A IGREJA E MISSÕES - KONKOMBAS, UM BREVE HISTÓRICO

Por: Rev. Ronaldo Lidório

Os Konkombas formam uma nação tribal que habita o nordeste de Gana, noroeste africano, onde são faladas 8 principais idiomas subdivididos em 23 dialetos. Todas estas etnias são denominadas pelo governo de Gana como “Konkombas” e algumas outras como “Kombas”, sendo porém estes nomes alienígenas às próprias tribos.

Desde 1994 estamos envolvidos no propósito de alcançar um ramo da tribo Konkomba, que se entitulam Bimonkpelns (ou “homens que vivem”), na região de Koni ao nordeste de Gana. Juntamente com minha esposa Rossana fomos enviados para esta parte do continente africano pela APMT (Agência Presbiteriana de Missões Transculturais) da Igreja Presbiteriana do Brasil em parceria com a A Missão de Evangelizacao Mundial – AMEM.

Após 16 meses entre eles e com apenas 12 convertidos, o Senhor moveu a Sua mão e hoje presenciamos um verdadeiro derramar do Espírito em uma crescente Igreja onde mais de 3.500 crentes pagam a cada dia um alto preço para seguir a Jesus. São homens, mulheres e crianças comprometidos com o Senhorio de Cristo.
 

O rápido crescimento da Igreja Konkomba na região de Koni está impactando a cultura, acuando os feiticeiros, transformando a sociedade tribal nos moldes do evangelho e enviando evangelistas nativos para novas áreas. Estou convicto que o Senhor, na eternidade, chamou este povo para ser bênção entre muitos povos.

ÁREAS DE ATUAÇÃO
 

1. Plantio de Igrejas
Desde 1995 temos presenciado um rápido crescimento na Igreja Konkomba a partir de uma profunda consciência evangelística que apoderou-se dos primeiros crentes logo após a nossa chegada. Na última reunião de presbíteros em outubro de 2000 pudemos contabilizamos 17 igrejas já plantadas com mais de 3.500 membros adultos.
 

Até o momento pudemos treinar biblicamente 5 evangelistas (Labuer, Iagorá, Nprompir, Katal e Kimana) além de 30 presbíteros. Outros 60 líderes estão em treinamento através de cursos de Vida Cristã que temos ministrado juntamente com os evangelistas.
 


As igrejas plantadas são:
Koni Nabukorá Molan Kadjokorá Jimoni Nbobo Ipoalim Sakoni Bunache Borla Sibru Katan Naandigoon Jimbo Ketiman Sabol Koniuba

2. Tradução do Novo Testamento
Como mencionamos antes os Konkombas formam uma nação tribal e portanto uma aglomeração étnica onde o alcance de uma destas etnias não pressupõe o alcance de todas. A primeira língua que recebeu o Novo Testamento foi o Lichabol traduzido pela missionária Mary Steele da SIL tendo completado recentemente toda a tradução da Bíblia.
 

Desde nossa chegada em 1994 começamos um trabalho pioneiro com um outro grupo até então ágrafo que se denomina Bimonkpeln, ou “homens que vivem” e logo após o nascer da Igreja entre eles tomamos consciência da necessidade também da tradução da Palavra.
 

Iniciamos o trabalho linguístico a partir da estrutura fonética, composição da gramática Bimonkpeln e publicação de um pequeno dicionário. Logo após terminamos as cartilhas para alfabetização através das quais podemos contabilizar hoje mais de 500 adultos já alfabetizados na língua materna. Depois destas etapas vencidas demos início à tradução do Novo Testamento e pela graça de Deus pudemos terminar o livro de Apocalipse em Fevereiro de 2001, completando assim todo o Novo Testamento, o que nos trouxe grande alegria.
 

Temos portanto todo o Novo Testamento traduzido para o Limonkpeln, uma das línguas Konkombas. O próximo passo será digitar todo este material, começar o processo de correção e depois finalmente a impressão do Novo Testamento.
 

Para nutrir a igreja temporariamente já foram impressos os livros de Mateus, Atos e Romanos e vemos que os mesmos tem criado um grande impacto em todas as igrejas além de motivar mais Konkombas a aprender a ler o próprio dialeto. É impressionante ver os frutos da tradução da Palavra de Deus na língua materna. A Igreja tem crescido e amadurecido. É também muito comum vermos homens e mulheres recitando versículos bíblicos enquanto vão trabalhar na roça ou buscar água no rio. A Igreja cresce com a Palavra.

PROJETO DE TRADUÇÃO DO NOVO TESTAMENTO LIMONKPELN  Projeto: Tradução do Novo Testamento para o dialeto Limonkpeln
Língua alvo: Limonkpeln, segundo dialeto Konkomba
País: Gana, oeste africano
Grupo: Bimonkpeln – nordeste de Gana e noroeste do Togo
Tradutor responsavel: Ronaldo Lidório 

Supervisora do projeto: Anne Heath, Diretora da WEC em Gana  
Revisor responsável: Winston Binabiba (GIL Ghana)
Consultores: Wisdom Bulon, Mary Steele, Winston Binabiba, Conrad Dueck
Agências responsáveis: WEC / APMT.

