CONSOLAÇÃO (8) AINDA QUE MORRA, VIVERÁ!


Por: Rev. Paulo Sergio da Silva
IPB de Vila Gerti, S.C.Sul / SP
Ofício Fúnebre - Silvério Mercúrio 14.10.13


TEXTO BÁSICO – JOÃO 11:1-45
“Disse-lhe Jesus: Eu Sou a ressurreição e a vida. Quem crê em Mim, ainda que morra, viverá” João 11:25.


INTRODUÇÃO
O Senhor Jesus nos conhece sempre tem compaixão de nós. Ele conhece a dor de perder um ente querido. Ele sabe como é o sofrimento e a dor dessa hora. Conhecendo mais e melhor o Senhor Jesus certamente encontraremos mais confiança no dia da angústia. Conhecemos de fato o Senhor?
 
Quem é Jesus para nós?

EXPLICAÇÃO
Para a compreensão desse texto partimos do princípio teológido da divindade trinitariana de que Jesus é Deus. Como afirma John A.Kohler, teólogo reformado: "Nós cremos que o Senhor Jesus Cristo, como a segunda Pessoa da Deidade Triuna, é Deus, sempre foi Deus, e sempre será Deus. A Bíblia declara explicitamente que Jesus é Deus - Is 9:6; Mt 1:23; Jo 1:1; 20:28; At 20:28; Rm 9:5; Fp 2:6; 1 Tm 3:16; Tt 2:13; Hb 1:8; 1 Jo 5:20."

Será que todos temos consciência de quem é Jesus? Quem é Jesus Cristo para nós? Quem é Jesus para você? Você O conhece como Ele é de fato revelado na Bíblia? No estudo desses atributos de Cristo, faremos “pontes” com a Sua encarnação, e veremos que os Seus atributos estão presentes e se manifestam constantemente em Seu ministério.

ARGUMENTAÇÃO
No texto lido encontramos quatro atributos do Senhor Jesus que provam a Sua divindade e soberania. É importante observarmos que os discípulos e a família enlutada faziam parte daquele grupo de pessoas mais achegadas de Jesus mas que, fica claro que ainda não O conheciam completamente. Todos nós somos medidos e provados em nossa fé e nosso conhecimento da pessoa do Senhor Jesus Cristo e Seus atributos. Através dos eventos pelos quais passamos em nossas vidas, e do modo como reagimos a eles, é que provamos se conhecemos ou não o Senhor Jesus. Os Seus atributos revelam-nos quem Ele É.

Que atributos são esses?

1 – ONISCIÊNCIA, SABEDORIA DE DEUS
"Então, Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu; e por vossa causa Me alegro de que lá não estivesse, para que possais crer; mas vamos ter com ele". João 11:14-15.


Segundo a nossa fé reformada onisciência divina é o conhecimento pleno que Deus tem de Si mesmo e todas as coisas reais e possíveis num ato simples e eterno. Deus conhece plenamente a si mesmo, Seu eterno e infinito Ser (1 Co 2:10-11). O homem não conhece nem a si mesmo de forma plena, quanto mais as coisas mais distantes, mas Deus conhece a Si mesmo de forma completa. Deus conhece todas as coisas que Ele criou (1 Jo 3:20; Dn 2:22). Seu conhecimento não se pode medir (Sl 147:5; Rm 11:33). Deus conhece todas as coisas no universo (Hb 4:13; 2 Cr 16:9; Jó 28:24; Mt 10:29-30). Deus conhece cada recôndito do vastíssimo universo. Ele criou tudo e a Bíblia diz que Ele mede o universo a palmos (Is 40:12; 48:13), para dizer-nos que o Senhor o conhece “como a palma da mão”. Deus conhece até o escondido, que o homem não conhece (Js 7:1-26; Gn 18:12-15). Podemos guardar um segredo de qualquer pessoa, menos de Deus, pois Ele tudo sabe. Ele conhece tudo, totalmente, não parcialmente. Deus conhece tudo sobre tudo.

