TIPOS DE PREGADOR

Os mais variados tipos de pregador e seus públicos-alvo
 
Há quase 20 anos, fui convidado pela primeira vez para participar de uma agência nacional de pregadores. Um companheiro de púlpito me ofereceu um cartão e disse: “Seria um prazer tê-lo em nossa agência”. Então, lhe perguntei: “Como funciona essa agência?” E a sua resposta me deixou estarrecido: “As igrejas ligam para nós, especificam que tipo de pregador desejam ter em seu evento, e nós cuidamos de tudo. Negociamos um bom cachê”.

É impressionante como o pregador, nos últimos anos, se transformou em um produto. Há alguns meses, depois de eu ter pregado em uma igreja (não me pergunte onde), certo pastor me disse: “Gostei da sua pregação, mas o irmão conhece algum pregador de vigília?” Achei curiosa essa pergunta, pois eu gosto de oração, já preguei várias vezes em vigílias, porém, segundo aquele irmão sugeriu, eu não serviria para pregar em uma vigília!

Em nossos dias — para tristeza do Espírito Santo — pertencer a uma agência de pregadores tornou-se comum e corriqueiro. E os convites para ingressar nessas agências chegam principalmente pela Internet. Nos sites de relacionamento encontramos comunidades pelas quais os internautas mencionam quem é o seu pregador preferido e por quê. Certa jovem, num tópico denominado “O melhor pregador”, declarou: “Não existe ninguém melhor que ninguém; cada um tem a sua maneira de pregar, e cada pessoa avalia segundo o seu gosto”.

Ela tem razão. Ser pregador, hoje em dia, não basta. Você tem de atender às preferências do povo. Já ouvi irmãos conversando e dizendo: “Fulano é um ótimo pregador, mas não é pregador de congresso” ou “Fulano tem muito conhecimento, mas não gosta do reteté”.

Conheçamos alguns tipos de pregador e seus públicos-alvo:

Pregador humorista. Diverte muito o seu público-alvo. Tem habilidade para contar fatos anedóticos (ou piadas mesmo) e fazer imitações. Ele é como o famoso humorista do gênero stand-up comedy Chris Rock (que aparece na imagem acima). De vez em quando cita versículos. Mas os seus admiradores não estão interessados em ouvir citações bíblicas. Isso, para eles, é secundário.

Pregador “de vigília”. Também é conhecido como pregador do reteté. Aparenta ter muita espiritualidade, mas em geral não gosta da Bíblia, principalmente por causa de 1 Coríntios 14, especialmente os versículos 37 e 40: “Se alguém cuida ser espiritual, reconheça que as coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor... faça-se tudo decentemente e com ordem”. Quando ele vê alguém manejando bem a Palavra da verdade (2 Tm 2.15), considera-o frio e sem unção. Ignora que o expoente que agrada a Deus precisa crescer na graça e no conhecimento (2 Pe 3.18; Jo 1.14; Mt 22.29). Seu público parece embriagado e é capaz de fazer tudo o que ele mandar.

Pregador “de congresso”. Entre aspas porque existe o pregador de congresso que faz jus ao título. Mas o pregador “de congresso” (note: entre aspas) anda de mãos dadas com o pregador “de vigília”, mas é mais famoso. Segundo os admiradores dessa modalidade, trata-se do pregador que tem presença de palco e muita “unção”. Também conhecido como pregador malabarista ou animador de auditórios, fica o tempo todo mandando o seu público repetir isso e aquilo, apertar a mão do irmão ao lado, beliscá-lo... Se for preciso, gira o paletó sobre a cabeça, joga-o no chão, esgoela-se, sopra o microfone, emite sons de metralhadora, faz gestos que lembram golpes de artes marciais... Exposição bíblica que é bom... quase nada!

Pregador “de congresso” agressivo. É aquele que tem as mesmas características do pregador acima, mas com uma “qualidade” a mais. Quando percebe que há no púlpito alguém que não repete os seus bordões, passa a atacá-lo indiretamente. Suas principais provocações são: “Tem obreiro com cara de delegado”, “Hoje a sua máscara vai cair, fariseu”, “Você tem cara amarrada, mas você é minoria”. Estas frases levam o seu fanático público ao delírio, e ele se satisfaz em humilhar as pessoas que não concordam com a sua postura espalhafatosa.

Pregador popstar. Seu pregador-modelo é o show-man Benny Hinn, e não o Senhor Jesus. É um tipo de pregador admirado por milhares de pessoas. Já superou o pregador de congresso. É um verdadeiro artista. Veste-se como um astro; sua roupa é reluzente. Ele, em si, chama mais a atenção que a sua pregação. É hábil em fazer o seu público a abrir a carteira. Seus admiradores, verdadeiros fãs, são capazes de dar a vida pelo seu pregador-ídolo. Eles não se importam com as heresias e modismos dele. Trata-se de um público que supervaloriza o carisma, em detrimento do caráter.

