OS PERIGOS DO ORGULHO
Por: Rev. Paulo Sergio da Silva
IPB de Vila Gerti – S.Caetano / SP
EBD 27.03.11
TEXTO BÍBLICO
1 CRÔNICAS 21:1-30
“Então satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar a Israel.”
1 Crônicas 21:1.
INTRODUÇÃO
É sabido de todos que o orgulho traz grande destruição a todos que são vencidos por ele. Como um aliado das trevas, porém bem humano, o orgulho está presente na vida de todos nós. Como uma semente de pecado, o orgulho nos afasta de Deus e nos leva a cometer todo tipo de iniqüidade. Como uma doença presente em nosso DNA, o orgulho é real e precisamos nos precaver contra ele. Na mensagem de hoje iremos refletir acerca desse sentimento, os males que ele pode nos trazer, e como Deus, em Sua infinita bondade e misericórdia, trata conosco em todas as situações, inclusive quando caímos nas sutilezas do pecado do orgulho.
EXPLICAÇÃO
Deus permitiu que satanás tentasse Davi a levantar o censo do povo, e Davi, insistiu em faze-lo, contrariando o conselho de Joabe. Ainda que não intrinsecamente errada, a ação de Davi demonstrou que ele confiava no número de soldados que ele tinha, e não em Deus. O censo demorou cerca de dez meses (2 Sm 24:5-8). Os 800.000 de Israel mencionados em 2 Sm 24:9 podem não ter incluído os 300.000 alistados em 1 Cr 27, que elevariam o total para cerca de 1.100.000. Os 470.000 em Judá podem não ter incluído os 30.000 de 1 Sm 6:1, o que elevaria o total para cerca de 500.000. Talvez, ainda, os números de Crônicas sejam quantidades arredondadas. (ABA pg. 551).
ARGUMENTAÇÃO
O texto nos apresenta (mais) uma página triste na história do “homem segundo o coração de Deus” (At 13:22). Cuidemos para que não venhamos a tropeçar no mesmo erro, porque certamente sofreremos as conseqüências. O que aprendemos aqui acerca desse problema tão terrível que é o orgulho?
1 – O ORGULHO É UMA AMEAÇA
Essa é a primeira lição que destaco. O homem segundo o coração de Deus, autor inspirado de tão belos Salmos, teve seus momentos de fraqueza e sucumbiu diante dessa ameaça incontinente. O orgulho não respeita a história, nem os títulos ou os feitos do passado de ninguém. Pelo contrário, aqueles que mais são usados por Deus são os mais propensos a cair nessa cilada.
O inimigo tentou Davi, é verdade, mas se não fosse o seu orgulho certamente ele teria resistido ao mal. Foi o orgulho de Davi que o levou a:
1.1 – Aceitar a idéia de fazer o censo, mesmo que isso trouxesse a ira de Deus. Quem está com a mente dominada pelo orgulho chega a zombar de Deus com suas ações. Como uma cegueira, a pessoa age sem levar em consideração o que a Palavra de Deus diz acerca do pecado e suas conseqüências. Por isso, talvez, que haja tantos fora dos caminhos do Senhor, tropeçaram em seus próprios corações.
1.2 – Questionar a segurança de Deus e confiar em seu poderio militar. O orgulho pode levar-nos a não confiar plenamente em Deus e a buscarmos uma solução palpável, humana, algo em que possamos tocar e nos apoiar naquilo e não em Deus somente. O orgulho causa em nós a ansiedade, a inquietação e o desespero. O orgulho levou Davi a esquecer-se de tantas vitórias que Deus lhe havia dado, e agora ele confiava mais em seu exército do que em Deus.
1.3 – Rejeitar as exortações de Joabe que, usado por Deus, insistiu com ele para que desistisse desse projeto falido (1 Cr 21:3). Deus enviou um servo para alertar Davi de seu erro e dos riscos que isso traria para a toda a nação. A palavra de Davi prevaleceu sobre a de Joabe (vs.4). O orgulho cega e ensurdece, Davi não ouviu a voz de Joabe e nem a voz de Deus. É assim que acontece com todos que deixam vencer pelo orgulho, pensam que são donos da verdade, sentem-se cheios de razão e não dão ouvidos a ninguém.