O texto de João inicia nos dizendo que Lázaro estava enfermo e que quando essa notícia chegou a Jesus ele de imediato disse que a enfermidade não era para morte mas para a glória de Deus (vs 4). Nesse mesmo dia Lázaro morreu, e propositadamente Jesus ficou naquele lugar ainda mais dois dias com seus discípulos quando então ele disse no vs 7: "vamos para a Judéia". Jesus sabia da morte de Lázaro e isso fica muito claro nos versículos lidos, e o Seu desejo era que os discípulos cressem (Jo 11:15).

É muito confortante saber que o Senhor sabe tudo que se passa conosco, maravilhoso é descansarmos na certeza de que nosso Mestre não ignora nossas lutas, mas sabe de nossa dor, nosso sofrimento, nossas lágrimas, e em tudo Ele tem um propósito para no nosso bem e a glória de Deus. Nossa insegurança reside em nosso medo de sermos rejeitados, abandonados, esquecidos; e nosso medo provém da nossa falta de fé. Deus não nos rejeita, não nos ignora jamais. Se verdadeiramente estivermos cientes disso, poderemos descansar na certeza de que Ele está cuidando de nós - Mateus 6:8b "porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais". Para alguns discípulos isso ainda não estava muito claro (Jo 11:8,16) dada a insegurança demonstrada em retornar à Judéia. Parece que para eles Jesus não sabia o que estava fazendo. Mas Jesus é onisciente e jamais seria surpreendido. Alguns exemplos da onisciência de Jesus:

Mc 14:30 "Respondeu-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje, nesta noite, antes que duas vezes cante o galo, tu Me negarás três vezes".
Mc 14:42 "Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima".
João 10:18 "Ninguém a tira de Mim (vida) ; pelo contrário, Eu espontaneamente a dou".
 
Quanto Cristo encarnou-Se, Ele sabia perfeitamente o que estava fazendo; Ele tinha objetivos definidos para vir a este mundo, e nada que aconteceu o surpreendeu, tudo estava dentro de Sua onisciência. Até o fato dEle nascer em uma estrebaria, ter como berço uma manjedoura, ser necessário fugir e ser levado para o Egito, ter sido traído e abandonado por Seus discípulos, a própria Cruz,  não foram elementos que O surpreenderam, tudo saiu conforme planejado.

2 – AMOR, COMPAIXÃO DE DEUS
"Ora, amava Jesus..." João 11:5.
"Jesus, vendo-a chorar, e bem assim os judeus que a acompanhavam, agitou-Se no espírito e comoveu-Se (...) Jesus chorou." João 11:33,35.


A compaixão de Cristo manifesta-se também em Sua presença, Ele não abandona. Talvez não haja dor mais profunda do que a morte de alguém que amamos muito. Diante da morte e seu impacto, nossa fé é colocada a prova; como reagimos diante dela? Glórias a Deus por Jesus, que sabe das nossas dores e sofrimentos e sempre se compadece de nós e vem ao nosso encontro para nos curar e fortalecer. Vemos no vs 5 que Ele amava aquela família e foi ter com Eles no momento mais difícil que eles passavam. É um momento terrível pelo qual os parentes e amigos estão passando, no entanto seria também o momento oportuno de se medir as reações, palavras e atitudes, momento de se demonstrar um pouco mais de fé e segurança no amor e nos desígnios de Deus. Jesus também tem sentimentos, o nosso Senhor não é insensível como muitos pensam, ele sofre e chora ao ver o sofrimento daquele povo, em especial as irmãs de Lázaro.

No texto lido vemos o choro, a agitação e a comoção de Jesus. Seria um erro pensarmos que Ele reagiu assim à morte de Lázaro pois como já vimos no ponto anterior Ele não somente sabia de sua morte há quatro dias antes como programou essa viagem com o intuito de ressuscitá-lo (vs 11). A sua comoção e suas lágrimas eram por ver o sofrimento de suas ovelhas. Mas Ele também sofreu (e sofre) por causa da incredulidade, expressa na reação de alguns que questionavam a Sua ausência no momento da morte de Lázaro, não aceitavam o fato de sua morte, e parece que não acreditavam, ou sequer cogitavam que Ele fosse capaz de ressuscitá-lo. Todo esse despreparo, essa situação constrangedora, essa cobrança, mostram que eles estavam muito angustiados diante de algo tão previsível como a morte. E pior, tais reações provam que eles não acreditavam na divindade do Senhor Jesus, apesar de tantos e tantos sinais eles ainda duvidavam de Sua divindade e Seu senhorio.
Não encontramos no texto pedidos que Jesus lhes aliviasse a dor do sofrimento ou mesmo que se Ele quisesse poderia ressuscitar Lázaro, mas encontramos muita cobrança e dúvidas, em todo o texto. No texto básico encontramos sete demonstrações de dúvida e desconfiança nEle:
 
