Por quê a turma da Mônica cresceu?


Primeiro, foi Mônica e sua Turma; agora é Luluzinha e Bolinha. Todos cresceram. Ficaram adolescentes. Realmente, a realidade bate à porta e nos faz pensar, refletir, despertar para a era da tecnologia, internet, blogs, Orkut, MSN, Twitter e tantas outras coisas que a sociedade midiática nos obriga a engolir. A abordagem narrativa mudou e as historinhas também. Os desafios corriqueiros do cotidiano, o cuidado com as árvores, comer muita melancia, a rejeição do banho, dormir cedo, jogar no campinho, briguinhas sem sentido... foram trocados por textos insinuantes, sensuais, com intenções diversas, o conhecer das armadilhas da vida e o fazer adulto de uma forma tão rápida.

Isso porque os teens, os jovens, não namoram, “pegam”, “ficam”. Sentimento? Parece não fazer parte do vocabulário dessa geração “estilosa”, que está muito mais preocupada com o modelo do celular que chegou ao mercado do que com as pessoas, muito menos na família.

Mônica agora tem curvas, perdeu alguns quilos para entrar no tipo magricela e sensual e fazer parte do gueto. Num grupo, à la geração Malhação, muito antes do pensar em ser pessoa o sexo já entrou de mente adentro e transformou o corpo e uma vida que ainda estão por vir.

Quando a Turma da Mônica e o grupo de Luluzinha e Bolinha cresceram (de gibi infantil para linguagem teen), foram com eles a beleza da inocência nas narrativas e a ausência da maldade. (...)

Por que temos que reforçar o discurso da competição, excelência, magreza, beleza, superioridade – que já está sendo ingerido diariamente no nosso cotidiano?

Desabafo à parte, a reflexão está muito mais calçada na possibilidade de novas maneiras de expor esse tal real que vivemos. Onde deixamos de exercitar o lúdico, os sonhos, as cores primárias, a ficção, os erros e falhas do aprender a crescer e colocamos tudo isso de forma engessada na prateleira do mercado midiático como um produto à venda em prestação ou à vista.

Os “erros” do Cebolinha ao trocar o “r” pelo “l” nunca antes foram absorvidos por nenhuma criança por se identificar com essa imagem. A forma “dominadora” de Mônica em querer administrar a situação não interferiu no crescimento de muitas meninas depois das leituras. A sujeira do Cascão não foi exemplo seguido até então por ninguém a ponto de comprometer a saúde das crianças. O “comer, comer” de Magali não deixou garotas obesas por acharem tudo normal. Nenhuma mulher virou feminista porque entendeu que Luluzinha era superpoderosa sozinha e não precisava dos meninos. E os garotos não rejeitaram as meninas porque Bolinha tinha um clube só de “homens”.

Se nada disso aconteceu, o que tem a ver a evolução tecnológica com o discurso inocente dos gibis da Turma da Mônica, Luluzinha e Bolinha? Parece que adulto não gosta mesmo de falar para criança. Gosta de escrever para jovens que já pensam que são adultos.

(Teresa Leonel, socióloga e jornalista)

Logo abaixo do texto da socióloga Teresa foi postado o seguinte comentário de Ângelo de Souza, jornalista do Rio de Janeiro: “Não são adultos que não gostam de escrever para crianças, é o mercado que quer vender tudo para todos, o que só é possível quando o desejo de consumir (que passa por identificação e projeção) torna-se incontrolável, como numa criança, induzindo a uma espécie de rebeldia contra a disciplina, como num adolescente, e a gastos que só um adulto pode fazer. O melhor dos mundos, para o mercado, é habitado por pessoas com idade mental de 6, libido de 15 e a conta bancária do papai ou do vovô bem-sucedidos (e eles, também, taradões gostam de ver a Mônica cheia de curvas, quem duvida?).

Autoria: Michelson Borges

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