3. A Clínica em Koni
A Clínica estabelecida por Rossana em Koni tem sido um marco de testemunho entre os Konkombas e tivemos a alegria de inaugurar as novas instalações no dia 1º de Outubro/2000 onde mais de 1000 crentes vieram de todas as nossas igrejas.

Além de Makanda, um dos nossos prebíteros treinado por Rossana como auxiliar de enfermagem, terminamos o treinamento de Imá, um outro jovem que tem demonstrado bastante habilidade na área de saúde. Cremos que os dois estão prontos para fazer a clínica funcionar mesmo na nossa ausência.

Mais de 400 pessoas são atendidas a cada mês e agora temos condições de também tratar picadas de cobra, tifóide, cegueira do rio e muitas outras enfermidades que não cobríamos antes. Louvado seja Deus.

4. Escolas: Koni e Molan
As duas escolas plantadas entre os Konkombas vão muito bem. Contamos com três professores treinados na própria tribo e mais de 220 crianças divididas em 6 classes do curso primário. Este é um projeto que, apesar de causar pequeno impacto a curto prazo, será estratégico para o crescimento e expansão da Igreja entre os Konkombas em um futuro próximo. Louvamos a Deus pelos professores que treinamos ao longo destes anos que tem tomado estre ministério como prioridade em suas vidas.

O objetivo do projeto escolar é preparar a nova geração Konkomba Bimonkpeln para o inevitável encontro com a cultura ganense externa.

SINAIS DO DERRAMAR DO ESPÍRITO NO NASCER DA IGREJA

Alguns sinais marcaram e marcam ao nosso ver um forte mover do Espírito nestes primeiros anos do nascer da Igreja entre os Konkombas. Citarei abaixo algumas evidências que creio serem principais.

1. Centralização da Palavra
Há uma forte ênfase e sêde da Palavra de Deus mesmo num contexto onde a escrita ainda está sendo ensinado lentamente a pequenos grupos. Entretanto o povo desenvolveu alguns costumes afim de guardarem a Palavra no coração.

Certa semana todos memorizaram por exemplo Mateus 14:34-36 e gostavam especialmente da parte final “e todos os que tocaram ficaram sãos”. Mulheres repetiam incessantemente este pequeno texto a caminho do rio quando iam buscar água, outros durante o trabalho nas plantações e as crianças ao brincarem embaixo das árvores. Várias pessoas que moravam em aldeias distantes, ao esquecerem parte do texto que memorizaram naquela semana, viajavam milhas até o crente mais próximo afim de perguntarer-lhe: “como é mesmo esta parte?”. Também compunham músicas cantando os versos bíblicos para que não se esquecessem.

Muitos começaram a se interessar pela escrita e até o momento mais de 300 adultos já conseguem ler e escrever na língua materna, e durante as noites sentam-se em círculos ao redor de uma pequena fogueira para ouvirem os “leitores” (lendo) porções da Palavra. Assim que começamos a alfabetizá-los, desenvolverem a estratégia de escreverem a Palavra em todos os lugares: vasos, paredes, árvores etc “para não nos esquecermos das lei do Senhor”. Este amor à Palavra, centralizando as Escrituras na vida da Igreja mostra para nós um grande indício do mover do Espírito entre os Konkombas.

2. Intensa paixão por Jesus
Nos dois primeiros anos do nascer da Igreja entre os Konkombas houve um período de perseguição aos recém convertidos por parte dos feiticeiros locais como também das famílias. Muitos como Gbaba, Tinaa e Malaanyin chegaram a ser expulsos do “compound” paterno e outros como Kofii e Akuia foram expulsos de suas aldeias vindo a se refugiar em Molan onde a igreja já se fortalecia. Akuia por três semanas foi literalmente enjaulada por seus pais sob o incentivo do feiticeiro local em Jimoni, afim de negar que se tornara uma “Yesu Aanonoliib” – seguidora de Jesus. Muitos perderam direitos a terras e plantações e algumas mulheres foram ameaçadas pelos maridos. Alguns líderes eram ameaçados de morte e envenenamento. O prebítero Mebá sofreu tentativa de envenenamento por três vezes e na última chegou a beber da água envenenada adoecendo profundamente.

Entretanto uma contagiante alegria corria pelo sangue de cada crente. Júbilo e Adoração eram as marcas de cada culto e uma tremenda paixão por Jesus era manifesta nas vidas dos salvos. Víamos algo que nos edificava profundamente: um desejo irrestrito de seguir a Jesus. Dezenas de músicas eram feitas expressando o que sentiam pelo Mestre e muitos títulos foram dados a Ele: Senhor da vida; Fonte de alegria; Caminho a seguir; Motivo de viver; Deus que veio; Cordeiro entre nós; Querido Senhor; Amor; Esperança que não cessa; Vitorioso; Vencedor do pecado e morte; Filho como nós; Deus.

