REFERÊNCIAS DO PASTOR DE ALMAS



“Porque vós mesmos sabeis, irmãos, que a nossa entrada entre vós não foi vã”. 1 Ts 2:1.

Um dos maiores problemas do mundo moderno é a perda de referências, especialmente  referências cristãs. O humanismo traz a ideia de “personalidades ilhas”, ou seja, “seja você mesmo”, “não dependa das pessoas”, “não siga exemplos e padrões”, “faça do seu jeito, do jeito que lhe agrade, do jeito que mandar o seu coração”. Mas as referências existem, referências de conduta de artistas, da música, e até de terroristas, bandidos e assassinos, prova disso é o grande número de admiradores de Che Guevara. A Igreja também sofre com essa tendência de perda de referências, por isso necessitamos renovar, refrescar e fortalecer sempre nossa mente e coração com as referências sólidas de conduta e comportamento que a Bíblia nos apresenta.

O testemunho de Paulo serve para os líderes e crentes em geral, pois ele é apresentado na Bíblia como um Apóstolo de Cristo. Além disso é inegável que apesar de seus defeitos, após sua conversão ele foi transformado pela graça de Deus e feito nova criatura em Cristo Jesus. Por isso líderes e leigos tem em Paulo uma referência, um exemplo e modelo de vida cristã a ser seguido.

Além disso, na Bíblia Deus está falando conosco através do exemplo de vida de Paulo. Nos acertos dele temos os ensinamentos de vida, o exemplo a ser seguido; nos desacertos vemos a graça de Deus em ação na vida dele, assim como Deus age em nossa própria vida.

Pastor de almas

Paulo foi apóstolo, missionário, evangelista e pastor. Em síntese, servo. Não é fácil ser pastor, todo pastor de almas precisaria seguir o padrão bíblico em seu proceder. Usei o pretérito imperfeito justamente porque não é o que se observa em 100% dos casos. Nesse texto de 1 Tessalonicenses temos vários ensinamentos acerca do que Deus espera de Seus pastores. Notemos então, qual é a forma na qual o Senhor quer moldar os Seus servos. 

1 – Não se ocupa com coisas vãs
“[...] a nossa entrada para convosco não foi vã” (versão corrigida e revisada). “[...] não se tornou infrutífera” (versão revista e atualizada). 1 Ts 2:1.

O tempo é um dos bens mais preciosos que existem, e o tempo não volta atrás. O tempo perdido está perdido para sempre. O pastor (assim como todo líder e crente fiel) não pode desperdiçar seu tempo com coisas banais, mas precisa ser focado na obra de Deus, naquilo que edifica e fortalece a fé, que produz fruto, não tornando o tempo infrutífero. Não se trata de isentar-se de lazer, passeios e momentos em que todos devem parar e descansar, rir e brincar. Trata-se de não perder o foco, pois há tempo para tudo (Ec 3). No entanto, coisas vãs podem significar também aquilo que desagrada a Deus, o que nos faz pensar na santificação e consagração da vida e do tempo. Infelizmente, em muitas Igrejas atualmente há um desajuste nessa questão, onde o tempo da Palavra tem sido restrito aos cultos e EBDs, onde não há tempo nem interesse pela Bíblia como fonte de prazer e satisfação, mas a mesma passou a ser vista por muitos como desinteressante, cansativa e monótona. O mesmo se nota com respeito à oração, seja na Igreja ou na vida particular de oração. Infelizmente, em nossos dias, crentes fervorosos são vistos em muitas Igrejas como se fossem ETs. Mas quando se trata de coisas secundárias, como sociais, esportes, passeios, festas e “comes e bebes”, há uma intensa busca e demonstração de prazer. Nesse caso essas coisas tornam-se vãs, pois estão assumindo o lugar de prioridade que é devido somente a Cristo e à Sua Palavra. A gestão do tempo é fundamental na vida de quem leva Deus a sério, assim como a Sua obra na face da Terra. O pensador Mário Sergio Cortella disse que “Quando você diz que não tem tempo para algo, é porque aquilo não é prioridade”.

2 – Prega com confiança, mesmo quando estiver passando por lutas
“Mas, apesar de maltratados e ultrajados em Filipos, como é do vosso conhecimento, tivemos ousada confiança em nosso Deus, para vos anunciar o Evangelho de Deus, em meio a muita luta”. 1 Ts 2:2.