Pregador milagreiro. Também tem como paradigma Benny Hinn, mas consegue superar o seu ídolo. Sua exegese é sofrível. Baseia-se, por exemplo, em 1 Coríntios 1.25, para pregar sobre “a unção da loucura de Deus”. Cativa e domina o seu público, que, aliás, não está interessado em ouvir uma exposição bíblica. O que mais deseja é ver sinais, como pessoas lançadas ao chão supostamente pelo poder de Deus e fenômenos controversos. Em geral, o pregador milagreiro, além de ilusionista e “poderoso” (Dt 13.1-4), é aético e sem educação. Mesmo assim, ainda que xingue ou ameace os que se opõem às suas sandices e invencionices, o seu público é fiel e sempre diz “aleluia”.

Pregador contador de histórias. Conta histórias como ninguém, mas não respeita as narrativas bíblicas, acrescentando-lhes pormenores que comprometem a sã doutrina. Costuma contextualizar o texto sagrado ao extremo. Ouvi certa vez um famoso pregador dizendo: “Absalão, com os seus longos cabelos, montou na sua motoca e vruuum...” Seu público — diferentemente dos bereanos, que examinavam “cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim” (At 17.11) — recebe de bom grado histórias extrabíblicas e antibíblicas.

Pregador cantante. Indeciso quanto à sua chamada. Costuma cantar dois ou três hinos (hinos?) antes da pregação e outro no meio dela. Ao final, canta mais um. Seu público gosta dessa “versatilidade” e comemora: “Esse irmão é uma bênção! Prega e canta”. Na verdade, ele não faz nenhuma das duas coisas bem.

Pregador “massagista”. É hábil em dizer palavras que massageiam os egos e agradam os ouvidos (2 Tm 4.1-5). Procura agradar a todos porque a sua principal motivação é o dinheiro. Ele não tem outra mensagem, a não ser “vitória”, principalmente a financeira. Talvez seja o tipo de pregador com maior público, ao lado dos pregadores humorista, popstar e milagreiro.

Pregador sem graça. É aquele que não tem a graça de Deus (At 4.33). Sua pregação tem bastante conteúdo, mas é como uma espada: comprida e chata (maçante, enfadonha). Mas até esse tipo de pregador tem o seu público, formado pelos irmãos que gostam de dormir ou conversar durante a pregação.

Pregador chamado por Deus (1 Tm 2.7). Prega a Palavra de Deus com verdade. Estuda a Bíblia diariamente. Ora. Jejua. É verdadeiramente espiritual. Tem compromisso com o Deus da Palavra e com a Palavra de Deus. Seu paradigma é o Senhor Jesus Cristo, o maior pregador que já andou na Terra. Ele não prega para agradar ou agredir pessoas, e sim para cumprir o seu chamado. Seu público — que não é a maioria, posto que são poucos os fiéis (Sl 12.1; 101.6) — sabe que ele é um profeta de Deus. Esse tipo de pregador está em falta em nossos dias, mas não chama muito a atenção das agências de pregadores. A bem da verdade, estas também sabem que nunca poderão contar com ele...

Qual é a sua modalidade preferida, prezado leitor? Você pertence a qual público? E você, pregador, qual dos perfis apresentados mais lhe agrada?


Os mais variados tipos de pregador e seus públicos-alvo (2)

Um dos leitores do primeiro artigo desta série fez menção de outro tipo de pregador não constante da relação original. Disse ele: “Faltou o pregador recalcado. Ele faz sua agenda falando mal dos outros pregadores; suas mensagens estão pautadas em ofender outros ministros, sem respeitar os estilos e as formas variadas de Deus agir. Duvida e questiona o ministério de todos, mas ele é o ungido. O recalcado fala dos que cobram para pregar, mas ele também tem um preço; fala mal do pregadores itinerantes, mas também tem os seus DVDs e livrinhos para vender na saída dos cultos. Vamos orar para que o Eterno nos abençoe e tenha muita misericórdia da nossa geração. Ainda bem que hipocrisia não tem cheiro”.

Concordo em parte com o leitor, que também é pastor e pregador. De fato, há esse tipo de pseudo-pregador, o recalcado. Mas é preciso considerar também o seguinte:

Primeiro: um “pregador” que ofende ministros e supostamente faz sua agenda falando mal dos outros está desviado. E é lamentável que igrejas convidem “desviados” para ministrar em seus eventos. Portanto, eu não chamaria um “pregador” com as mencionadas características apenas de recalcado, mas de falso pregador, desviado, fraudulento, que não tem compromisso com o Deus da Palavra e com a Palavra de Deus.

