origem ao surgimento de inúmeras traduções modernas. Se o Evangelho foi escrito na língua do povo comum à época de sua produção, raciocinam os tradutores, deve ser colocado então na língua do povo comum de nossos dias” CAINS, Earle E. ibid. pp. 32-33. OBS.: Esta foi uma preocupação constante dos Reformadores do século XVI.

[8] “Os romanos, como nenhum outro povo até então, desenvolveram um sentido da unidade da espécie sob uma lei universal. Este sentido da solidariedade do homem no Império criou um ambiente favorável à aceitação do Evangelho que proclamava a unidade da raça humana, baseada no fato de que todos os homens estavam sob a pena do pecado e no fato de que a todos era oferecida a salvação que os integra num organismo universal, a Igreja Cristã, o Corpo de Cristo” CAINS, Earle E. ibid. p. 29. “A unidade administrativa do Império Romano, com as figuras dos seus magistrados, serviu admiravelmente à difusão do Evangelho. ...A unidade, dando segurança e ordem favoreceu o trabalho dos Apóstolos. São Paulo foi protegido pelos romanos contra os judeus.” BALLARINI, Teodorico. v.1, Ed. Vozes, Petrópoles, 1974, p. 36.


Extraído de Reflexões Bíblicas e publicado com autorização 

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