O orgulho é como uma doença da qual precisamos nos curar, é como uma bactéria da alma que precisa ser contida. Deus é o único que tem o antídoto, o remédio, a cura para este mal. Podemos vencer o mal apegando-nos ao bem (Rm 12:9); venceremos o nosso orgulho revestindo-nos com a humildade de Cristo (Cl 3:12; 1 Pe 5:5). Muitas vezes precisaremos jejuar, orar e chorar aos pés do Senhor para que Ele transforme o nosso coração. Tente, funciona!
2 – O INIMIGO AGE ATRAVÉS DO ORGULHO
Se existe algo que o inimigo conhece no ser humano é o orgulho. Ele sabe que temos essa dificuldade e sempre tentará agir através do nosso orgulho, incitando-nos a fazer coisas que desagradam a Deus e que trarão sobre nós a Sua ira. O inimigo levanta contra nós ciladas, sutilezas e armadilhas para nos destruir. Foi o que aconteceu com Davi, satanás o incitou a fazer o censo e o seu plano maligno era não só contra Davi, mas contra Israel (vs.1).
O inimigo tem três objetivos principais: matar, roubar e destruir (Jo 10:10). Tudo que ele faz tem esses objetivos. Se o que o homem faz, ou intenta fazer, gera morte e destruição, muito provavelmente tem a ação diabólica por traz, sutilmente incutindo pensamentos e idéias nas mentes. A Bíblia nos manda estar atentos às suas ações malignas(1 Pe 5:8), e resisti-lo porque ele fugirá de nós (Tg 4:7).
BATALHA ESPIRITUAL
Já passou um pouco, mas muitos devem se recordar do movimento de batalha espiritual que varreu a igreja evangélica brasileira nas décadas de 80 e 90. A expressão “batalha espiritual” causava (ou ainda causa) até mal estar em muita gente, por causa das loucuras que se pregava e ensinava em muitos púlpitos.
Mas precisamos entender o assunto, porque é a Bíblia que nos alerta a respeito da batalha espiritual na qual a Igreja está inserida (Ef 6:12). O campo de batalha onde se travam nossas guerras contra o mal, é a nossa mente. Foi na mente de Davi que o inimigo o incitou, é na nossa mente, em nossos pensamentos que o inimigo “fala” conosco através de pensamentos, sugestões, idéias e vontades que surgem. É necessário ter discernimento espiritual para sabermos o que é da nossa própria mente, o que é da nossa carne, e o que é ação do inimigo. Por isso que a Bíblia fala alerta quanto aos pensamentos (2 Co 10:5; Ef 2:3).
Acontece que essas coisas estão sempre muito perto umas das outras, talvez seja por isso que existem basicamente dois tipos de crente atualmente: os que superestimam o inimigo e os que o subestimam. Ambos estão errados e, provavelmente, já caíram em sua armadilha. Uns por terem verdadeira fobia dele, e outros por pensarem que ele é uma mosca morta.
Dentro deste aspecto é importante saber que não é certo superestimar o inimigo, como muitos fazem. O crente não pode viver debaixo de um tipo de paranóia, com medo do diabo, como se ele fosse tão poderoso, mais poderoso até do que Deus. Ele é um derrotado, Cristo o destruiu totalmente na Cruz e na ressurreição (Cl 2:15; Ap 1:18).
Mas um outro grande erro é subestimá-lo. O nosso orgulho pode nos trair, e o inimigo tentará usar o nosso orgulho para nos fazer pecar contra Deus. Joabe tentou alertar Davi, mas ele não quis ouvi-lo, já estava preso na armadilha do orgulho, porém quem o jogou lá foi o diabo. Por causa de seu orgulho ele caiu, mas foi o diabo que o tentou.
Na década de 70 os Estados Unidos com toda sua arrogância de super-potência, partiram em guerra contra o Vietnã, como se os vietcongs fossem um bando de derrotados. Ele subestimaram o inimigo e foram derrotados. Hoje acontece algo semelhante com muitos crentes que subestimam o inimigo, pensam que ele está longe a milhares de quilômetros, mas ele pode estar bem perto de você. Cuidado!
"Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca." Marcos 14:38 (ver também Jo 10:10; 1 Pe 5:8 e Tg 4:7).
Sem dúvida alguma, o diabo é o maior interessado em que não se tenha uma real e bíblica noção de quem ele é. Deus é a nossa luz, e nos mostra na Palavra, as artimanhas e sutilezas de satanás justamente para que não caiamos.