Segundo: é preciso saber distinguir entre estilo de pregador e abuso de animador. Estilo é algo próprio de uma pessoa: sua maneira de falar, de gesticular... Mas isso nada tem que ver com manipulação de auditório. Muitos pregadores que não suportam críticas aos seus erros, por exemplo, sequer leram os meus livros e saem por aí dizendo que eu não respeito os estilos dos pregadores. Eu os respeito, sim. Mas o “estilo animador de auditórios” não tem apoio das Escrituras. Pregação significa expor a Palavra de Deus, com ousadia, graça, sabedoria do alto, etc. Mas o que vemos hoje é abuso, manipulação, ofensas indiretas (e às vezes diretas) a quem não aceita ser manipulado.

Terceiro: Deus age das mais variadas maneiras, pois a sua manifestação é multiforme (1 Co 12.4-11). Entretanto, há muitas aberrações que estão sendo praticadas no meio do povo de Deus com a desculpa de que não podemos julgar o suposto agir de Deus. Ora, nada está acima da Palavra do Senhor (Gl 1.8; 1 Co 4.6). Ela sim é pura, perfeita, mas pregações, profecias e manifestações devem ser julgadas, provadas, examinadas segundo a reta justiça. Isso é bíblico, gostem ou não os “pregadores” que desejam viver acima do bem e do mal (1 Jo 4.1; Jo 7.24; 2 Co 11; 1 Pe 4.13).

Quarto: duvidar de ministérios e questioná-los não é pecado, pois o livre exame é bíblico (At 17.11; 1 Ts 5.21). Mas considerar-se “o ungido” é iniqüidade. E essa característica também está relacionada com os animadores de auditório e milagreiros, que não aceitam críticas construtivas. Inseguros, eles reagem de maneira desproporcional, ofendendo, menoscabando e se julgando “os ungidos”... Realmente, como disse o leitor, ainda bem que a hipocrisia não tem cheiro.

Quinto: eu duvido sim e questiono muitas pregações e práticas da atualidade, porque a Palavra de Deus me dá essa liberdade (1 Ts 5.21), mas respeito as pessoas. As minhas considerações são, às vezes, irônicas, bem-humoradas, provocativas, porém sempre são feitas em tese. E, se alguém se sente ofendido com críticas em tese, está demonstrando total insegurança quanto à sua chamada. Afinal, quem tem chamada de Deus sabe em Quem tem crido, diferentemente dos manipuladores de platéia...

Sexto: os pregadores recalcados realmente, quando podem (pois são poucos os pastores desavisados que lhes dão oportunidade de falar), agridem as pessoas. Concordo com o leitor. Mas os pregadores e ensinadores zelosos combatem os erros cometidos por obreiros, à semelhança do Senhor Jesus e do apóstolo Paulo, que não toleravam os desvios na esfera ministerial (Ap 2;3; 2 Co 11; Tt 1; Fp 3.18).

Sétimo: os pregadores zelosos (1 Tm 4.16), ao contrário dos recalcados e dos animadores de auditório, não precisam pedir (alguns até imploram) nem se oferecer para pregar: “Convide-me para fazer uma campanha em sua igreja”. Não, os pregadores zelosos, compromissados com o Deus da Palavra e com a Palavra de Deus, são convidados por líderes igualmente zelosos. Sim, os pregadores que têm convicção da sua chamada esperam no Senhor, pois é Ele quem chama (Mc 3.13), capacita (Jo 15.16) e abre portas grandes e eficazes para a pregação do Evangelho (1 Co 16.9).

Oitavo: nos meus livros e também neste blog questiono quem estipula cachês altíssimos, abusivos, para pregar (pregar?), porque isso é anti-bíblico. Daniel não aceitou os presentes do rei antes de interpretar o que fora escrito na parede, mas os aceitou depois (Dn 5). Em outras palavras, fazendo aqui uma aplicação: ele não cobrou cachê para ser um instrumento de Deus, mas aceitou uma oferta por fazer a obra de Deus.

Nono: precisamos ser coerentes e verdadeiros, e não coniventes com o erro. O nosso compromisso é com Deus, e não com os homens (Ez 2; At 7; 1 Co 11.23). É Ele quem aprova ou reprova o nosso ministério, mas quem fica irritado com as críticas aos erros do pregador — e não à pessoa do pregador — é porque está inseguro quanto à sua chamada, repito.

Concluo citando o que diz a Palavra de Deus em 2 Coríntios 10.12-18: “Porque não ousamos classificar-nos com alguns que se louvam a si mesmos; mas esses que se medem a si mesmos e se comparam consigo mesmos estão sem entendimento... Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, mas, sim, aquele a quem o Senhor louva”.

Com amor e respeito a todos os pregadores do Evangelho, como eu também o sou, segundo a graça de Deus.

Autor: Ciro Sanches Zibordi.

Colaboração Rev. David Cestavo - IPB Central de Lavras / MG.

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