A Missão Ecológica da Igreja
“No princípio, criou Deus os Céus e a Terra.” Gênesis 1:1.
“Vi novo Céu e nova Terra [...]” Apocalipse 21:1a.
Por: Paulo Serafim
Nós que conhecemos a Cristo, o Criador e Redentor do homem e de todo o Universo, e que deveríamos estar na vanguarda da questão ecológica, pois ela é parte da missão que Deus confiou à humanidade e, principalmente, ao Seu povo. Por isso, neste artigo, quero abordar algumas questões sobre a nossa missão de cuidar da criação de Deus como parte fundamental da nossa missão cristã.
A Escritura inicia e termina com a criação: “No princípio, criou Deus os Céus e a Terra” (Gn 1.1). “Vi novo Céu e nova Terra...” (Ap 21.1) É importante destacar que a palavra novo do grego “kainos” não significa novo no sentido de que nunca existiu, mas um novo com qualidades e aspectos diferentes. Isso significa que João viu a criação antiga redimida, sem a atuação de satanás, da morte e do pecado. Antes de criar o homem, Deus criou um lugar para Sua habitação e para que desfrutasse de um relacionamento íntimo com o Seu Criador, com o Seu próximo e com toda a criação.
Os três primeiros capítulos de Gênesis seguem esta ordem: no primeiro versículo do capitulo 1, vemos o tema geral da criação - Deus e o Criador de todas as coisas; do verso 2 ao verso 25, vemos os detalhes dessa criação; dos versos 26 ao verso 3 do capítulo 2, vemos o tema geral da criação do homem e da mulher; dos versos 4 ao 25, vemos os detalhes da criação do primeiro casal. Já no capitulo 3, vemos registrados a entrada do pecado na história humana, suas consequências para o homem e para toda a criação e a promessa da redenção.
Por causa da desobediência, o homem trouxe pecado, morte e sofrimento para toda a raça humana e para toda a criação (Gn 3.17). Assim como os efeitos do pecado atingiram o homem e toda a criação de Deus. A obra de Jesus na Cruz tem poder para eliminar os efeitos do pecado no homem e em toda a criação como afirmou Paulo em Cl 1. 19 e 20: “Porque aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude e que havendo feito a paz pelo Sangue da sua Cruz, por meio dEle, reconciliasse Consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a Terra, quer nos Céus”. Sabemos que Deus é o autor da redenção do homem e da criação, todavia, Ele compartilha essa missão conosco nos dando a benção de sermos partes integrantes do Seu propósito redentor.
Além de ser o Criador e Redentor, Deus chama a nossa atenção para o fato de que Ele é o dono da Terra: “Eis e os Céus e os Céus dos Céus são do SENHOR, teu Deus, a Terra e tudo que nela há” (Dt 10.14). Tudo que existe pertence a Deus porque Ele é o Criador e dono de tudo, mesmo que a arrogância e ganância do homem pensem o contrário. Deus permite que moremos no Seu mundo como inquilinos, todavia, prestaremos contas a Ele pela maneira que usamos Sua propriedade, pois fomos colocados no mundo como Seus mordomos com a responsabilidade de cuidar bem da Sua criação (Gn 2.15).
A teologia bíblica fala dos três mandatos que Deus como Rei deu ao homem: o mandato espiritual, que envolve o relacionamento do homem com Deus; o mandato social, que envolve o relacionamento do homem com o seu próximo; e o mandato cultural, que envolve o relacionamento do homem com a criação. “Era para o homem e a mulher exercitarem suas prerrogativas reais, governando sobre o Cosmos, desenvolvendo-o e simultaneamente mantendo-o” (Van Groningen, Criação e Consumação, Volume I, p. 90). Todavia, esse governo do homem sobre a criação deve ser para o bem dela, para o bem do homem e, principalmente, para a glória de Deus.
