Prosperidade na Vida e no Ministério


"Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores. Antes, o seu prazer está na Lei do SENHOR, e na Sua Lei medita de dia e de noite. Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem-sucedido." Salmos 1:1-3.

O que é ser próspero? Segundo os padrões do mundo, ser próspero é ser rico, não ter problemas de saúde ou de família e se tiver resolvê-los de modo rápido e tranquilo. Mas biblicamente, o que é ser próspero? Todos que conhecem a Bíblia sabem que prosperidade é ter a benção de Deus, seja na saúde ou na doença, na alegria e na tristeza, na fartura ou na necessidade. Há diversos textos que apontam essa afirmação.

Os malefícios dessa visão mundanizada da prosperidade dentro da Igreja são notórios, haja visto os malefícios da malfadada "teoria da prosperidade", que condenamos veementemente e com toda razão. E não há base bíblica para essa interpretação tão distante da Palavra, por isso não gosto de chamar de "teologia", mas teoria.

"A bênção do SENHOR enriquece, e, com ela, ele não traz desgosto." Provérbios 10:22.

Porém, o ponto eu quero abordar aqui nessa rápida reflexão, é o quanto da visão da teoria (ou teologia, tudo bem, rss) da prosperidade está em nosso meio. De uma forma muito sutil ela invadiu o nosso inconsciente coletivo. Quer ver? Como classificamos alguém que venceu na vida, por assim dizer, financeiramente? Geralmente o irmão rico e abastado é visto como um "abençoado de Deus", e de fato o é. E quando um irmão compra um um carro novo, principalmente se for um carro grande e de luxo? Também falamos quase que automaticamente: "que benção!", e está correto, é benção mesmo! O mesmo ocorre quando as pessoas adquirem uma casa ou apartamento, passam em um concurso público ou recebem um aumento de salário. Obviamente todas essas coisas são bençãos, disso ninguém dúvida, e especialmente se tudo isso foi conquistado ou recebido com esforço, trabalho, determinação e todos os valores que o nosso Deus imprimiu em nosso caráter: integridade, honestidade e transparência, enfim, o caráter cristão. Mas e quem não conseguiu obter tudo isso? Aqueles que não receberam essas bênçãos ou dádivas não são abençoados? A Bíblia não diz que o pobre não é abençoado, que a enfermidade seja sinal de maldição, ou que pagar aluguel, morar numa edícula ou kitnet num bairro da periferia seja prova de que essa pessoa não é amada por Deus, ou que não tenha fé. Mas não é incomum sabermos e notarmos pessoas que pensam dessa maneira mundanizada, ou influenciada pela "teologia" da prosperidade.

Creio até que não seria de todo errado distinguir prosperidade material de prosperidade espiritual em algumas situações, mas a visão mais correta acerca da prosperidade à luz da Bíblia, é que se trata de uma coisa só, que tem várias nuances dentro da "multiforme graça de Deus". Deus É fiel e nos diz claramente que "nada nos faltará". Pode ter certeza que em muitos casos aquele que vive uma vida mais humilde e simples é bem mais feliz do que o que possui muitos bens e riquezas. E aí, quem é mais próspero?

Vegetais?

Todos nós almejamos uma vida melhor, só os vegetais não ligam para isso. Não estou falando aqui de ser milionário, necessariamente, mas de ter uma residência fixa e própria, um bom carro para poder sair, passear, ir na igreja, trabalhar, não ficar no sufoco na madrugada ou num dia de chuva e frio, e até poder ajudar alguém que necessitar. Todos almejamos deixar para nossas esposas e filhos uma aposentadoria digna e dar-lhes condições de uma vida digna e feliz. Que bom aqueles que conseguiram deixar um "pé de meia" no banco, quando partiram para a glória. Mas falar dessas coisas dá a sensação de materialismo, e não é isso. Na Bíblia isso também é chamado de prosperidade. Acredito até que quem não luta por estas causas está pecando, pois se Deus dá condições a cada um de melhorar de vida, deve-se fazer isso até onde seus limites lhe possibilitem, vendo essas coisas como benção e provisão de Deus.

"[...] se as vossas riquezas prosperam, não ponhais nelas o coração." Salmos 62:10b.

