A Importância da Segurança da Fé
“Ao que
Jesus lhes disse: Tende fé em Deus.” Marcos 11:22.
Por: Joel Becke
Essa segurança
é ampla em seu escopo. Inclui liberdade da culpa do pecado, alegria no
relacionamento com o Deus trino e um senso de pertencer à família de Deus.
James W. Alexander disse que a segurança “leva consigo a ideia de plenitude,
tal como uma árvore carregada de frutos ou como as velas de um navio enchidas
por ventos favoráveis”.
A segurança
é conhecida por seus frutos, tais como a comunhão íntima com Deus, a obediência
submissa, sede de Deus e anelo por glorificá-Lo, cumprindo a Grande Comissão. A
segurança prevê, em oração, o avivamento, mantendo-se submissa à esperança
escatológica. Os crentes que têm essa segurança veem o Céu como o seu lar,
anseiam pela Segunda Vinda de Cristo e pela trasladação à glória (2 Tm 4.6-8).
A segurança
sempre foi um assunto vital. Sua importância é mais crucial agora porque
vivemos em dias de segurança mínima. E, o que é pior, muitos não compreendem
isso. O desejo de comunhão com Deus, o anseio pela glória de Deus e pelo Céu e
a intercessão em favor de avivamento parecem lânguidos. Isso acontece quando a
ênfase da Igreja na felicidade terrena sobrepuja a convicção de que ela está
peregrinando neste mundo em direção a Deus e à glória.
A
necessidade de uma doutrina de segurança alicerçada nas Escrituras é
fortalecida pela ênfase da cultura nos sentimentos. A maneira como sentimos as
coisas toma geralmente a precedência em relação ao que sabemos e cremos. Essa
atitude infiltrou-se na Igreja. O crescimento extraordinário do movimento
carismático pode ser atribuído, em parte, a um cristianismo formal e sem vida,
pois o movimento carismático oferece aos seus adeptos emoção e estímulos para
encherem o vazio criado pela falta de verdadeira segurança da fé, bem como pela
ausência de seus frutos. Hoje, necessitamos desesperadamente do pensar
doutrinário acompanhado do viver santificado e vibrante.
Este artigo
trata de questões, dificuldades e assuntos associados à segurança da fé.
Consideremos cinco razões importante por que devemos crescer nesta segurança.
Integridade
de Fé e Vida
Nosso
entendimento da segurança da fé determina a integridade de nossa compreensão a
respeito da vida espiritual. Podemos estar certos em muitas áreas e incorretos
em nosso entendimento desta doutrina fundamental das Escrituras.
Muitos
pensam erroneamente que são cristãos. Tememos que inúmeras pessoas que se
consideram cristãs despertarão no inferno, em horror eterno.
O problema
envolvido no “crer fácil” é que as pessoas não examinam se a sua fé é genuína e
está bem fundamentada. Esse erro talvez seja mais bem designado como a
“segurança fácil” e não o “crer fácil”. Eles reivindicam a segurança sem
possuírem um fundamento para ela. Erros a respeito de como uma pessoa chega à
segurança da fé podem conduzir facilmente a uma segurança falsa. Um entendimento
correto da segurança da fé nos ajuda a evitar essa presunção.
Um ponto de
vista errado a respeito da segurança pode impedir-nos de ter segurança, quando
deveríamos tê-la. Alguns filhos de Deus verdadeiros não creem que são filhos de
Deus. Aceitam um tipo de “crer difícil”, procurando evidências pelas quais não
têm o direito de esperar. Pode haver evidência firme e bíblica de que eles são
filhos de Deus, mas não estão satisfeitos com isso. Eles mesmos são o maior
obstáculo na obtenção da segurança. Um entendimento correto da segurança da fé também
é importante nesse caso.
Aqueles que
têm uma compreensão apropriada da segurança evitarão tanto o crer fácil como o
crer difícil. A segurança não será um benefício automático. Eles não se
tornarão seguros de sua fé sem uma evidência de fé sólida e bíblica operando em
sua vida. Ficarão cientes do perigo do crer fácil e examinarão regularmente
seus coração e vida à luz da Palavra de Deus. Por outro lado, eles reconhecerão
em sua vida a evidência do novo nascimento e perceberão a sua presença. Quando
sentirem anseio genuíno por Deus e ódio pelo pecado, reconhecerão essas coisas
como obra do Espírito Santo e serão consolados por elas. Não desprezarão os
dias das coisas humildes. Sem esses dias, poucos filhos de Deus ficarão seguros
quanto à sua fé.
