TESTADOS, PORÉM ENCORAJADOS


Por: Ana Rosa da Silva Siqueira

"Filhinhos, eu vos escrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por causa do Seu nome. Pais, eu vos escrevo, porque conheceis aquEle que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevo, porque tendes vencido o maligno. Filhinhos, eu vos escrevi, porque conheceis o Pai. Pais, eu vos escrevi, porque conheceis aquEle que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a Palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o maligno." 1 João 2:12-14.

Introdução

Quem escreveu a carta? O autor certamente é um dos Apóstolos. Podemos ver assim, pois o autor se apresenta com as marcas características de um Apóstolo de Cristo: declara-se testemunha da ressurreição do Senhor e intérprete autorizado por Ele para transmitir o significado da vinda, encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus (1:1-3). Ele escreve com autoridade (2:1,7); denuncia o erro com firmeza (1:6,8); prescreve mandamentos (2:15); assevera firmemente (3:14). Tudo isso é o que se esperaria de um Apóstolo ao escrever uma carta.

A quem foi escrita? Escreveu a crentes (3:1), não sabemos onde moravam, nem se eram judeus ou gentios. O fato dele não mencionar qualquer pessoa pelo nome (contrastando com 2 e 3 João), sugere que pode ter sido uma carta circular, ou seja, não à uma só Igreja, mas para várias Igrejas de uma determinada região, a qual deveria ser lida e obedecida por todos que a ouvissem. Alguns acreditam que João escreveu às Igrejas da Ásia (moderna Turquia), talvez às mesmas para as quais enviaria, mais tarde, o Livro do Apocalipse.

Por que escreveu a carta? A carta indica que João queria combater falsos ensinamentos que ameaçavam a fé e a certeza dos crentes. Tudo indica que alguns pregadores, antes cristãos e que abandonaram a sã doutrina e saíram das Igrejas Cristãs, estavam espalhando uma forma de “cristianismo” que João repudiava (2:19), e identifica-os como “anti-cristos”. Eles negavam que Jesus É o Cristo e que Ele havia vindo em carne. Aparentemente eram pregadores ambulantes, prática comum naquele tempo: eles saiam pelo mundo afora procurando enganar as pessoas, tentando implantar seus ensinos nas Igrejas Cristãs. Eles pregavam uma heresia conhecida por gnosticismo, onde sua doutrina central diz que o espírito é totalmente bom e a matéria totalmente má; e de acordo com o gnosticismo a salvação consiste em a alma fugir da prisão que é o corpo, e isto se consegue por meio de um conhecimento secreto e especial. A palavra grega para conhecimento é “gnosis”, de onde surgiu gnosticismo. Por isso negavam a verdadeira humanidade de Cristo, ensinando que Jesus não teve um corpo real e concreto, mas apenas uma aparência de corpo. Por outro lado, a plena divindade de Jesus também era negada, ensinando que o Cristo divino se juntou ao Jesus humano por ocasião do batismo, e o deixou antes da morte na Cruz, negando assim a Sua plena divindade.

João se preocupou em expor os erros doutrinários dos falsos mestres, e onfirmar aos verdadeiros crentes a doutrina dos Apóstolos e a certeza da salvação. Como ele fez isso? Através dessas palavras...

1 - "Filhinhos, eu vos escrevo, porque os vossos pecados são perdoados, por causa do Seu nome" (2:12) 

“Filhinhos” - João os trata assim apontando para o fato de que os cristãos foram perdoados e feitos filhos de Deus, recebendo esse tratamento afetuoso do Apóstolo, que também era seu pai na fé.

“Eu vos escrevo” - escrever é um dos verbos prediletos de João nessa carta. Ele o usa 13 vezes ("escrevo" no tempo presente, ou "escrevi" passado).

“Porque os vossos pecados são perdoados, por causa do Seu nome” - esse é o primeiro motivo da carta. João tem a certeza de que eles foram perdoados e recebidos como filhos de Deus mediante Jesus Cristo. Seu alvo é assegurá-los desse perdão diante da confusão que certamente acontecia mediante os errados ensinamentos dos falsos mestres. A causa do perdão é deixada clara: não um conhecimento esotérico e secreto, disponível a uns poucos iluminados, mas o nome de Jesus, conforme o ensino dos apóstolos (At 4:10,12). Ele não ensina que há um poder mágico no nome de Jesus. O nome de uma pessoa, se refere à própria pessoa, assim o perdão de pecados é concedido por causa do nome de Jesus, isto é, por causa do próprio Jesus.