Certa vez um pastor experiente disse para um pastor novo no ministério: “Irmão, aconteça o que acontecer, pregue a Palavra de Deus com firmeza e confiança em Deus. Não deixe transparecer às pessoas o que você está passando, mas seja o mesmo e transmita a mensagem de Deus com firmeza, confiança e alegria no coração! ” De fato, quando estamos passando por lutas e dificuldades, seja em nossa vida pessoal, familiar, material, etc., temos a tendência de esmorecer, inclusive no momento de ensinar e pregar a Palavra de Deus, transferindo assim para as pessoas o sentimento que está em nossa alma.

Mas as perseguições que Paulo passou em Filipos não amorteceram a pregação do Evangelho, pelo contrário, gerou ousadia e confiança nele, fortalecendo o desejo de falar do amor de Deus às pessoas. O pastor de almas (assim como todo líder e crente fiel) precisa aprender a lidar com as dificuldades que surgem no caminho, pois se esmorecer enfraquecerá a Igreja. Certamente há um número de crentes maduros que não se intimidam na fé se virem seu pastor enfraquecido, mas não é assim com todos, e em algumas Igrejas o número de crentes frágeis, sensíveis e até fracos, pode ser maior que em outras. Notemos a grande responsabilidade que pesa sobre os ombros do pastor de almas.

Seja qual for a sua luta, saiba e fortaleça o seu coração nessa verdade: você jamais será provado além do que possa suportar (1 Co 10:13), Deus te ama, pode e quer te ajudar. Creia no Seu infinito amor e viva pela fé nEle, apesar das circunstâncias da vida. Assim você vencerá suas lutas e terá um saldo positivo de crescimento espiritual em louvor da glória de Deus. Mas alimente sua fé, fortaleça-se espiritualmente para vencer e Deus te dará a vitória. “Em Cristo somos mais que vencedores! ” (Rm 8:37). A resistência é a nossa vitória (Tg 4:6-10). Deduz-se, portanto, que a constância emocional e espiritual do pastor provém de uma comunhão íntima e fértil com Deus (Sl 25:14), geradora de amadurecimento e intimidade com Ele que tudo vê, nos ama, está sempre perto de nós, e pode todas as coisas. Dizer que confiamos na soberania de Deus é relativamente fácil, é necessário viver e proceder dentro desse parâmetro doutrinário, com alegria e contentamento.

3 – Exorta com pureza
“Pois a nossa exortação não procede de engano, nem de impureza, nem se baseia em dolo”. 1 Ts 2:3.

Exortar: animar, incitar, advertir, aconselhar, persuadir (PEB). É papel do pastor de almas exortar o rebanho, seja na pregação da Palavra ou individualmente, de modo que o povo de Deus entenda e obedeça a Palavra de Deus. Esse é um dos pontos mais difíceis de ser praticado no ministério pastoral, visto que muitas pessoas não gostam de ouvir exortações, pois não compreendem que a exortação provém de Deus e que o pastor está cumprindo seu dever, em obediência à ordem de Deus. Exige-se do pastor a sabedoria necessária para a boa prática da exortação, com amor e respeito, porém firme na doutrina. É aí que reside a pureza da exortação pastoral, conforme o texto citado, não procedente de engano, impureza ou dolo (lê-se “dólo”).