3 – DEUS RESISTE E PUNE (COM MISERICÓRDIA) O ORGULHO
O inimigo tentou Davi e este “aceitou” a sua proposta. Por orgulho Davi não confiou somente em Deus, e rejeitando a vontade de Deus fez o que achava certo fazer, sem considerar que isso poderia trazer sérias punições contra ele, e que outros sofreriam por conseqüência de seus erros. Lembremos aqui que foram 10 meses até se completar o censo, isso significa que durante quase um ano Davi insistiu nesse projeto megalomaníaco que trouxe sobre ele o juízo de Deus. Muitas vezes somos como Davi, insistimos em projetos e idéias que nem sempre são da vontade de Deus. E apesar de sermos alertados das conseqüências, insistimos e nos tornamos contumazes.
Deus é justo e não ignora nossos pecados. Ele jamais vai compactuar conosco, se errarmos, se formos desobedientes e obstinados de coração. Que bom é contarmos com a graça de Deus que nos transforma, regenera, purifica. Que maravilhoso é sabermos que o Senhor nos ama, apesar de nós sermos tão pecadores. Como é gratificante confiar em Seu sublime amor. Mas Ele não ignora nossos pecados, e tem Seus métodos para tratar conosco. Jesus levou na cruz os nossos pecados, é verdade, por isso não podemos deixar que o pecado nos governe. Muitas vezes precisamos de um puxão de orelhas, uma varada de Deus, para que acordemos de nosso estado de orgulho e pecado. Foi o que aconteceu ali quando Deus feriu a Israel (1 Cr 21:7). Parece que só então Davi caiu e si (vs.8).
PUNIÇÃO DIVINA
A punição de Deus pode ocorrer de diversas maneiras, mas sempre tem um caráter corretivo e didático, e até que Ele faça isso certamente já enviou muitos “Joabes” para nos alertar. Se cairmos outros também sofrerão. Muitos pais só entendem que pecaram quando um filho fica enfermo, física ou espiritualmente, e muitos ainda perseveram no erro. Muitos casais só percebem que erraram quando o casamento termina em divórcio. Muitos só percebem que deveriam ser fiéis no dízimo quando chega o desemprego e a dificuldade financeira. E assim por diante. Grande parte das punições divinas são simples conseqüências de atos que nós mesmo praticamos. É como a história da criança que queria subir no banquinho, e a mãe avisou diversas vezes que não podia porque era perigoso, mas a criança queria tanto fazer aquilo que acabou subindo, caiu e esfolou o joelho. O castigo dói! A varada de Deus dói, e como dói... No caso de Davi Deus propôs três castigos (1 Cr 21:12), Davi deveria escolher e ele escolheu o terceiro castigo, que seria o “menos pior”. Deus então enviou a peste (vs.13,14) e morreram 70.000 homens em Israel. Como é difícil tomarmos certas decisões, principalmente quando erramos e vemos que outros estão sofrendo por causa de nós. Seria muito melhor pensar bem antes de tomarmos certas decisões, e considerarmos a vontade de Deus. Ele é amor, mas é justo. DEle não se zomba, com Ele não se brinca!
A MISERICÓRDIA DE DEUS
Mas, louvado seja Deus porque em sua ira Ele sempre se lembra da misericórdia. No versículo 15 encontramos a expressão “olhou o Senhor, e arrependeu-Se”. O termo “arrepender-se” quando aplicado a Deus significa que Ele mudou o desígnio de Seu coração, porque Deus não tem de que se arrepender, porque Ele é santo (Nm 23:19a).
“Quando a Bíblia fala de Deus se arrependendo e mudando sua intenção para com o homem, "evidentemente é só a maneira humana de falar. Na realidade a mudança não é em Deus mas no homem e nas relações do homem com Ele" (L. Berkhof). Pink complementa: "Quando fala de si mesmo, Deus freqüentemente acomoda a Sua linguagem às nossas capacidades limitadas. Ele Se descreve a si mesmo como revestido de membros corporais como olhos, ouvidos, mãos, etc. Fala de Si como tendo despertado (Salmo 78.65) e como ‘madrugando’ (Jeremias 7.13), apesar de que Ele não cochila nem dorme. Quando Ele estabelece uma mudança em Seu procedimento para com os homens, descreve a Sua linha de conduta em termos de arrepender-se". Em suma, o arrependimento de Deus não ocorre por causa de qualquer mudança nEle, mas por causa de nossa mudança para com Ele.” ("O Arrependimento de Deus" - Monergismo).