Paz com Deus
A segurança
é inseparável da paz e do consolo do Evangelho. A segurança de que somos
nascidos de Deus é necessária, se temos de experimentar paz, amor e alegria.
Experimentar verdadeira paz e alegria no Senhor enriquece grandemente a nossa
vida, enquanto estamos neste mundo. Essa é uma das razões por que Thomas Brooks
intitulou de “Heaven and Earth” (Céu e Terra) o seu livro sobre a segurança da
fé. A segurança está relacionada com a paz e a alegria do Evangelho e precisa
ser cultivada.
Como
cristãos, devemos desejar esses dons, porque somos exibições do Evangelho.
Filipenses 2.15 nos ensina: “Para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros,
filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na
qual resplandeceis como luzeiros no mundo”. Manter uma atmosfera de paz e
alegria é uma das maneiras pelas quais o crente pode resplandecer como luz
neste mundo perverso. Que tipo de ideias o mundo nutre a respeito de Deus, se o
povo de Deus não mostra que servir ao Senhor é algo maravilhoso? Que tipo de
afirmação fazemos a respeito de Deus, se as pessoas não podem detectar em nós a
paz e a alegria tranquilas que nos distinguem?
Isso não
significa que os cristãos não terão tempos de tristeza por causa do pecado,
dificuldades e dúvidas. Mas as Escrituras são bastante claras em dizer que os
cristãos procuram normalmente exibir paz e alegria no Senhor. Para fazermos
isso, precisamos estar seguros de nossa fé.
Serviço
cristão
Um cristão
seguro é um cristão ativo. Paulo disse aos cristãos de Tessalônica: “O nosso Evangelho
não chegou até vós tão-somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no
Espírito Santo e em plena convicção” (1 Ts 1.5). O Evangelho foi abençoado em
Tessalônica de modo que houve muita convicção. E Paulo acrescentou: “De sorte
que vos tornastes o modelo para todos os crentes na Macedônia e na Acaia.
Porque de vós repercutiu a Palavra do Senhor não só na Macedônia e Acaia, mas
também por toda parte se divulgou a vossa fé para com Deus, a tal ponto de não
termos necessidade de acrescentar coisa alguma” (vv. 7-8). Quão admirável!
Aqueles cristãos, recém-convertidos, repercutiram a Palavra de Deus; ou seja,
eles evangelizaram. Assim, quando Paulo chegou à região deles, descobriu que a
Palavra de Deus já estava ali. Essas pessoas se mostraram zelosas por Deus, porque
estavam seguras de sua salvação.
Um cristão
que não possui segurança raramente se interessa por boas obras. Em vez disso,
seu vigor espiritual é consumido em questionar se é salvo ou não. Quando essa
dúvida não é resolvida, a pessoa fica incerta quanto a ajudar os outros no
serviço do Senhor. Como o disse J. C. Ryle: “O crente ao qual falta uma firme
esperança passa grande parte do seu tempo sondando o próprio coração acerca de
seu próprio estado de alma. Tal como uma pessoa nervosa e hipocondríaca, ele
encherá a cabeça com as suas próprias indisposições, com as suas próprias
dúvidas e perguntas, com seus próprios conflitos e corrupções. Em suma, tal
crente ficará com frequência tão absorvido com seus conflitos íntimos que pouco
tempo lhe restará para outras coisas e para trabalhar para Deus.” (“Segurança”,
em “Santidade Sem a Qual Ninguém Verá o Senhor”, Editora Fiel, 2009, p. 159).
Ás vezes,
pensamos que nosso propósito aqui na Terra é somente achar a salvação; uma vez
que somos salvos, temos pouco a fazer até chegarmos ao Céu. A conversão é vista
como um fim em si mesmo. Mas isso não é verdade. Somos convertidos para cumprir
um propósito: servir a Deus no mundo. 1 Pedro 2.9 nos diz por que Deus resolveu
converter pessoas: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa,
povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquEle
que vos chamou das trevas para a Sua maravilhosa luz”. Deus nos converte para
que proclamemos as Suas virtudes. Somos convertidos para servir a Deus e ao
nosso próximo. Se nos falta segurança, nosso servir a Deus não será entusiasta.