O pastor de almas não pode se acovardar diante de corações impenitentes, ou de ameaças. Em muitas Igrejas o pastor que exorta não é bem visto, nem bem quisto, pois a sua mensagem incomoda e causa até desconforto para os que não se dobram à autoridade do Espírito Santo. Assim, há pastores que não permanecem muito tempo em uma Igreja porque a sua mensagem não procede de engano, impureza nem de dolo, é uma mensagem verdadeira, pura e franca. Logo eles são rejeitados, desprezados e substituídos, na expectativa de que outro pastor seja menos contundente, “pegue mais leve”, seja mais complacente e “misericordioso”. Porém, esse pensamento procede de engano, pois a Palavra de Deus é uma só, e todo pastor fiel e zeloso na pregação falará o que precisa ser falado, isto é, o que está contido nas Escrituras. Realmente, pregar sobre santidade não traz muita popularidade ao pastor de almas (1 Tm 3:12). Mas a pregação reprovável é procedente de engano, impureza e dolo, aquela mensagem que agrada pessoas e traz uma falsa sensação de paz, quando na verdade a doutrina está sendo sonegada, os pecadores estão sendo enganados, e o pecado está instalado nas vidas e lares. Mas é exatamente isso que acontece no contexto do século 21: Igrejas fracas, crentes carnais, costumes mundanos, vidas tortas, e crentes não convertidos indo para o inferno. A rebeldia é explícita em nossos dias (1 Sm 15:23 onde a rebeldia é classificada como “pecado de feitiçaria”, ou seja, culto aos demônios) as autoridades constituídas são aviltadas, e o pecado já faz parte do cotidiano de muitos, e há pastores que não querem “mexer nessa cumbuca”, não querem “colocar a mão nesse vespeiro”, pois são falsos pastores, covardes e sem compromisso sólido com o Altíssimo. Vivem para si e para agradar aqueles que detém o poder sobre eles. Não passam de mercenários comprados pelo sistema carnal e demoníaco instalado em igrejas mortas, doentes e viciadas (Ap 2:13 na Igreja de Pérgamo haviam os que sustentavam as doutrinas de Balaão, aquele profeta pago, comprado, que armava ciladas para fazer o povo de Deus pecar). Mas a Palavra de Deus nutre a fé dos crentes verdadeiros, que não se opõe à Verdade, pelo contrário, amam de coração a pregação que exorta a uma vida santa e reta, de acordo com as Sagradas Escrituras.

Pastor, não tema o que lhe pode fazer o homem, tema a Deus! Não se curve diante daquilo que as pessoas querem de você, se curve diante de Deus e de Sua Palavra. Não se renda às ameaças de homens carnais, guiados por demônios, que não tem o Espírito Santo e querem governar no lugar de Deus desobedecendo à Sua Palavra, manipulando e sendo manipulados (2 Tm 3:13 onde o Senhor alerta sobre homens perversos e impostores e sua justa punição). Homens que protegem e escondem o pecado de seus familiares e amigos, como se a Igreja fosse o seu “clube particular”, e a Bíblia não fosse a Palavra do Deus vivo e verdadeiro, o Deus que É fogo consumidor.

PASTOR, PREGUE A BÍBLIA, PREGUE A DOUTRINA PURA E SIMPLES DA PALAVRA DE DEUS!

David Wilkerson, autor do best-seller “A Cruz e o Punhal”, em uma de suas mensagens diz o seguinte: “Se o pastor prega contra determinado pecado, desagradará o grupo A da Igreja; se pregar contra outro tipo de pecado, desagradará o grupo B. Pastor, pregue a Bíblia, não importa a quem possa desagradar! Pregue a santa doutrina da Palavra de Deus!” 

4 – Prioriza agradar a Deus
“Pelo contrário, visto que fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar Ele o Evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus, que prova o nosso coração” 1 Ts 2:4. 

O correto é que se a pregação agradar a homens (e crentes sinceros se agradam) amém! Caso contrário, amém também! Mas o que se nota atualmente é que se instalou na maioria das Igrejas, um método hermenêutico e homilético que tem por base e foco a autoajuda, onde as mensagens visam agradar as pessoas, e não visa a ajuda do Alto, da mensagem que procede de Deus, que agrada a Deus, e que transforma a vida do homem pecador em alguém cada vez mais semelhante a Jesus. A aprovação do pastor de almas pelo próprio Deus, passa por esse crivo, ou seja, Deus lhe confiará o Evangelho para que fale de um modo que agrade a Deus, e não a homens. O pastor de almas sincero e verdadeiro sabe que ele não é nada sem a graça de Deus que prova os corações, a começar dele mesmo. Sabe que se Deus não for com ele a mensagem não surtirá efeito algum, e que ele precisa pregar de acordo com a vontade de Deus, para que seja Deus falando, e não o homem. 