Jo 11:8 "Disseram-lhe os discípulos: Mestre, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-Te, e voltas para lá?"
Jo 11:16 "Então, Tomé, chamado Dídimo, disse aos condiscípulos: Vamos também nós para morrermos com Ele"
Jo 11:21 "Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se estiveras aqui, não teria morrido meu irmão"
Jo 11:32 "Quando Maria chegou ao lugar onde estava Jesus, ao vê-Lo, lançou-se-lhe aos pés, dizendo: Senhor, se estiveras aqui, meu irmão não teria morrido"
Jo 11:36,37 "Então, disseram os judeus: Vede quanto o amava. Mas alguns objetaram: Não podia Ele, que abriu os olhos ao cego, fazer que este não morresse?"
Jo 11:39 "Então, ordenou Jesus: Tirai a pedra. Disse-lhe Marta, irmã do morto: Senhor, já cheira mal, porque já é de quatro dias"
Jo 11:46 "Outros, porém, foram ter com os fariseus e lhes contaram dos feitos que Jesus realizara".
 
Certamente o Senhor que os conhecia, mas como deve ter sido difícil para Ele saber que apesar de tantos sinais maravilhosos que operara ainda havia dúvidas naqueles corações. Mesmo assim nós O vemos se compadecendo de seus seguidores, chorando, agitando-se, comovendo-se, mas não os abandonou em suas fraquezas, amou-os até o fim com um amor inabalável.

Quando encarnou-Se Jesus deu a maior prova do maior amor: Ele veio para nos salvar. O amor e a compaixão de Jesus são inexplicáveis, não temos como entender tal sentimento e ação do Senhor, pois Ele deixou o conforto e a segurança do Céu, as maravilhas celestiais, o trono ao lado do Pai, e veio para nascer homem, correr riscos, ser humilhado, perseguido, caluniado, traído, abandonado, blasfemado, torturado, morto e sepultado. Ele veio para carregar sobre Si a nossa culpa. Essa é a grandiosa prova de amor que Cristo dá a todo homem, pois o mundo mudou completamente após a Sua vinda. Ele dividiu a história em duas partes, antes e depois dEle. E só desfrutarão das bênçãos de Seu amor aqueles que verdadeiramente crêem nEle. (Ver Jo 3:16 e Fp 2:5-8).

3 – ONIPOTÊNCIA, ESPERANÇA EM DEUS
"Disse-lhe Jesus: Eu Sou a ressurreição e a vida. Quem crê em Mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em Mim não morrerá, eternamente." João 11:25-26a.

A soberania de Cristo e Sua onipotência foram reveladas de diversas maneiras em Seu ministério terreno. A Sua encarnação e vitória sobre a morte revelam cabalmente o Seu poder. Ele venceu os dois tipos de morte, física e espiritual.

3.1 – Vitória sobre a morte espiritual
O Senhor nos dá a resposta acerca da vida e da morte eterna. O problema em questão naquela circunstância não é somente se Lázaro ia ou não ser ressuscitado, isso o Senhor já tinha por decidido (vs 11,15), a questão da qual Ele está falando é da eternidade. Ora se Marta cria em Suas palavras então por que todo aquele desespero? Notemos que a resposta dela no vs 27 foi evaziva, ou seja, ela não respondeu aquilo que o Senhor lhe perguntou: "Sim, Senhor, respondeu ela, eu tenho crido que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo". Notemos também o que ela disse no vs 39 quando Jesus mandou que retirassem a pedra: "Senhor, já cheira mal, porque já é de quatro dias" era como se ela dissesse: "não tem mais jeito". Mas o Senhor também não a condenou por isso, como vimos no ponto anterior Ele é compassivo. No entanto Ele expressou aqui verbalmente a Sua onipotência pois quem é que tem poder sobre a própria morte senão o próprio Deus? Observemos a Sua onipotência também no fato de que Ele ainda não havia morrido e ressuscitado e no entanto afirma categoricamente acerca de Sua vitória sobre a morte e de todo aquele que vive e crê nEle - "não morrerá eternamente". Talvez fosse o momento de todos ali celebrarem a vida eterna em louvores a Jesus, no entanto como já vimos tudo que fizeram foi questioná-Lo.