2. "Pais, eu vos escrevo, porque conheceis aquEle que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevo, porque tendes vencido o maligno" (2:13)

“Pais” - quando ele se refere aos pais e aos jovens, está se referindo a toda a Igreja, a todos os crentes. Ou seja, esses três grupos na realidade são um único grupo: os cristãos das Igrejas da Ásia, a quem ele escreveu. “A bênção do perdão é comum a todos os filhos de Deus de diferentes idades.” (J.Gill)
“Eu vos escrevo, porque conheceis aquEle que existe desde o princípio” - como pais, eles tinham conhecimento de Deus e estavam prontos para transmiti-lo às gerações seguintes. Disso João estava certo e escreve essa carta para fortalecê-los nesse ponto. O Deus de João existe desde o principio, em contraste com o deus limitado do gnosticismo. E mesmo assim Ele Se revelou e pode ser conhecido por seres humanos pecadores. É esse conhecimento de Deus que traz a libertação da alma e a vida eterna, não a gnose (conhecimento) dos falsos mestres.
“Jovens, eu vos escrevo, porque tendes vencido o maligno” - ele os chama de jovens, pois como jovens fortes e valentes, eles têm vencido o diabo, e a vitória dos crentes sobre o mal consiste em diversos pontos: 

  • Eles não vivem mais na prática do pecado, que é característica dos filhos do diabo (3:8).
  • Eles não são mais do maligno, como Caim que odiava seu irmão e acabou matando-o (3:12).
  • Eles foram libertados do domínio e do poder que o maligno exerce sobre o mundo (5:19). Tal vitória foi concedida mediante Jesus Cristo e não mediante a gnose.

3. "Filhinhos, eu vos escrevi, porque conheceis o Pai. Pais, eu vos escrevi, porque conheceis aquEle que existe desde o princípio. Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a Palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o maligno" (2:14)

Neste verso, João reúne o que já havia dito anteriormente aos “filhinhos”, “pais” e “jovens”. A diferença é que ele atribui o conhecimento do Pai aos “filhinhos”. Os filhos de Deus certamente conhecem seu Pai, se não exaustivamente, por certo suficientemente. E é nesse conhecimento que reside a verdadeira filiação divina, e não na gnose dos falsos mestres. Ele também acrescenta a causa pela qual os jovens fortes têm vencido o maligno: a permanência da Palavra de Deus neles. Esse é o último motivo pelo qual João lhes escreve. A sua fortaleza era espiritual e resultava da habitação da Palavra de Deus neles. A expressão “Palavra de Deus” refere-se não somente às Escrituras do A.T. (Jo 10:35), mas tb às Palavras do próprio Senhor Jesus (Jo 8:31 e 15:7) e à mensagem apostólica (1 Ts 2:13). Esta Palavra permanecia naqueles crentes, pois não haviam abandonado a Verdade do Evangelho, nem seguido a mentira dos falsos mestres. A Palavra de Deus os tornara fortes e prontos para resistir. João encoraja os crentes da Ásia reafirmando a sua certeza de que estavam de fato, na Verdade do Evangelho.

APLICAÇÕES

Não devemos desanimar quando formos testados e provados pelos padrões e critérios da Palavra de Deus e percebermos que fomos reprovados. Se formos crentes verdadeiros, despertaremos para nos corrigirmos e nos dedicarmos a uma vida mais santa e devotada ao serviço de Cristo.

Um dos maiores encorajamentos que podemos receber em tempos de desânimo é rever aqueles pontos básicos e fundamentais de nossa posição, quando nós lembramos que conhecemos a Deus, que nossos pecados foram perdoados, que vencemos o maligno e que a Palavra de Deus está em nós, recobramos as forças para continuar, apesar das dificuldades.

O Evangelho nos concede tudo que precisamos para viver de forma agradável a Deus neste mundo e para sermos felizes: perdão, conhecimento de Deus, firmeza e vitória. Membros professos de Igrejas Cristãs que abandonam o Evangelho em busca de outros ensinamentos, nunca realmente experimentaram essas coisas durante o tempo em que estiveram na Igreja.

Examinemos nosso coração!

3ª IPB de Barretos / SP, Reunião Departamental SAF 07/2008.
Extraído e adaptado de "Interpretando o Novo Testamento, Primeira Carta de João", Editora Cultura Cristã.

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