Depressão: Uma Visitante Indesejada
“Das profundezas clamo a ti, SENHOR.” Salmos 130:1.
Por: Cara Croft
Eu respiro as palavras: “Eu sou importante para Deus”. Elas passam lentamente pelos meus lábios, circulam em volta da minha cabeça e pousam em meus ouvidos com um ruído maçante. Essas palavras, incapazes de penetrar mais fundo no meu cérebro, já entupido de mensagens contrárias, nunca chegam ao meu coração aonde mais preciso senti-las. Repetição vã do que sei ser verdade, porém, a experiência de vida cria defesas contra o impacto dessas palavras, recusando-se teimosamente a deixá-las criar raízes de maneira significativa.
“Eu não importo, eu sou invisível, ninguém percebe, eu estou desaparecendo” essas palavras viajam no fundo da minha garganta, nunca passam pelos meus lábios, mas vão direto para o meu íntimo.
Eu posso inspirar e expirar o que as Escrituras me dizem, mas pareço mais capaz de engolir as mentiras e deixá-las se infiltrarem no âmago do meu ser. Essas são as palavras que sugam a energia do meu corpo para o “buraco negro” da depressão. Eu abro a Escritura orando para que uma flecha mágica da verdade ilumine aquele lugar escuro e queime essas mensagens, mas não acredito que hoje isso possa acontecer.
Isso parece escuro, porque é escuro. Isso é depressão.
Ela veio me chamar de novo, a velha e familiar visitante que decide chegar sem avisar. Seria bom se ela ligasse, para saber se é bem-vinda, antes de aparecer à porta, mas ela não liga. O fato é que a depressão nunca foi uma visitante amável, nunca é sensata, nunca pergunta se é um bom momento para visitar-me. Quanto tempo ela vai ficar desta vez? Só hoje? Uma semana, um mês inteiro? E se ela nunca mais for embora? Esse é um medo constante, que ela se mude definitivamente, contudo a história me diz que ela acabará partindo.
Cada vez que ela aparece eu tento encontrar uma nova maneira de lidar com sua visita. Podíamos dar um passeio, digo, embora ela esteja contente em ficar em casa e assistir televisão. Devemos ligar para um amigo e informá-lo que você está me visitando, mas ela prefere apenas olhar as fotos do Instagram e ver, de longe, os amigos no Twitter. Ela prefere sufocar do que deixar respirar, manter-me refém do que poderia libertar-me, puxar-me mais para baixo das cobertas da cama do que deixar-me lavar da sua presença no chuveiro. Hoje me bateu um pensamento: “E se eu colocar alguns limites nela, como ter outras relações “tóxicas”? E se eu decidir onde ela pode estar e o que ela pode fazer? E se eu assumisse o controle hoje e dissesse à depressão onde ela pode aparecer”?
Eu sei que alguns me diriam para expulsá-la de casa, outros diriam, não abra a porta quando ela bater. O que eles não entendem é que eu nunca abro a porta e quanto mais eu tento expulsá-la, mais forte ela fica. Ela entra pela janela, entra pela porta dos fundos e atravessa as paredes como um fantasma. Ela fica mais forte com a minha rejeição a ela e me lembra que ignorá-la e fingir que ela não existe apenas intensifica sua escuridão.
Ela não pede para entrar, ela encontra um caminho através de todas as frestas e buracos da minha humanidade.
É verdade que, às vezes, eu faço amizade demais com ela, às vezes estou cansada e exausta e dou as boas vindas à presença dela. As vezes eu deixo ela me fazer refém porque estou orando e esperando que alguém venha me resgatar das mãos dela. Mas a verdade é que ninguém pode, ninguém pode me tirar da sua presença, ninguém pode arrancá-la da minha casa. A melhor ajuda é daqueles que me apoiam em colocar a depressão no seu devido lugar. Aqueles que me incentivam a aprender a reagir contra sua apatia. Aqueles que me incentivam a cuidar de mim de forma a trazer de volta a vida e respiração e luz para suas trevas.
Assim, eu reconheço sua presença. Agradeço a ela por visitar-me e por me lembrar da minha humanidade, eu a convido a ir junto quando vou ler a palavra de Deus, visitar amigos, respirar ao sol e ao ar livre. Convido-a a tomar banho e lavar-se comigo, mesmo que isso seja tudo o que fizermos hoje. Peço-lhe para comer uma refeição comigo e sentir a comida nutrir as partes famintas da minha alma. Eu me lembro de que Deus me dá graça, ele sabe que, quando ela está me visitando, eu não posso fazer tanto quanto normalmente faço.
Deus me lembra que conhece bem a visitante em minha casa, e não me despreza por isso.
Eu começo a me levantar e fazer as coisas que parecem mais difíceis de fazer. Eventualmente ela vai se cansar de mim e me deixar, depois ela vai voltar a me visitar, eu tenho certeza disso. Mas cada vez eu aprendo um pouco melhor como tolerar sua presença até que ela se vá, luto contra suas mentiras com a verdade de Deus, e me apóio mais na graça de Deus do que minha humanidade.
Cara Croft é conferencista e trabalha ministrando para mulheres que estão no ministério ou esposas de pastor. É bacharel em Psicologia com ênfase em aconselhamento cristão e está mestrando em aconselhamento. É casada com Brian Croft, com quem tem 4 filhos.
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