A Fuga da Mediocridade


“Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” Romanos 7:24.

Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), nos anos de Barcelona, em 1928, afirmou aos jovens em uma palestra: 

“O cristianismo oculta em si um gérmen à Igreja”.

Esse pensamento pode nos soar quase que herético, porque parece que anula e combate o valor da Igreja. Contudo não foi isso que a última vítima de Hitler quis dizer. Antes, mostra que apesar de que a vivência religiosa pode colaborar para uma autêntica vida cristã, também pode oferecer os subsídios que falsos crentes se utilizam para mascarar suas mais terríveis mazelas, em um cristianismo artificial e legalista.

Sem dúvida, a Igreja como agência do Céu, tem um papel fundamental na formação do crente, contudo os fariseus, o “eu” de Rm 7:14-25, e o jovem rico de Lc 18:18-30, sabem que todo o tesouro que a Igreja pode oferecer, separado de um coração regenerado e sincero, é desperdiçado pela vaidade e desejo de glórias humanas (veja Lc 18: 10-14,23; Rm 7:24). Dessa maneira, vemos uma tendência à mediocridade no nosso sistema religioso que só pode ser combatida pela Palavra pregada e vivida com fidelidade, o que chamamos de Reforma.

A mediocridade é a busca pelo mediano, pelo meramente satisfatório. Se essa fosse a têmpera dos mártires, eles teriam dado a vida pelo Evangelho? Tampouco lhes seria requisitado o sangue, porque o cristão medíocre prima por não viver o Evangelho além das paredes da Igreja, e por isso não causa grande impacto, nem destoa tanto assim do mundo ao seu redor.

Esse degenerativo estado de mediocridade leva àquilo que Bonhoeffer chamou de “graça barata”, ou seja, qualquer obediência que esteja aquém daquela que deve ser dada só a Deus. O crente, nesse estado de letargia espiritual, esquece-se do imperativo que Jesus lhe deu: “Ide e fazei discípulos” (Mt 28:19) e só desperta desse vil torpor acordado pela “teologia do martelo”, ou seja, quando os princípios da Palavra são evidenciados e exigem uma postura radical. Um cristão letárgico e entocado em convicções medianas e legalistas, provavelmente em um primeiro momento, pode entender a fiel exposição da Palavra como um acinte, mas todo aquele que é acordado repentinamente só não fica irritado se os motivos que o levaram a despertar são justificados. O mundo urge pela pregação genuína.

Portanto, apesar de muitos crentes decantarem nos momentos calmos a regiões medíocres de cristianismo, contudo esse conforto pode esconder uma falsa piedade cheia de ritos e regras, mas sem o coração contrito e compungido. 

“O silêncio diante do mal, é o próprio mal.” (D.Bonhoeffer).

Por: Diego José Gonçalves Dias.

Dietrich Bonhoeffer, nascido em 1906 em Breslau, Polônia, foi um teólogo e pastor luterano, membro da Resistência Alemã Anti-nazista e fundador da Igreja Confessante, ala da Igreja Evangélica contrária ao nazismo naquele período, pelo qual foi morto por enforcamento em 1945.


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