Deus em Sua infinita graça e misericórdia ordenou que o anjo destruidor retirasse a sua mão, cessando assim aquela mortandade.Nesse momento Deus concedeu que Davi visse o Anjo do Senhor que pairava entre a Terra e o Céu com sua espada desembainhada e a mão estendida sobre Jerusalém (vs.16). Então ele e os anciãos se colocam na posição mais correta para os servos de Deus: eles se prostraram com os rostos em terra (vs.16b). Ah, quanto tempo será necessário para que nos humilhemos e nos prostremos diante de Deus? O que mais precisa acontecer com você para você saia de sua posição de soberba e se humilhe perante Deus?
Davi se humilha e pede que Deus o castigasse e não ao povo (vs.17). Em resposta, Deus mandou que ele fizesse um altar e prestasse sacrifício ao Senhor (vs.18). Deus quer isso, que o humildemente O louvemos e O adoremos com temor e tremor, quando estamos com o coração cheio de orgulho não adoramos a Deus de verdade, mas quando Ele trabalha em nossos corações, talvez até nos castigando, e nós nos humilhamos perante Ele, então prestamos verdadeiro culto e O adoramos em espírito e em verdade, conforme é a vontade de Deus (Jo 4:23,24).
Acerca do sacrifício, encontramos em 1 Cr 21:24 mais uma grande lição: o sacrifício que Deus quer não é aquele que não tem nenhum valor para nós, mas aquele que valorizamos, esse é o verdadeiro sacrifício. Davi poderia ter aceito a oferta de Omã (vs.21-24), mas ele pagou por aquele lugar a soma de seiscentos ciclos de ouro (vs.25), cerca de 8,5 Kg de ouro, uma pequena fortuna, algo em torno de R$ 630.000,00. Em 2 Sm 24:24 registra-se também a compra dos bois para o holocausto. Incrível é que hoje em dia perdeu-se de vista a necessidade de se prestar a Deus um culto que nos custe algo. Desejamos sempre o sossego e a tranqüilidade, mal damos o dízimo e nem queremos ouvir nada sobre ofertas. Logo classificamos como mensagem da prosperidade. Que confusão! Quantos crentes vão à Igreja a pulso, e têm carro, muitos com som e ar condicionado, e ainda reclamam. O sacrifício que agrada a Deus tem um preço para nós: nosso esforço, nossa oferta, nossa gratidão, nosso amor, nossa vontade, nosso desejo. Estamos debaixo da graça sim, é claro, não me esqueço disso em momento algum, mas quantas vezes gastamos com lazer valores que poderiam ser reduzidos e poderíamos ofertar mais para missões. Quanto tempo muitos estão gastando na TV, no Orkut ou MSN, e dizem que não tem tempo para orar, ler a Bíblia ou um bom livro cristão, e participar dos trabalhos semanais na Igreja ou nos lares. Quantos jovens estão gastando HORAS E HORAS lendo “Harry Potter”, “Senhor do Anéis” e outros, mas não tem disposição para ler a Bíblia. Tudo isso são sinais do nosso orgulho, será que pensamos que não precisamos de Deus? Que Ele não vê? Que Ele não sente nada? Deus tenha misericórdia de nós, que possamos voltar a prestar a Ele o sacrifício de louvor.
CONCLUSÃO
Após passar por toda essa situação, Davi era um homem mais humilde, que temia mais a Deus (vs.30). Isso mostra que muitas vezes estamos precisando de levar um puxão de orelhas daqueles bons, para aprendermos a temer e honrar mais a Deus. O orgulho nos afasta da verdadeira adoração, o orgulho nos leva a agir fora da vontade de Deus, o orgulho atrai a ira de Deus sobre nós.
O inimigo pode se levantar, e certamente ele fará isso, tentando nos tirar da presença de Deus. E o caminho pelo qual ele vai nos tentar é um só: o nosso orgulho, nossa insubmissão, nosso sentimento de independência de Deus, nossos questionamentos à Sua Palavra, à Sua vontade, aos Seus desígnios. Deus tenha misericórdia de nós...
Mas quando Deus toca em nós, reconhecemos quão pequeninos somos e como precisamos buscá-Lo, quanto necessitamos nos humilhar e prestar-Lhe o verdadeiro sacrifício de louvor e adoração que Ele requer de nós.
Que Deus nos ajude e nos tire do estado de orgulho em que muitas vezes nos encontramos. Precisamos suplicar a Ele que nos liberte desse sentimento avassalador que é o orgulho.
SOLI DEO GLORIA!!!
Material de apoio:
ABA – A Bíblia Anotada
Chave Bíblica SBB.