Um grande problema dentro dessa perspectiva toda são as comparações, pois quando começamos a comparar aquele irmão que nasceu num berço de ouro, ou que conseguiu melhorar de vida e seus filhos nasceram em berço de ouro, com a realidade de outros que não possuem nada, ou quase nada, só o básico, corremos o risco de cair naquela visão distorcida e mundanizada acerca da prosperidade. Há o perigo dessas distorções levarem a raciocínios antibíblicos e heréticos acerca da justiça de Deus, bençãos e maldições, e a questão da fé.

"Seja a vossa vida sem avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque Ele tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei." Hebreus 13:5.

Precisamos compreender que cada pessoa é diferente uma da outra, que cada caso é um caso e Deus dá a cada um de acordo com Sua santa e soberana vontade, em Seu devido tempo, que Deus é sábio e ama a todos de igual modo em Jesus, e que não é o fato de possuir riquezas ou não estar passando por problemas visíveis que faz com que uma pessoa seja mais abençoada do que quem vive em restrições e limites materiais, ou que em determinado momento da sua jornada está passando por uma grande provação. O rico também é provado, quem tem bens materiais em abundância também sofre, e muitas vezes certos tipos de sofrimentos que os que tem uma vida mais simples não sabem. Já vi irmãos perderem entes queridos por causa de sua riqueza, outros foram sequestrados e passaram dias em covas e cisternas e até hoje carregam as marcas daquela dor, eles e seus queridos que sofrem também seus traumas.

"Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os Teus decretos." Salmos 119:71.

Outro fator a se considerar é que Deus é Quem dá e tira, faz prosperar e empobrecer, Ele sabe o quanto suportamos possuir coisas, ou não passar por problemas e crises e nos mantermos firmes na fé. É Ele também Quem nos tira dos tremedais de lama, confusão, dívidas e comprometimentos, muitos deles causados por má administração nossa, ou por constantes e intrínsecos roubos de governantes corruptos que arrancam nossos bens através de impostos abusivos, privando-nos assim de crescer e prosperar. Mas é Deus Quem controla também o coração dos governantes, Ele é soberano! E está acima dos reis da Terra, e Seu poder é sobremodo excelente e não é submisso às leis físicas e econômicas. O nosso Deus É Deus de milagres e tudo faz COMO LHE AGRADA! E não como nos agrada. O grande segredo para ser feliz é entender isso, lutar e trabalhar, crendo que Deus tem o melhor para nós, e chegaremos onde Ele quiser e permitir, mas que o nosso nome já está escrito no Livro da Vida, e nada nem ninguém poderá nos roubar a Vida Eterna e os tesouros prometidos para nós na glória.


"Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR; Este, segundo o Seu querer, o inclina." Provérbios 21:1.

"Feliz a nação cujo Deus é o SENHOR, e o povo que Ele escolheu para Sua herança." Salmos 33:12.

Muitas vezes os problemas, dificuldades e necessidades são bençãos de Deus para nos aproximarem mais dEle e nos fazerem entender, refletir e sempre lembrar que o nosso lugar não é aqui, e que lá para onde vamos não haverá necessidade, luto, pranto ou dor. Enquanto estivermos aqui na Terra, mesmo que passarmos por momentos difíceis, Deus É fiel e sempre cuidará de nós, sempre proverá uma saída para nós. Deus cuida de nós!

"Fui moço e já, agora, sou velho, porém jamais vi o justo desamparado, nem a sua descendência a mendigar o pão." Salmos 37:25.

"Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação." Filipenses 4:11.

Esse cuidado Divino certamente não retira de nós, mas acrescenta, a nossa responsabilidade de nos cuidarmos, economizarmos, trabalharmos, estudarmos e lutarmos, crendo que Ele está nos permitindo tudo isso fazer por dias melhores, em todas as áreas da vida, interagindo com Ele, de acordo com a Sua Soberana vontade sabedoria.

Os tesouros no Céu

O maior tesouro que alguém pode receber é a salvação, o perdão dos seus pecados e a vida eterna em Cristo Jesus.

"Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a Terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no Céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração." Mateus 6:19-21.

O significado dessas Palavras de Jesus não é que você não pode, ou não deva fazer uma poupança e querer ter bens materiais e até se esforçar para isso, mas que o tesouro do crente não está aqui na Terra, mas no Céu. Entenda bem, ainda que o crente possua coisas aqui, essas coisas não são o seu tesouro, porque não estão em primeiro lugar em seu coração. Nesse caso o exemplo de Jó serve de ilustração clara, pois ele que era próspero perdeu tudo que possuía mas não perdeu a sua fé em Deus. E o Senhor lhe restaurou tudo de novo, mas certamente, mesmo que o Senhor não tivesse feito assim, Jó não negaria o Senhor, mas estava disposto a morrer em fé e resignação.