O domínio que foi dado ao homem sobre a criação não significa exploração desenfreada e subjugação desumana e cruel, mas cuidado e proteção, a exemplo do próprio Deus que cuida e protege Sua criação como vemos descrito no Salmo 145. “Governar e servir a criação e a primeira missão da humanidade sobre a terra e Deus jamais revogou este mandato” (Christopher Wright, A Missão do Povo de Deus, p.65). Pelo fato de sermos humanos e cristãos somos duplamente responsáveis para cuidar da criação como parte do nosso chamado para amar e obedecer a Deus.
Buscando o ponto de equilíbrio, devemos evitar dois extremos quando o assunto é cuidado com a criação: o extremo de diviniza-la, tratando-a de forma idólatra, como se ela tivesse força e poder em si mesma; e o extremo de despreza-la e trata-la como se ela não tivesse nenhum valor, esperando dela apenas a satisfação dos caprichos e ganância dos homens. Tanto um extremo quanto o outro ofendem o Criador. O primeiro rouba a gloria que só Deus merece e o segundo despreza a bondade de Deus demonstrada na Sua criação.
Nossa motivação para cuidar da criação não é porque ela é divina; não é somente porque seremos prejudicados; não é porque é o tema do momento, nem porque é politicamente correto. Cuidamos da criação primeiramente porque ela é obra de Deus e tudo que Ele criou é bom e merece o nosso respeito e cuidado. Em segundo lugar, cuidamos da criação porque somos mordomos das coisas de Deus, com o mandato de governar e cuidar da Sua criação. Em terceiro, porque honra a Deus e nos beneficia. Em quarto, porque Cristo morreu para redimir toda a criação. Por fim, cuidar da natureza, ser ecologicamente responsável, faz parte da nossa missão como humanos e cristãos.
Uma das práticas danosas à criação de Deus na Guiné-Bissau é o costume das pessoas de jogarem sacolas plásticas no chão, aqui chamadas de “olhados”. Essa agressão à natureza, que não acontece só aqui, incomodava-nos muito logo que chegamos a esse campo missionário, pois ainda estávamos aprendendo a língua, a cultura e não sabíamos a melhor maneira de abordar essa questão. Nossas primeiras tentativas foram frustradas porque ainda não havia ensino bíblico suficiente para entendimento da questão, e reflexão sobre o assunto. Lembro-me de ouvir alguém falar o seguinte: “Não jogar olhado no chão, isso é coisa de branco”.
Deus nos deu força para mostrar que cuidar da criação não é coisa de branco, de estrangeiro, é coisa de humano, principalmente dos crentes. Começamos a ensinar os princípios bíblicos sobre mordomia cristã, enfatizando nossa responsabilidade de cuidar bem das coisas de Deus. Depois, quando havia programação na Igreja que envolvia a distribuição dos famosos olhados com doces e material escolar, orientávamos as crianças que a sacola plástica deveria ser colocada nas lixeiras que foram colocadas em vários pontos da Igreja: salas de aula, cozinha e pátio. Graças a Deus, já vemos uma melhor consciência ecológica entre os crentes em relação ao restante da população.
Louvo a Deus porque tem havido um despertamento para a responsabilidade ambiental no meio evangélico como parte integral do nosso conceito bíblico de missão. A agência “A Rocha”, uma agência cristã que trabalha com preservação ambiental, fundada em Portugal em 1983 e que atua hoje em todos os continentes, adota uma teologia que nos chama a atenção para consciência e ação ecológica como um mandato bíblico e parte fundamental da nossa missão cristã (www.arocha.org).
Soube também de uma boa iniciativa de uma das nossas Igrejas parceiras: a Igreja Presbiteriana Nacional de Brasília. Seus pastores têm procurado incluir na sua visão de missão cristã o cuidado com a criação de Deus. Já conhecemos bem o grande envolvimento dessa Igreja com a missão de Deus de alcançar todos os povos da Terra com o Evangelho. Agora temos visto seu pioneirismo na ênfase da missão ecológica da Igreja. Sei que há estudos sistemáticos sobre o tema pelos seus pastores e por outros conhecedores do assunto, além de algumas iniciativas práticas sobre o cuidado com a criação de Deus. Espero que outras Igrejas possam seguir o seu exemplo.
Paulo Serafim é Missionário em Guiné-Bissau.
Fonte APMT.
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