Sermão pregado anteriormente em 21.11.10 da 3ª IPB de Barretos.
IPB de Vila Gerti – S.Caetano / SP
EBD 27.03.11
TEXTO BÍBLICO
1 CRÔNICAS 21:1-30
“Então satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar a Israel.”
1 Crônicas 21:1.
INTRODUÇÃO
É sabido de todos que o orgulho traz grande destruição a todos que são vencidos por ele. Como um aliado das trevas, porém bem humano, o orgulho está presente na vida de todos nós. Como uma semente de pecado, o orgulho nos afasta de Deus e nos leva a cometer todo tipo de iniqüidade. Como uma doença presente em nosso DNA, o orgulho é real e precisamos nos precaver contra ele. Na mensagem de hoje iremos refletir acerca desse sentimento, os males que ele pode nos trazer, e como Deus, em Sua infinita bondade e misericórdia, trata conosco em todas as situações, inclusive quando caímos nas sutilezas do pecado do orgulho.
EXPLICAÇÃO
Deus permitiu que satanás tentasse Davi a levantar o censo do povo, e Davi, insistiu em faze-lo, contrariando o conselho de Joabe. Ainda que não intrinsecamente errada, a ação de Davi demonstrou que ele confiava no número de soldados que ele tinha, e não em Deus. O censo demorou cerca de dez meses (2 Sm 24:5-8). Os 800.000 de Israel mencionados em 2 Sm 24:9 podem não ter incluído os 300.000 alistados em 1 Cr 27, que elevariam o total para cerca de 1.100.000. Os 470.000 em Judá podem não ter incluído os 30.000 de 1 Sm 6:1, o que elevaria o total para cerca de 500.000. Talvez, ainda, os números de Crônicas sejam quantidades arredondadas. (ABA pg. 551).
ARGUMENTAÇÃO
O texto nos apresenta (mais) uma página triste na história do “homem segundo o coração de Deus” (At 13:22). Cuidemos para que não venhamos a tropeçar no mesmo erro, porque certamente sofreremos as conseqüências. O que aprendemos aqui acerca desse problema tão terrível que é o orgulho?
1 – O ORGULHO É UMA AMEAÇA
Essa é a primeira lição que destaco. O homem segundo o coração de Deus, autor inspirado de tão belos Salmos, teve seus momentos de fraqueza e sucumbiu diante dessa ameaça incontinente. O orgulho não respeita a história, nem os títulos ou os feitos do passado de ninguém. Pelo contrário, aqueles que mais são usados por Deus são os mais propensos a cair nessa cilada.
O inimigo tentou Davi, é verdade, mas se não fosse o seu orgulho certamente ele teria resistido ao mal. Foi o orgulho de Davi que o levou a:
1.1 – Aceitar a idéia de fazer o censo, mesmo que isso trouxesse a ira de Deus. Quem está com a mente dominada pelo orgulho chega a zombar de Deus com suas ações. Como uma cegueira, a pessoa age sem levar em consideração o que a Palavra de Deus diz acerca do pecado e suas conseqüências. Por isso, talvez, que haja tantos fora dos caminhos do Senhor, tropeçaram em seus próprios corações.
1.2 – Questionar a segurança de Deus e confiar em seu poderio militar. O orgulho pode levar-nos a não confiar plenamente em Deus e a buscarmos uma solução palpável, humana, algo em que possamos tocar e nos apoiar naquilo e não em Deus somente. O orgulho causa em nós a ansiedade, a inquietação e o desespero. O orgulho levou Davi a esquecer-se de tantas vitórias que Deus lhe havia dado, e agora ele confiava mais em seu exército do que em Deus.
1.3 – Rejeitar as exortações de Joabe que, usado por Deus, insistiu com ele para que desistisse desse projeto falido (1 Cr 21:3). Deus enviou um servo para alertar Davi de seu erro e dos riscos que isso traria para a toda a nação. A palavra de Davi prevaleceu sobre a de Joabe (vs.4). O orgulho cega e ensurdece, Davi não ouviu a voz de Joabe e nem a voz de Deus. É assim que acontece com todos que deixam vencer pelo orgulho, pensam que são donos da verdade, sentem-se cheios de razão e não dão ouvidos a ninguém.
O orgulho é como uma doença da qual precisamos nos curar, é como uma bactéria da alma que precisa ser contida. Deus é o único que tem o antídoto, o remédio, a cura para este mal. Podemos vencer o mal apegando-nos ao bem (Rm 12:9); venceremos o nosso orgulho revestindo-nos com a humildade de Cristo (Cl 3:12; 1 Pe 5:5). Muitas vezes precisaremos jejuar, orar e chorar aos pés do Senhor para que Ele transforme o nosso coração. Tente, funciona!