A prosperidade no ministério pastoral

Essa é uma outra área em que muitas pessoas confundem tudo e acabam cobrando de seus pastores algo que Deus não cobra na Bíblia. Eu creio que essa visão distorcida acerca do ministério pastoral tem a ver com a mesma distorção acerca da prosperidade na vida individual de cada um. Você já viu esse tipo de raciocínio?

A Igreja do pastor fulano cresce, "que pastor abençoado!" A Igreja do pastor beltrano não cresce tanto, quem é o culpado? O pastor, claro! Porém, a Bíblia não traz esse conceito de crescimento ligado à pessoa exclusiva do pastor, como sinal de prosperidade e bênção no ministério.

Podemos entender biblicamente que cada caso é um caso diferente do outro, que cada igreja é um organismo vivo e tem uma história própria. A maioria dos pastores são fiéis e dedicados, mas o crescimento espiritual e numérico da Igreja não pode ser atribuído a homens, pois é Deus que dá o crescimento. Há casos, por exemplo, de pastores que estavam adulterando, mas pregavam muito bem, eram eloquentes, carismáticos e suas igrejas estavam cheias, eram as que mais cresciam no presbitério, e lhes pagavam "big salários". Seria correto dizer que eles eram prósperos? 

Se observarmos a história dos profetas e apóstolos da Biblia compreenderemos porque nem sempre as igrejas crescem. Basta uma breve leitura em Jeremias e Ezequiel, ou o estudo da vida e morte dos Apóstolos por exemplo. Esses sim, que lutam no ministério e pelo ministério até o fim, apesar das lutas, dificuldades, provações e privações são prósperos diante do Senhor. São comparáveis a Paulo que fez tudo como quem tinha que prestar contas a Deus, foi perseguido, sofreu horrivelmente e no final de sua vida foi preso e morto por decapitação. Mas sofrer perseguições e até morrer pelo Evangelho, e como no caso de Paulo, por decapitação, é sinal de prosperidade? Para os homens em geral não, mas na Bíblia sim, isso é ser próspero para com Deus. A prosperidade deles estava em sua fidelidade e disposição de viver e ser fiel a Deus até a morte, como prova da presença do próprio Deus na vida deles, capacitando-os a fazerem tudo isso para a glória de Deus, sem reclamar, mas glorificando aquEle que é o dono de nossas almas.

Geralmente as pessoas olham para os pastores e tentam traçar para suas vidas um modelo, observando-os. Outros invejam e até odeiam os pastores. Por exemplo, se o pastor tem um ótimo carro as reações são diferentes, uns veem isso como prosperidade e querem ter também, outros acham um absurdo o pastor ter conforto, afinal de contas Jesus andava a pé. Mas como é bom poder dispor do carro do pastor para a obra de Deus não é mesmo? Nesse aspecto há crentes que pensam que os bens do pastor não são do pastor, mas da Igreja, uma vez que ele conseguiu obter essas coisas com as côngruas pastorais, proveniente dos dízimos. "Eu é que estou pagando isso para ele", dizem maldosamente alguns crentes.

Na mente dessa gente ruim, se o pastor tem carro bom e anda com roupa bonita é porque ele é próspero, materialista ou ladrão; e se o pastor anda a pé, de ônibus, com roupa surrada e sapatos velhos, é porque ele é miserável, mal administrador e não tem fé. Percebe como a visão acerca da prosperidade no ministério pastoral é distorcida na mente de muitos irmãos?

O mesmo ocorre se o pastor almejar ter uma segunda fonte de renda e não depender só da Igreja. Alguns diriam que ele está agindo pela carne, que é materialista e que precisa esperar Deus mandar para ele tudo que ele deseja, por milagre. Para essa gente ou o pastor que ter uma segunda profissão e não depender exclusivamente da Igreja está desejando muito, que pastor não pode ter sonhos, especialmente se forem relacionados a questões materiais. Outros veem essa intenção como sendo a coisa certa a fazer, afinal de contas o pastor não pode ser pesado para a Igreja e chegará um dia em que ele necessitará de certos cuidados na vida, e que portanto ele precisa fazer alguma coisa além de ser pastor para obter isso.