3.2 – Vitória sobre a morte física
Essas manifestações de incredulidade não O impediu de ressuscitar Lázaro conforme Ele mesmo tinha planejado. Nada pode deter os planos do Senhor. Vivemos dias em que o homem está cada vez mais sendo elevado a uma posição que ele não tem. A maioria das igrejas dá um enfoque exagerado na fé como um pré-requisito indispensável à ação de Deus e ignoram o fato de que o nosso Deus é soberano, ou seja, Ele faz o que Ele quiser e do jeito que Ele quiser e nada nem ninguém pode detê-Lo. Devemos crer sim, mas não no intuito de cobrar ou querer exigir algo de Deus e sim para permanecermos fiéis a Ele em toda e qualquer situação, mesmo que a Sua resposta não seja exatamente o que estamos esperando. Do mesmo modo que Jesus ressuscitou Lázaro poderia não tê-lo feito e não deixaria de ser quem Ele é. Jesus não curou todas as pessoas, não ressuscitou todas as pessoas... É um terrível erro pensar que Deus só age através da fé e quando ela se manifesta. A prova está exatamente aqui, quando ninguém mais acreditava o Senhor Jesus ressuscitou Lázaro já em decomposição.

Cristo manifestou Sua onipotência e soberania de diversos modos e Seu ministério terreno (curando, libertando, salvando e ressuscitando). Mas existe um problema que ser nenhum em todo o universo pode solucionar, senão Ele: a morte. Os homens podem gastar verdadeiros rios de dinheiro para cuidar de sua saúde, mas um dia a morte vem. Os cientistas podem descobrir dezenas de medicamentos e tratamentos para as mais variadas moléstias, mas um dia a morte vem. Jesus veio e destruiu o poder da morte, ao se encarnar Ele veio para realizar a Sua gloriosa obra que culminou com a Sua morte e ressurreição. Toda a Sua obra prova a Sua onipotência e soberania.

CONCLUSÃO

“Crês isto?" João 11:26b.

O Senhor nos desafia a crermos nEle, e em Suas benditas Palavras. A hora do enfrentamento da morte, é também um momento de reflexão onde a nossa fé é fortalecida e confirmada. Ele nos ajuda, mas nós temos que acreditar nEle, exercitando dia após dia a nossa fé. Jesus é Senhor, e por isso exige a nossa responsabilidade. O que não podemos fazer, Ele fará se for da Sua vontade. O que podemos fazer Ele não fará por nós.

Jo 11:39 "Então, ordenou Jesus: Tirai a pedra";
Jo 11:44 "Desatai-o e deixai-o ir";
Jo 11:40 "Respondeu-lhe Jesus: Não te disse Eu que, se creres, verás a glória de Deus?"

Na hora do enfrentamento da morte de entes queridos, parentes, irmãos em Cristo; na hora do enfrentamento de nossa própria morte, devemos nos apegar nEle, confiando que Ele não muda, que seus atributos manifestam-Se plenamente em nossa jornada, porque Ele está conosco.

Que nosso temor seja revelado em nossas atitudes, especialmente na hora da dor, sabendo que Ele não nos ignora, mas sabe de tudo que passamos. Que nossa convicção no amor de Deus se fortaleça, pois ele Se compadece de nós e vem nos confortar. Que nossa fé uma vez provada diante das circunstâncias pelas quais passamos, cresça na certeza de que temos uma esperança, a esperança da vida eterna. Que sejamos edificados no conhecimento dEle, sempre crendo e glorificando o Seu precioso nome.

Material de apoio:
GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 1999.
CAMPOS, Heber Carlos de. O Ser de Deus e Seus Atributos. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.
ABA - A Bíblia Anotada (Mundo Cristão)
BEG - Bíblia de Estudo de Genebra (ECC/SBB).


SDG – A DEUS TODA GLORIA!!!

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