Comunhão com
Deus
A segurança
é valiosa porque enriquece a nossa comunhão com Deus. Como uma pessoa pode ter
comunhão íntima com Deus, se teme que Deus está irado? Quão difícil seria
termos comunhão com um filho que está sempre com medo de nós. O filho nunca
fica tranquilo e jamais aceita nossas expressões de amor. Nessa atmosfera, um
relacionamento íntimo é impossível.
Por
contraste, considere a segurança implícita no Cântico dos Cânticos, quando a
noiva disse: “Eu sou do meu Amado, e o meu Amado é meu”. Aqui há comunhão,
interação, um relacionamento caloroso e digno, amor e confiança, por parte da
noiva, no fato de que o amor é mútuo. Esse é o tipo de comunhão que o Senhor
deseja ter com Seu povo. Ele descreve frequentemente Seu relacionamento com
eles em termos que implicam intimidade: Pai e filhos, Esposo e esposa, Noivo e
noiva, Cabeça e corpo. O Senhor usa o mais íntimo dos relacionamentos da vida
para descrever o relacionamento que deseja ter com Seu povo. É óbvio que a
segurança é necessária para desenvolvermos esse tipo de relacionamento.
Santidade ao
Senhor
Finalmente,
a segurança é crucial porque torna o cristão mais santo. Falando sobre a
segurança que resulta do conhecimento de que somos filhos do Pai, João disse:
“E a si mesmo se purifica todo o que nEle tem esta esperança, assim como Ele é
puro.” (1 Jo 3.3).
A segurança
que não conduz a um viver mais santo é falsa. Aquele que tem a segurança bem
fundamentada, que experimenta paz e alegria, que se ocupa com a obra do Senhor
e vive em comunhão íntima com Deus é uma pessoa santa. Um crente não pode
persistir nos altos níveis de segurança enquanto persiste em baixos níveis de
santidade.
A segurança
nos traz a um contato íntimo com o poder de Deus. Quando desfrutamos de um
relacionamento de confiança com Deus e descansamos em Sua misericórdia e graça,
nossos corações são inflamados pelo amor a Deus. Esse amor nos dá poder para um
viver santo. Quanto mais íntimos somos de Deus, tanto mais amor teremos por Ele
e tanto mais pura será a nossa vida. Uma pessoa santa é motivada por amor a
Deus, por causa de Cristo. O amor de Cristo constrange o homem santo (2 Co
5.14).
Assim você
pode perceber quão importante é este assunto da segurança. É possível alguém
ser salvo e não ter segurança. Contudo, é quase impossível alguém ser um
cristão sadio se não possui a segurança da fé. Você pode objetar: as Escrituras
não afirmam que Deus tem interesse especial por pecadores necessitados e
pobres? Se ele parar de ser pobre e necessitado, há motivo para duvidarmos que
a sua segurança está alicerçada em bases sólidas. Cristo tem de crescer, e ele
diminuir (Jo 3.30).
O Senhor
está perto daqueles que têm um coração quebrantado, um espírito contrito e
ainda não têm a segurança da fé. Mas isso não leva a concluir disso que essa
seja uma condição desejável. Se somos pobres e necessitados sem a segurança da
fé, devemos buscá-la.
Conclusão
A segurança
é vital para o nosso bem-estar espiritual. Algumas pessoas acham que segurança
indica superficialidade. Aos seus olhos, alguém é considerado suspeito se
possui segurança. Na realidade, aqueles que veem a dúvida como um sinal de
profunda experiência religiosa e seguem em direção a Deus e à glória sem a
segurança da fé, esses têm apenas um entendimento superficial das Escrituras.
Um entendimento mais profundo nos leva a reconhecer a obra do Espírito em nosso
coração, a conhecê-la e descansar no Senhor Jesus Cristo, com fé semelhante à
de uma criança.
Extraído de Voltemos ao Evangelho.
Joel Becke é presidente e professor de teologia sistemática no Puritan Reformed Theological Seminary (EUA) e pastor da Heritage Netherlands Reformed Congregation. Beeke é Ph.D. em teologia pelo Westminster Theological Seminary e já publicou 50 livros, dentre eles, “Vivendo para a Glória de Deus” e “Vencendo o Mundo”, publicados no Brasil pela Editora Fiel.
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