2 – O INIMIGO AGE ATRAVÉS DO ORGULHO
Se existe algo que o inimigo conhece no ser humano é o orgulho. Ele sabe que temos essa dificuldade e sempre tentará agir através do nosso orgulho, incitando-nos a fazer coisas que desagradam a Deus e que trarão sobre nós a Sua ira. O inimigo levanta contra nós ciladas, sutilezas e armadilhas para nos destruir. Foi o que aconteceu com Davi, satanás o incitou a fazer o censo e o seu plano maligno era não só contra Davi, mas contra Israel (vs.1).
O inimigo tem três objetivos principais: matar, roubar e destruir (Jo 10:10). Tudo que ele faz tem esses objetivos. Se o que o homem faz, ou intenta fazer, gera morte e destruição, muito provavelmente tem a ação diabólica por traz, sutilmente incutindo pensamentos e idéias nas mentes. A Bíblia nos manda estar atentos às suas ações malignas(1 Pe 5:8), e resisti-lo porque ele fugirá de nós (Tg 4:7).
BATALHA ESPIRITUAL
Já passou um pouco, mas muitos devem se recordar do movimento de batalha espiritual que varreu a igreja evangélica brasileira nas décadas de 80 e 90. A expressão “batalha espiritual” causava (ou ainda causa) até mal estar em muita gente, por causa das loucuras que se pregava e ensinava em muitos púlpitos.
Mas precisamos entender o assunto, porque é a Bíblia que nos alerta a respeito da batalha espiritual na qual a Igreja está inserida (Ef 6:12). O campo de batalha onde se travam nossas guerras contra o mal, é a nossa mente. Foi na mente de Davi que o inimigo o incitou, é na nossa mente, em nossos pensamentos que o inimigo “fala” conosco através de pensamentos, sugestões, idéias e vontades que surgem. É necessário ter discernimento espiritual para sabermos o que é da nossa própria mente, o que é da nossa carne, e o que é ação do inimigo. Por isso que a Bíblia fala alerta quanto aos pensamentos (2 Co 10:5; Ef 2:3).
Acontece que essas coisas estão sempre muito perto umas das outras, talvez seja por isso que existem basicamente dois tipos de crente atualmente: os que superestimam o inimigo e os que o subestimam. Ambos estão errados e, provavelmente, já caíram em sua armadilha. Uns por terem verdadeira fobia dele, e outros por pensarem que ele é uma mosca morta.
Dentro deste aspecto é importante saber que não é certo superestimar o inimigo, como muitos fazem. O crente não pode viver debaixo de um tipo de paranóia, com medo do diabo, como se ele fosse tão poderoso, mais poderoso até do que Deus. Ele é um derrotado, Cristo o destruiu totalmente na Cruz e na ressurreição (Cl 2:15; Ap 1:18).
Mas um outro grande erro é subestimá-lo. O nosso orgulho pode nos trair, e o inimigo tentará usar o nosso orgulho para nos fazer pecar contra Deus. Joabe tentou alertar Davi, mas ele não quis ouvi-lo, já estava preso na armadilha do orgulho, porém quem o jogou lá foi o diabo. Por causa de seu orgulho ele caiu, mas foi o diabo que o tentou.
Na década de 70 os Estados Unidos com toda sua arrogância de super-potência, partiram em guerra contra o Vietnã, como se os vietcongs fossem um bando de derrotados. Ele subestimaram o inimigo e foram derrotados. Hoje acontece algo semelhante com muitos crentes que subestimam o inimigo, pensam que ele está longe a milhares de quilômetros, mas ele pode estar bem perto de você. Cuidado!
"Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca." Marcos 14:38 (ver também Jo 10:10; 1 Pe 5:8 e Tg 4:7).
Sem dúvida alguma, o diabo é o maior interessado em que não se tenha uma real e bíblica noção de quem ele é. Deus é a nossa luz, e nos mostra na Palavra, as artimanhas e sutilezas de satanás justamente para que não caiamos.