3. Forte motivação evangelística
Quase que automaticamente os recém-convertidos lançavam-se na tarefa de compartilhar a respeito da salvação em Jesus Cristo. Kidiik era tão eufórico em seu testemunho que evitávamos que falasse em público prevendo uma forte oposição fetichista. Mebá alimentava a Igreja com seu entusiasmo e ardor evangelístico onde frequentemente reuníamos embaixo de diferentes árovres em locais estratégicos as aldeias afim de impactar o povo com a mensagem do Evagenlho. A Igreja movia-se, andava longas distâncias e sacrificava-se muitas vezes para que, como afirmava claramente uma das músicas compostas na igreja em Koni: “todos Konkombas possam, ao menos uma vez, ouvir que há salvação na pessoa de Jesus / Ele é o Filho de Deus / Seu sacrifício nos salvou / Espírito que causa arrependimento vem / Mexe em todos os corações / A Igreja não para, é hora de chamar”.

Muitos exemplos da audácia evangelística dos crentes Konkombas poderiam ser compartilhados entretanto gostaria de falar a respeito de Tibala. Era um jovem de cerca de 20 anos, alto e forte, de um temperamento compenetrado. Morava as margens do rio Molan, nas imediações de Koni. Quando converteu-se, sendo o primeiro do seu clã a vir a Jesus, sofreu toda sorte de perseguições familiares perdendo o direito de plantar, a futura esposa que já havia sido lhe prometida, toda e qualquer ajuda de seus irmãos em alguma necessidade. Frequentemente o feiticeiro da aldeia visitava-o afim de rogar-lhe maldicoes e nós temíamoms por sua fé pois vivia só como crente naquela área e sabíamos que seria tremendamente pressionado. Entre a casa de Tibala e Koni havia a “timor usori” – “floresta sagrada” – que na verdade não passa de um círculo de árvores altas e eretas as quais tem em seu meio um altar feito por tres pedras o qual era o maior e mais temido marco fetichista em Koni. Ali era vetada a entrada de qualquer um a não ser o feiticeiro da aldeia e seus ajudantes. Aqueles que assistiam os sacrifícios permaneciam no exterior do círculo. Também a terra no interior era considerada sagrada e servia tanto para proteger quando colocada em pequenas bolsinhas feitas de couro as quais poderiam ser penduradas ao pescoço ou amarradas no pulso, como para amaldiçoar, se jogada contra a entrada de alguma palhoça.

Tibala assumiu a liderança do louvor da igreja e certo dia, para nossa surpresa, correu um rumor de que havia passado pelo meio do “timor usori” quando retornava após um culto a noite, causando a ira dos fetichistas. Fomos até seu ‘compound’ e ali ele, sentdado tranquilamente em um ambiente visivelmente tenso falou:

“Como salvos em Cristo precisamos falar de Jesus aos nossos até que entendam, e muitos se convertam. Entretanto eu sei que muitos evitam até mesmo ouvir sobre Jesus com receito dos fetiches e assim durante o culto pensei: qual melhor maneira de manifestar que Jesus é maior que os fetiches do que mostrar que até mesmo a “timor usori” é menor que Jesus ?”

Aconselhamos, em vão, que não repetisse a experiência entretanto Tibala passou a cruzar a “timor usori” a cada ida e volta à igreja mesmo sob ataque da família, ameaças do feiticeiro e até do chefe da aldeia. Após duas semanas ele havia criado uma verdadeira trilha de acesso entre seu compound proximo ao rio e a igreja em Koni a qual passava exatamente pelo meio das árvores sagradas. Nada lhe aconteceu e após 1 mês outros crentes passaram a usar a mesma trilha sob a desculpa de que era uma linha direta entre a aldeia e o rio. As árovres sagradas perderam o poder ameaçador e Tibala não morreu como anunciou o feiticeiro o que levou várias pessoas, especialmente do seu clã, a disporem-se a ouvir do Evangelho. Entre as crianças corria um provérbio que literalmente seria algo como: “O Jesus de Tibala / despreocupadamente / não receia a floresta sagrada / forte Ele é”.

O ardor evangelístico da Igreja não se restringia a anunciar a Palavra àqueles que desejavam ouvi-la. Era preciso frequentemente conte-los para que não ultrapassassem os limites no afã de anunciarem forçosamente a Palavra também àqueles que, receiosos, não desejavam ouvi-la.

Algo eu podia perceber entre aquela Igreja. Ela nascera com uma vocação para se expandir. Com certeza alcançaria Konkombas em regiões das quais nunca ouvimos falar. Até aquele momento, Dezembro de 1997, críamos que mais de 200.000 Konkombas haviam direta ou indiretamente ouvido a respeito de Jesus, e a Igreja contava com 1500 membros adultos.


Assista aqui ao vídeo com imagens desse abençoado trabalho missionário.
Fonte Ronaldo & Rossana Lidório.

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