Obviamente essa é uma questão muito complexa e a importância de se observar o que as pessoas dizem ou pensam, até certo ponto, é importante porque é na convivência inter-relacional entre o pastor e a Igreja que acontece a construção da auto-imagem do pastor, que é necessária para o desenvolvimento do ministério pastoral. Mas até que ponto isso é fundamental? Há casos de pastores, por exemplo, que nunca se dedicaram a mais nada exceto ao ministério pastoral, e quando chegaram na terceira idade foram dispensados de suas Igrejas porque já estavam velhos, cansados, e não conseguiam mais desempenhar o ministério como faziam a 30 anos atrás, quando eram bem jovens, e portanto agora não serviam mais para aquele "trabalho". A pergunta é: qual Igreja quer um pastor idoso? Soube de um caso de uma família em que o pastor ficou doente e teve que morar de favor, pois não possuía casa própria e nenhuma Igreja o queria mais. Eu mesmo estou bem ciente que se ficar doente, se sofrer um acidente e ficar impossibilitado de exercer o ministério, serei substituído e terei que me virar para sobreviver e cuidar de minha família. 

Pois bem qual é a percepção das pessoas nesses casos? Geralmente é que o pastor é culpado dessa situação porque não se planejou devidamente, não se preparou para a velhice e as vicissitudes da vida. Mas nem todos os pastores tiveram como se preparar para esse tempo difícil, pois passaram a vida toda cuidando de Igrejas pequenas e problemáticas, enquanto outros pastores pastorearam Igrejas grandes e ricas que lhes davam ótimos salários, bons planos de saúde e pagavam as suas previdências sociais e até uma previdência privada em muitos casos. Há pastores que puderam fazer duas ou três faculdades, deram aulas além de serem pastores, outros advogaram, abriram empresas, tiveram outra história e por isso são chamados de prósperos. Mas será que é assim mesmo?

Crescimento

Fato é que quando uma Igreja cresce a ajuda que o pastor recebe também cresce. Seria esse um fator de observação daquilo que chamamos de prosperidade? Nesse caso o pastor seria qualificado omo bom profissional porque fez a Igreja crescer e por isso é digno de melhores honorários? Mas a Bíblia diz que digno de melhores honorários é aquele que se dedica na Palavra não é mesmo? Porém somos uma sociedade movida a resultados, o chamado "pragmatismo", e certamente essa visão afetou as Igrejas de modo contundente.

Igreja empresa

Se o pastor é comparado a um funcionário, as Igreja seriam comparáveis a empresas? Bem, essa visão está presente nas Igrejas que abraçaram a teologia da prosperidade, e nós condenamos isso com veemência e razão. Mas de certo modo é o que acontece em nosso meio também, de um modo similar quanto aos resultados, ainda que em nossa teologia afirmemos que biblicamente "o Senhor é quem dá o crescimento". Mas se a Igreja não crescer, certamente o pastor será substituído como uma peça defeituosa em uma linha de montagem.

Conclusão 

Nem tudo é o que parece, não somos governados pelas leis do pensamento humano, mas pela Palavra de Deus, que nos dá discernimento. Há muitos crentes prósperos e fiéis a Deus, com riqueza ou sem riqueza, com saúde ou com carência dela, com lares bem estruturados ou com lares abaladas por problemas. A prosperidade não é necessariamente o que se vê, mas o que há dentro da pessoa, a sua comunhão com Deus.

Há pastores que foram lesados por suas igrejas, seja emocional, espiritual e até materialmente. Há Igrejas que veem o pastor como um mero funcionário, e muitas vezes desqualificado por ter feito apenas uma faculdade, ou não conseguir converter as pessoas em dizimistas fiéis e alunos das EBDs. Crentes que não pensam no ministério pastoral como Deus pensa, mas que trazem conceitos do mundo para dizerem quem é e quem não é próspero. A prosperidade procede de Deus e é espiritual acima de tudo, mas o fato é que muitos conceitos da teologia da prosperidade, advindos do pragmatismo, já empestearam a mente e o coração de muitos crentes há muito tempo.

Deus tenha misericórdia de nós!
Soli Deo Gloria!!!

Por: Paulo Sergio Visotcky da Silva.

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