3 – DEUS RESISTE E PUNE (COM MISERICÓRDIA) O ORGULHO
O inimigo tentou Davi e este “aceitou” a sua proposta. Por orgulho Davi não confiou somente em Deus, e rejeitando a vontade de Deus fez o que achava certo fazer, sem considerar que isso poderia trazer sérias punições contra ele, e que outros sofreriam por conseqüência de seus erros. Lembremos aqui que foram 10 meses até se completar o censo, isso significa que durante quase um ano Davi insistiu nesse projeto megalomaníaco que trouxe sobre ele o juízo de Deus. Muitas vezes somos como Davi, insistimos em projetos e idéias que nem sempre são da vontade de Deus. E apesar de sermos alertados das conseqüências, insistimos e nos tornamos contumazes.
Deus é justo e não ignora nossos pecados. Ele jamais vai compactuar conosco, se errarmos, se formos desobedientes e obstinados de coração. Que bom é contarmos com a graça de Deus que nos transforma, regenera, purifica. Que maravilhoso é sabermos que o Senhor nos ama, apesar de nós sermos tão pecadores. Como é gratificante confiar em Seu sublime amor. Mas Ele não ignora nossos pecados, e tem Seus métodos para tratar conosco. Jesus levou na cruz os nossos pecados, é verdade, por isso não podemos deixar que o pecado nos governe. Muitas vezes precisamos de um puxão de orelhas, uma varada de Deus, para que acordemos de nosso estado de orgulho e pecado. Foi o que aconteceu ali quando Deus feriu a Israel (1 Cr 21:7). Parece que só então Davi caiu e si (vs.8).
PUNIÇÃO DIVINA
A punição de Deus pode ocorrer de diversas maneiras, mas sempre tem um caráter corretivo e didático, e até que Ele faça isso certamente já enviou muitos “Joabes” para nos alertar. Se cairmos outros também sofrerão. Muitos pais só entendem que pecaram quando um filho fica enfermo, física ou espiritualmente, e muitos ainda perseveram no erro. Muitos casais só percebem que erraram quando o casamento termina em divórcio. Muitos só percebem que deveriam ser fiéis no dízimo quando chega o desemprego e a dificuldade financeira. E assim por diante. Grande parte das punições divinas são simples conseqüências de atos que nós mesmo praticamos. É como a história da criança que queria subir no banquinho, e a mãe avisou diversas vezes que não podia porque era perigoso, mas a criança queria tanto fazer aquilo que acabou subindo, caiu e esfolou o joelho. O castigo dói! A varada de Deus dói, e como dói... No caso de Davi Deus propôs três castigos (1 Cr 21:12), Davi deveria escolher e ele escolheu o terceiro castigo, que seria o “menos pior”. Deus então enviou a peste (vs.13,14) e morreram 70.000 homens em Israel. Como é difícil tomarmos certas decisões, principalmente quando erramos e vemos que outros estão sofrendo por causa de nós. Seria muito melhor pensar bem antes de tomarmos certas decisões, e considerarmos a vontade de Deus. Ele é amor, mas é justo. DEle não se zomba, com Ele não se brinca!
A MISERICÓRDIA DE DEUS
Mas, louvado seja Deus porque em sua ira Ele sempre se lembra da misericórdia. No versículo 15 encontramos a expressão “olhou o Senhor, e arrependeu-Se”. O termo “arrepender-se” quando aplicado a Deus significa que Ele mudou o desígnio de Seu coração, porque Deus não tem de que se arrepender, porque Ele é santo (Nm 23:19a).
“Quando a Bíblia fala de Deus se arrependendo e mudando sua intenção para com o homem, "evidentemente é só a maneira humana de falar. Na realidade a mudança não é em Deus mas no homem e nas relações do homem com Ele" (L. Berkhof). Pink complementa: "Quando fala de si mesmo, Deus freqüentemente acomoda a Sua linguagem às nossas capacidades limitadas. Ele Se descreve a si mesmo como revestido de membros corporais como olhos, ouvidos, mãos, etc. Fala de Si como tendo despertado (Salmo 78.65) e como ‘madrugando’ (Jeremias 7.13), apesar de que Ele não cochila nem dorme. Quando Ele estabelece uma mudança em Seu procedimento para com os homens, descreve a Sua linha de conduta em termos de arrepender-se". Em suma, o arrependimento de Deus não ocorre por causa de qualquer mudança nEle, mas por causa de nossa mudança para com Ele.” ("O Arrependimento de Deus" - Monergismo).