O exemplo de Paulo é impressionante, pois ele realmente pregava com independência livre de interesses pessoais. Ao lermos 1 Coríntios, por exemplo, e aqui mesmo em 1 Tessalonicenses, vemos claramente a intransigência de Paulo, e que a Palavra de Deus nunca foi negociada ou amenizada por ele, mas pregada com amor e austeridade. Será que por essa causa tentaram matá-lo tantas vezes? Será que por isso foi ele perseguido na maioria das cidades por onde passou? Será que foi essa ousadia que o levou à decapitação em Roma? Seria a mesma causa da prisão e morte de João Batista, e do próprio Senhor Jesus? Pergunto-me se em nossos dias, quantas Igrejas gostariam de ter o Apóstolo Paulo como pastor efetivo. Quantos crentes gostariam de ouvir o Senhor Jesus pregar e viver sob a Sua tutela? Certamente se o Senhor se disfarçasse e viesse novamente à Terra, seria rejeitado por muitos que pensam que O conhecem, mas negam a Sua Palavra, e por isso estão negando-O, e jamais O conheceram.

Se você pensou que esse discurso é muito radical e propaga o ódio, é porque você já está influenciado pelo reino das trevas, pois o diabo é o maior interessado em que a pregação seja maculada por interesses carnais (Mt 16:23 quando Jesus repreendeu satanás que insuflava a mente de Pedro para induzi-lo a não pregar sobre o sacrifício da Cruz). Mas a pregação vinculada única e exclusivamente à Palavra de Deus, é praticada em amor, não é negociada, é pura, e é a maior prova de amor que o pastor tem para demonstrar ao seu rebanho. Ele abre mão de si mesmo, seu conforto e até sua segurança para pregar essa Palavra santa. O pastor compromissado com Deus a esse ponto é o pastor que ama de fato e de verdade o rebanho de Cristo, mas o que prega para agradar a homens, na verdade não ama seu rebanho, pois está privando-o de seu maior tesouro, que é a Palavra de Deus, a revelação pura e simples, porém poderosa de Deus ao Seu povo. 

5 – Não é bajulador nem ganancioso
“A verdade é que nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos gananciosos. Deus disto é testemunha. ” 1 Ts 2:5.

Paulo vai além e explora ainda mais a questão abordada nos versículos anteriores, dizendo agora que ele não era bajulador nem ganancioso. A bajulação é exatamente o que muitos crentes carnais querem! Certo crente disse ao seu pastor que o povo precisava de “colo e cafuné”. Ora, isso é coisa de quem vai à Igreja buscar tudo, menos o Deus vivo e verdadeiro. Lógico que Deus nos acalenta e fortalece a alma nos momentos difíceis, porém o pastor não é massagista do ego das pessoas, com “linguagem de bajulação”. Quem faz isso é falso pastor e está agindo com “intuitos gananciosos”, desejando obter vantagens do rebanho, enganando com falsas palavras, não procedentes do trono da graça. Tal pregador não teme a Deus, que um dia lhe pedirá contas, mas ama somente a si mesmo, querendo obter das pessoas o prestígio e o carinho que pertencem somente a Cristo. Por isso que muitas Igrejas estão doentes, apáticas, mundanizadas e enfraquecidas por mensagens superficiais, feitas para agradar os carnais (Ap 2:9 onde a sinagoga de satanás é composta de homens que se dizem judeus e não são, isto é, dizem que são servos do Deus altíssimo, mas não são nada disso). 

O caráter do pastor está ligado diretamente ao teor de suas mensagens, de onde elas procedem. Como é fácil detectar os bajuladores e falsos mestres, eles sentem medo de pregar a sã doutrina e serem rejeitados e dispensados. Tornaram-se reféns e por isso não tem liberdade para falar: “Assim diz o Senhor! ”. Certamente Deus lhes pedirá contas um dia. 

6 - Não quer elogios (vs. 6). E se houver, sabe manter a humildade dando toda glória a Deus. 

7 – Age com mansidão e amor (vs. 7)

8 – Ama tanto que transmite o Evangelho com a própria alma (vs. 8)

9 – Disposição para servir em toda e qualquer situação, não é preguiçoso (vs. 9a)

10 – Não é pesado à Igreja (vs. 9b). Ver também 1 Co 9:7-14

11 – Vida irrepreensível, bom testemunho (vs. 10)

12 – Ser um pai espiritual (vs. 11)

13 – Exorta (chama a atenção), consola e insta (vs. 12).

Por: Pr. Paulo Sergio Visotcky da Silva.
Congregação Peri Alto, 03/07/16, culto matutino, itens 1-3 e 5.
IPB Brasilândia sede, 03/07/16, culto vespertino, itens 1-5.

Material de apoio:
PEB – Pequena Enciclopédia Bíblica.

SOLI DEO GLORIA!!!

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