Deus em Sua infinita graça e misericórdia ordenou que o anjo destruidor retirasse a sua mão, cessando assim aquela mortandade.Nesse momento Deus concedeu que Davi visse o Anjo do Senhor que pairava entre a Terra e o Céu com sua espada desembainhada e a mão estendida sobre Jerusalém (vs.16). Então ele e os anciãos se colocam na posição mais correta para os servos de Deus: eles se prostraram com os rostos em terra (vs.16b). Ah, quanto tempo será necessário para que nos humilhemos e nos prostremos diante de Deus? O que mais precisa acontecer com você para você saia de sua posição de soberba e se humilhe perante Deus?
Davi se humilha e pede que Deus o castigasse e não ao povo (vs.17). Em resposta, Deus mandou que ele fizesse um altar e prestasse sacrifício ao Senhor (vs.18). Deus quer isso, que o humildemente O louvemos e O adoremos com temor e tremor, quando estamos com o coração cheio de orgulho não adoramos a Deus de verdade, mas quando Ele trabalha em nossos corações, talvez até nos castigando, e nós nos humilhamos perante Ele, então prestamos verdadeiro culto e O adoramos em espírito e em verdade, conforme é a vontade de Deus (Jo 4:23,24).
Acerca do sacrifício, encontramos em 1 Cr 21:24 mais uma grande lição: o sacrifício que Deus quer não é aquele que não tem nenhum valor para nós, mas aquele que valorizamos, esse é o verdadeiro sacrifício. Davi poderia ter aceito a oferta de Omã (vs.21-24), mas ele pagou por aquele lugar a soma de seiscentos ciclos de ouro (vs.25), cerca de 8,5 Kg de ouro, uma pequena fortuna, algo em torno de R$ 630.000,00. Em 2 Sm 24:24 registra-se também a compra dos bois para o holocausto. Incrível é que hoje em dia perdeu-se de vista a necessidade de se prestar a Deus um culto que nos custe algo. Desejamos sempre o sossego e a tranqüilidade, mal damos o dízimo e nem queremos ouvir nada sobre ofertas. Logo classificamos como mensagem da prosperidade. Que confusão! Quantos crentes vão à Igreja a pulso, e têm carro, muitos com som e ar condicionado, e ainda reclamam. O sacrifício que agrada a Deus tem um preço para nós: nosso esforço, nossa oferta, nossa gratidão, nosso amor, nossa vontade, nosso desejo. Estamos debaixo da graça sim, é claro, não me esqueço disso em momento algum, mas quantas vezes gastamos com lazer valores que poderiam ser reduzidos e poderíamos ofertar mais para missões. Quanto tempo muitos estão gastando na TV, no Orkut ou MSN, e dizem que não tem tempo para orar, ler a Bíblia ou um bom livro cristão, e participar dos trabalhos semanais na Igreja ou nos lares. Quantos jovens estão gastando HORAS E HORAS lendo “Harry Potter”, “Senhor do Anéis” e outros, mas não tem disposição para ler a Bíblia. Tudo isso são sinais do nosso orgulho, será que pensamos que não precisamos de Deus? Que Ele não vê? Que Ele não sente nada? Deus tenha misericórdia de nós, que possamos voltar a prestar a Ele o sacrifício de louvor.
CONCLUSÃO
Após passar por toda essa situação, Davi era um homem mais humilde, que temia mais a Deus (vs.30). Isso mostra que muitas vezes estamos precisando de levar um puxão de orelhas daqueles bons, para aprendermos a temer e honrar mais a Deus. O orgulho nos afasta da verdadeira adoração, o orgulho nos leva a agir fora da vontade de Deus, o orgulho atrai a ira de Deus sobre nós.
O inimigo pode se levantar, e certamente ele fará isso, tentando nos tirar da presença de Deus. E o caminho pelo qual ele vai nos tentar é um só: o nosso orgulho, nossa insubmissão, nosso sentimento de independência de Deus, nossos questionamentos à Sua Palavra, à Sua vontade, aos Seus desígnios. Deus tenha misericórdia de nós...
Mas quando Deus toca em nós, reconhecemos quão pequeninos somos e como precisamos buscá-Lo, quanto necessitamos nos humilhar e prestar-Lhe o verdadeiro sacrifício de louvor e adoração que Ele requer de nós.
Que Deus nos ajude e nos tire do estado de orgulho em que muitas vezes nos encontramos. Precisamos suplicar a Ele que nos liberte desse sentimento avassalador que é o orgulho.
SOLI DEO GLORIA!!!
Material de apoio:
ABA – A Bíblia Anotada
Chave Bíblica SBB.
Sermão pregado anteriormente em 21.11.10 da 3ª IPB de Barretos.
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